Todo cristão ou cristã é
chamado ou chamada a ser radicalmente
ser humano. Ora, enquanto estamos no mundo - no tempo e no espaço - podemos crescer sempre na vivência do humano. Nunca serenos
humanos ou humanas demais, nunca exageraremos em ser humanos ou humanas.
"Todo
aquele que segue Cristo, o Homem perfeito, torna-se ele também mais ser
humano" (GS 41). "A fé esclarece todas as coisas com luz
nova. Manifesta o plano divino sobre a vocação integral do ser humano. E, por
isso, orienta a mente para soluções plenamente humanas" (GS 11).
No seguimento de Jesus de
Nazaré, a radicalidade humana pode
ser vivida de muitas maneiras, conforme os carismas
(dons) e ministérios (serviços) de
cada um e de cada uma.
Em nossa Igreja Católica, um
dos caminhos para viver essa radicalidade é a chamada “Vida Religiosa
Consagrada”: “Religiosos” - que em sua maioria são também Ministros ordenados -
e “Religiosas” das diversas Ordens, Congregações e Institutos.
Permito-me, agora, fazer alguns questionamentos a respeito dessa
terminologia comumente aceita.
Os que, “Religiosos” e “Religiosas”,
pertencemos à chamada “Vida Religiosa Consagrada”, não temos o direito de nos
apropriar dessas palavras.
Todo
ser humano que pratica uma religião é “religioso ou religiosa”, ou seja, tem
“vida religiosa”. E ainda: todo cristão ou cristã, batizado ou batizada é “consagrado” ou “consagrada”,
ou seja, tem “vida religiosa consagrada”.
Aliás, nós ensinamos que o Batismo é a
consagração fundamental, que nos
torna seguidores e seguidoras de
Jesus de Nazaré, continuadores e
continuadoras de sua missão no mundo.
Lamentavelmente (como já
disse em outras ocasiões), no decorrer da história, criamos uma Igreja com estrutura social de três classes: Hierarquia, Vida Religiosa Consagrada e
Laicato.
Precisamos voltar ao Evangelho
e acabar com as classes para sermos uma
Igreja somente de irmãos e irmãs,
como eram as primeiras Comunidades cristãs.
Com isso, não quero dizer
que devemos uniformizar tudo. Ao contrário! É justamente numa Igreja de irmãos e irmãs que temos
condições de apreciar o valor e a beleza
da imensa variedade e diversidade dos carismas
(dons) e dos ministérios
(serviços), que o Espírito Santo (o Deus Amor) suscita na Igreja. Um dos
carismas - que devemos valorizar - é justamente
a “Vida Cristã de Particular Consagração”,
em resposta a um chamado pessoal de Deus
(o novo nome que sugiro para a chamada “Vida Religiosa Consagrada”). Esse “carisma” é um caminho - entre
outros - para viver a radicalidade da consagração
batismal: “projeto de vida cristã radical”. Ele se desdobra em dois carismas: um comum à toda “Vida Cristã de Particular Consagração” e outro próprio de cada Ordem, Congregação ou
Instituto.
Na Igreja, o “projeto de vida cristã radical” pode
ser assumido publicamente ou em caráter particular, mas sempre na comunhão eclesial.
Acredito que - se formos uma
Igreja de irmãos e irmãs realmente comprometida com o Projeto de Jesus no mundo
de hoje, que é o seu Reino, Deus suscitará novas formas de “Vida Cristã de Particular Consagração” e muitas pessoas - das
mais diversas formas - farão a experiência do chamado de Deus para viverem o “projeto de vida cristã radical”, por
amor aos irmãos e às irmãs a partir dos Pobres.
Considerando a nossa
realidade sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religiosa, Deus poderá,
por exemplo, chamar trabalhadores e trabalhadoras para seguirem
mais de perto Jesus de Nazaré - que também foi trabalhador (carpinteiro) -
assumindo o “projeto de vida cristã
radical” a serviço dos companheiros e companheiras: nos Movimentos Sociais Populares, nos
Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, nos Partidos Políticos Populares e
nos Comitês ou Fóruns de Defesa dos Direitos Humanos e da Irmã Mãe Terra Nossa
Casa Comum.
Esses Trabalhadores e Trabalhadoras
continuarão vivendo com seus familiares ou - se for por opção deles e delas - em
pequenos grupos de base (grupos de vivência). Pessoalmente peço a Deus que nos
dê essa graça. Na Igreja e na sociedade atual precisamos muito disso.
Por fim, se ser cristão ou cristã é ser radicalmente ser humano, ser radicalmente cristão ou cristã (vivendo
o “projeto de vida cristã radical”) é
ser radicalmente ser humano em dobro, com tudo o que isso significa.
“Deus é Amor. Todo aquele/aquela
que permanece no Amor permanece em Deus, e Deus nele/nela” (1 Jo 4,16).
Estamos
no tempo pascal. Que a Páscoa seja para nós cristãos e cristãs uma
realidade de todo dia: Passagem para uma vida de amor sempre mais radical.
São estes os meus votos a todos os irmãos e irmãs de caminhada.
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O artigo foi publicado
originalmente em:
https://portaldascebs.org.br/a-questao-da-radicalidade-na-igreja/