sexta-feira, 26 de junho de 2020

Uma ferramenta de luta a ser valorizada “Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania”


O “Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania” é uma ferramenta de luta a ser valorizada por todas as Forças Sociais Populares (por “Sociais ou Social” entenda-se sempre: “sócio-econômico-político-ecológico-culturais ou cultural”): Movimentos e Frentes de Movimentos Populares, Sindicatos e Centrais Sindicais de Trabalhadores e Trabalhadoras, Partidos Políticos e Frentes de Partidos Políticos Populares, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - UBES, União Nacional dos Estudantes - UNE, Movimentos e Grupos de Jovens do Meio Popular, Grupos de Economia Solidária, Coletivos de Mulheres Trabalhadoras, Conselhos de Direitos, Fóruns ou Comitês de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos e outras Organizações Populares. 
Essas Forças estão comprometidas com o Projeto Social Popular, baseado em relações estruturais e pessoais igualitárias, justas, humanas e éticas: um Projeto alternativo ao Projeto Social Capitalista Neoliberal (hoje, Ultraneoliberal), que - justamente por isso - pode ser identificado também com outros nomes.
O que deve unir, cada vez mais, as Forças Sociais Populares - no respeito e valorização de suas diferentes identidades e de seus objetivos específicos - é o compromisso com a mudança estrutural, a mudança do sistema capitalista dominante e de seu Projeto Social, que é iníquo, perverso, injusto, desumano e antiético: um Projeto antivida. A maior prova disso é a situação - estrutural e pessoal - de desigualdade, exclusão e descarte em que vive a maioria do povo.
“Aliança” significa “Comunhão” de Projetos de Vida. Portanto, as Forças Sociais Populares (Forças Libertadoras) - comprometidas com o Projeto Social Popular (Projeto Libertador) - não têm como fazer “Aliança” com as Forças Sociais Capitalistas (Forças Opressoras) - comprometidas com a manutenção, ou a simples reforma, do Projeto Social Capitalista (Projeto Opressor)
As Forças Sociais Populares - por motivos diferentes e até opostos - poderão, em casos especiais, fazer “acordos pontuais estratégicos” (não Alianças) com as Forças Sociais Capitalistas, mesmo sabendo de sua provisoriedade e ambiguidade, De fato, de um lado esses acordos servem para “amenizar” (não resolver) determinadas situações conjunturais de sofrimento e de extrema necessidade do povo (o que é positivo); de outro lado, servem para fortalecer e “modernizar” o próprio sistema capitalista, neutralizando possíveis manifestações do povo (o que é negativo).
Por ser o sistema capitalista dominante estruturalmente desumano, não há também a possibilidade (como algumas pessoas afirmam) de um capitalismo com “rosto humano” ou “com sensibilidade e responsabilidade socioambiental”. A única solução é lutar para superar e mudar o sistema. 
Com as devidas proporções, é como na época da escravidão. Não havia a possibilidade de humanizar o sistema escravagista, mas - em determinados casos - a situação de vida (ou melhor, antivida) dos escravos era “amenizada”, sobretudo pela “bondade” de algumas mulheres. A solução foi:  acabar com o sistema escravagista (mesmo que existam - ainda hoje - diversas formas camufladas de trabalho escravo).
O “Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania” é um espaço aberto para que as Forças Sociais Populares de Goiânia e Goiás possam periodicamente - principalmente através de suas lideranças - se encontrar, partilhar experiências, buscar novos caminhos e, à luz dos acontecimentos, discernir - em um diálogo aberto e sincero - quais os passos concretos a serem dados, à curto, médio e longo prazo, para fortalecer a luta conjunta.
O Fórum Goiano - na Nota Pública “Todo apoio às manifestações antifascistas”, do dia 6 deste mês de junho - “apoia as manifestações antifascistas em curso no país, bem como conclama às Entidades e Movimentos Sindicais, Populares e de Juventude, do campo e da cidade, que se envolvam com a sua construção”.
Consciente, porém, da gravidade do momento atual, elerecomenda que todos e todas se protejam contra a pandemia do novo coronavírus. A utilização de máscaras e álcool gel e que mantenham 2 metros de distância entre manifestantes é fundamental. Recomenda-se também a não participação nas manifestações de quem possua comorbidades”.
O Fórum faz, pois, um apelo: “Companheiros/as, vamos à luta! A vitória do golpe autoritário-fascista levará o país a um período histórico de maior retirada de direitos, repressão e obscurantismo! A nossa vitória preservará liberdades democráticas e ampliará as condições para a construção de uma sociedade justa e igualitária!”.
Parabéns à Coordenação do Fórum pela clarividência, pela persistência e pelo eficiente trabalho de articulação.
Estamos juntos no apoio aos atos antirracistas, antifascistas e pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Queremos e lutamos por um Brasil Novo, um Mundo Novo, onde reine a Justiça e a Paz, onde todos os seres humanos tenham condições de vida digna e onde a Mãe Terra - Nossa Casa Comum - seja respeitada e cuidada. O Fórum Goiano somos nós!
Pela Vida, democracia e trabalho!
Conta o racismo, fascismo e toda violência!
Fora Bolsonaro e Morão!
Eleições gerais já!
Até o momento, fazem parte do “Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania”, as seguintes Forças Sociais Populares: 
  • CENTRAIS: CTB, CUT, UGT, CSB, CSP-Conlutas, Intersindical, CMP;
  • ENTIDADES/MOVIMENTOS SINDICAIS: SINT-IFESgo, SINTSEP-GO, SINTEF-GO, SINJUFEGO, Adufg - Sindicato, SINTFESP-GO/TO, Sintego, SINDSAÚDE-GO, SINDMETAL, SINDGESTOR, SINDCOLETIVO, SEEB-GO, SEESVIG, SINDSEMP-GO, SindMPU-GO, SINPRO-GO, STIUEG, Andes-SN (Planalto), Unidade Classista, MLC; 
  • ENTIDADES ESTUDANTIS: UNE, UEE, DCE-UFG, CACB, C.A. Eng. Florestal/UFG; 
  • MOVIMENTOS DE JUVENTUDE: UJS, Levante Popular da Juventude, Coletivo Quilombo, UJR, UJC, JCA; 
  • MOVIMENTO DE LUTAS AFIRMATIVAS: CPM/UBM, UNEGRO, UNA-LGBT, CEEC, CGDH Dom Tomás Balduíno; 
  • FRENTES: Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo; 
  • FEDERAÇÕES: FETAEG, FETRAF-GO, FitraeBC;  
  • MOVIMENTOS POPULARES: MST, MTST, Terra Livre, MCP, MLB, MLCP;
  • MOVIMENTOS RELIGIOSOS: CEBS, PJMP, CDJP do Brasil.

(Se Deus quiser, voltarei a escrever no início de agosto)



http://www.sintfesp.org.br/sintfesp/adm/admWideImage.php?img=/dados/publicacoes/pub0002907-83772bbe98265f796ff90980f648a967.jpg&wx=120&hx=90
Reunião do Fórum

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 24 de junho de 2020

sábado, 20 de junho de 2020

“Em casa ou na rua, queremos respirar” Prorrogado o prazo de encerramento da Campanha


A Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil (CDJP) está promovendo - desde o dia 7 do mês corrente -  a Campanha Internacional de solidariedade “Em casa ou na rua, queremos respirar”. 
Como seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, profetas e profetisas da vida precisamos denunciar e combater sempre toda violência social (estrutural) e individual. O silêncio é pecado de omissão! 
O racismo como práxis (prática e teoria dialeticamente unidas) - que chega a ser verdadeiro extermínio - é uma das violências sociais (estruturais) e individuais mais perversas, ou - em outras palavras - uma das faces mais cruéis do pecado social (estrutural) e individual. 
No mês da Consciência Negra de 2017, a ONU lançou a Campanha Nacional “Vidas Negras” (http://vidasnegras.nacoesunidas.org/), reafirmando o compromisso de implementação da “Década Internacional de Afrodescendentes”. No Brasil - diz a ONU - a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado.
A Campanha Internacional da CDJP do Brasil está dando a todos e todas nós da Família Dominicana (monjas, irmãs, frades e muitas outras pessoas - jovens e adultos - que seguem Jesus nas pegadas de S. Domingos) uma sacudida bem forte, nos despertando para vivermos, com maior fidelidade e radicalidade, a nossa missão no Brasil e no mundo de hoje.
A Campanha soma-se a outras iniciativas já realizadas ou ainda em andamento. Ela foi lançada “em um cenário de brutal violência policial”: o bárbaro assassinato de João Pedro e George Floyd.
"’Estou dentro de casa, calma!’, foi a mensagem do adolescente negro, de 14 anos de idade, João Pedro à sua mãe, momentos antes de ser assassinado, dia 18 de maio deste ano, em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Uma semana depois: ‘Não posso respirar’, sussurrou George Floyd, o afro-americano de 46 anos de idade, em Minneapolis, Estados Unidos, cujo pescoço foi prensado no chão pelo joelho de um policial branco, dia 25 de maio”.
A Campanha consiste em: “escrever uma única mensagem (em português, inglês, francês ou espanhol) - identificando nome, profissão, cidade, estado e país - de, no máximo, 5 a 6 linhas, destinada aos familiares de João Pedro e George Floyd, assassinados pela polícia, vítimas do racismo e de tantos outros tipos de violência e discriminação”.
As mensagens devem ser enviadas até o próximo dia 24 para o e-mail: querorespirar@dominicanos.org.br ou para o aplicativo, conforme o link:  https://forms.gle/QUYqrVumh313QoEKA. As crianças podem se manifestar através de desenhos.
“O nosso grito é: ‘sem Justiça não há Paz’. Nesta Campanha nos inspiramos também no Profeta Isaías que anuncia: ‘O fruto da Justiça é a Paz’ (Is 32,17)”.
Do mais profundo do nosso coração, queremos dizer aos familiares de João Pedro e de George Floyd: somos irmãos e irmãs de vocês; sofremos com vocês. Mesmo distantes fisicamente, contem com cada um e cada uma de nós, e com nossas orações. João Pedro e George Floyd (como muitas outras pessoas) são nossos mártires e nossos heróis; eles vivem entre nós. Sua presença fortalece os familiares, e todos e todas nós, para que - unidos e unidas - continuemos a luta por um mundo novo. Façamos a experiência dessa presença! Deus - que é Amor - abençoe cada um e cada uma de vocês.
A Campanha termina no próximo dia 24, mas a luta - contra o racismo, o extermínio do povo negro e dos povos indígenas, a criminalização dos trabalhadores e trabalhadoras, o descaso para com os migrantes e refugiados, o machismo, o feminicídio, o descarte dos pobres, a agressão à nossa Casa Comum (a Mãe Terra) e todas as formas de violência - continua. A esperança, que nunca morre, é certeza de vitória!
(Todas as Mensagens recebidas durante a Campanha - conforme o original - serão traduzidas para o português e para o inglês e enviadas aos familiares e comunidades de João Pedro e de George Floyd, além de publicadas nas redes sociais da CDJP do Brasil)


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 17 de junho de 2020

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Uma barganha que dá nojo


“Ala da Igreja Católica oferece apoio a Bolsonaro em troca de verba”. “Por verbas, TVs católicas oferecem a Bolsonaro apoio ao governo”. “Padres e leigos conservadores que controlam parte do sistema de emissoras ligadas à Igreja prometem ‘mídia positiva’ para ações do Planalto na pandemia da Covid-19”. 
     Com profunda indignação, devemos manifestar o nosso total repúdio a essa prática de pessoas que - apesar de se dizerem cristãs católicas - jogam sua dignidade humana no lixo e, em troca de recursos públicos, estão dispostas a vender até sua própria mãe: a Igreja Católica. Trata-se de uma barganha que dá nojo! 
Essas pessoas traem o Evangelho e, sem nenhum escrúpulo, usam-no para defender, legitimar e abençoar um projeto social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural), que - além de ser antidemocrático e ditatorial - é estruturalmente injusto, desumano, antiético e contrário ao projeto de Jesus de Nazaré: o Reino de Deus. Quanta hipocrisia! Quanto oportunismo!
    Reparem o nível de baixaria da barganha: “A queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro tem atraído propostas de alianças em troca de recursos públicos. Uma das mais tentadoras partiu de padres e leigos conservadores que controlam boa parte do sistema de emissoras católicas de rádio e TV. Ligados à ala que diverge politicamente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) dentro da Igreja, eles prometeram ‘mídia positiva’ para ações do governo na pandemia do novo coronavírus. Em contrapartida, porém, pediram anúncios estatais e outorgas para expandir sua rede de comunicação”. Que vergonha!
    A proposta foi feita no dia 21 de maio, “em videoconferência com a participação de Bolsonaro, sacerdotes, parlamentares e representantes de alguns dos maiores grupos católicos de comunicação, no Palácio do Planalto. A reunião foi pública e transmitida por redes sociais do Planalto e pela TV Brasil. Na ‘romaria virtual’, o grupo solicitou acesso ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e, principalmente, à Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). Dona do quinto maior orçamento do Executivo, a Secom tem R$ 127,3 milhões em contratos com agências de publicidade”.
O padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno, ligada ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno - Trindade (GO), fez um dos pedidos mais explícitos, afirmando que “a emissora, há um ano no ar, passa por dificuldades e espera uma aproximação com a Secom para oferecer uma ‘pauta positiva das ações do governo’ na pandemia da Covid-19’. Disse ele: “A nossa realidade é muito difícil e desafiante, porque trabalhamos com pequenas doações, com baixa comercialização. Dentro dessa dificuldade, estamos precisando mesmo de um apoio maior por parte do governo para que possamos continuar comunicando a boa notícia (pergunto: que boa notícia?), levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo”. 
O padre e cantor Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar é Preciso, com rádios e TV próprias, “cobrou agilidade e ampliação das outorgas e destacou o contraponto que os católicos podem fazer para frear o atual desgaste na imagem de Bolsonaro e do governo”. Afirmou: “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós (dirigindo-se ao presidente) queremos estar juntos”. 
Padre Reginaldo, o senhor acha que o papel dos católicos é “ser uma potência” e “frear o atual desgaste na imagem de Bolsonaro e do governo”? Que absurdo! Que mesquinhez!
O empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, afirmou que “Bolsonaro é uma grande esperança” (pergunto: que grande esperança é essa?) e argumentou que os veículos católicos precisam ser “verdadeiramente prestigiados”. Barros Neto “pediu não apenas mais entrevistas, como também a participação do presidente em eventos promovidos por católicos”. Resumiu dizendo: “A Rede Vida é a quarta maior rede de TV digital do País, mas, para que possamos crescer, precisamos ter mais investimentos”. 
Por fim, Bolsonaro prometeu tratar do assunto pessoalmente. Que vergonha!
(Fonte: O Estado de S. Paulo, 06/06/20). 
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação - juntamente com a SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (RCR), associações que reúnem as TVs de inspiração católica e as rádios católicas no Brasil - em Nota de Esclarecimento, declara: “Recebemos com estranheza e indignação a notícia sobre a oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação. A Igreja Católica não faz barganhas. Ela estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais”.
E ainda: “Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, ‘que é tornar o Reino de Deus presente no mundo’ (Papa Francisco, EG, 176), considerando todas as dimensões da vida humana e da Casa Comum. É urgente, sim, nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais, que trabalhemos verdadeiramente em comunhão, sempre abertos ao diálogo”.
Os Redentoristas (ligados à TV Pai Eterno) e os Jesuítas (ligados à TV Século XXI) emitiram também Notas, declarando que os “seus religiosos” presentes naquela reunião não foram enviados pelas Congregações.
Na Nota “É preciso indignar-se” (Querida Amazônia, 15), Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDV, bispo da Prelazia de Itacoatiara (AM), manifesta sua indignação e seu repúdio àquela barganha vergonhosa e ridícula, e presta sua solidariedade à Comissão Episcopal para a Comunicação e à Presidência da CNBB.
Depois de fazer alguns questionamentos e lembrar as palavras de Jesus no Templo de Jerusalém (com chicote nas mãos): “não façam da Casa de meu Pai um mercado” (Jo 2, 16), Dom José - em tom de desabafo - exclama: “Imaginemos Jesus entrando naquela reunião e ouvindo esses ‘padres’ se vendendo ao governo, fazendo da nossa fé católica um mercado, pedindo dinheiro e prometendo apoiar o governo!”.
Infelizmente, esses padres (e as outras pessoas presentes naquela reunião) foram eles mesmos que - com sua atitude mesquinha e repugnante - se excluíram da comunhão católica. Só poderão se reintegrar na comunhão da Igreja se se arrependerem e se retratarem publicamente. O “pecado da barganha” foi público.
Oremos: ó Deus - Santíssima Trindade, Comunidade de Amor - “seus caminhos são justos e verdadeiros”! (Ap. 15,3). 

bolsonaro
Reunião. Presidente Jair Bolsonaro em videoconferência 
com representantes religiosos, empresários e parlamentares 
Foto: Reprodução / Youtube Presidência da República


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 10 de junho de 2020

sexta-feira, 5 de junho de 2020

São Josimo da Terra e das Águas


     Uma Comunidade da Região Noroeste de Goiânia (uma Região de Ocupações dos Sem-Teto) chamava-se - desde o seu nascimento - “Comunidade Padre Josimo”. Há alguns anos, um padre - desrespeitando toda a história da Comunidade - trocou o nome, chamando-a Comunidade Santa Rita. Motivo (reparem!): padre Josimo não é santo (leiam: canonizado). Na realidade - todos e todas sabemos - o motivo é outro.
     Para nós - conhecedores da Região - o fato doeu muito e nos deixou indignados e indignadas. Ao mesmo tempo, porém, aprofundou em nós a veneração - que já tínhamos - pelos mártires da caminhada, como o jovem padre Josimo. Pessoalmente, não tenho nenhum receio de chamá-lo - é um direito meu - São Josimo da Terra e das Águas.
À época, era vigário episcopal e coordenava o Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia, ao qual a Região Noroeste pertencia. Um dia, convidado para celebrar a Crisma na Comunidade, a primeira coisa que eu disse foi: Santa Rita não gostou da troca do nome da Comunidade e apresentei as razões.
Quanto legalismo, formalismo e farisaísmo! A Lei da Igreja não pede isso. Ela só fala dos padroeiros ou padroeiras das Paróquias e não dos nomes de Comunidades (territoriais ou pessoais). Por exemplo, a minha Província religiosa dominicana - uma Comunidade pessoal - chama-se: Província Frei Bartolomeu de Las Casas, que ainda não é canonizado.
No dia 10 de maio, o povo da Região do Bico do Papagaio (sobretudo os mais pobres) faz a memória do assassinato - acontecido no ano de 1986 - do padre Josimo Morais Tavares, “o grande defensor dos pequenos agricultores da região, ameaçados, como em tantos outros lugares do Brasil ao longo da história, pelo agronegócio”.
A morte do padre Josimo “era uma morte anunciada, que ele tinha assumido como próxima, após ter sido vítima de várias tentativas de assassinato. Desde a serenidade que nascia da fé naquele que tinha sido condenado a morte injustamente, o padre Josimo levou até o final aquilo que o sustentou ao longo dos seus 33 anos de vida, o amor aos mais pobres, que se fizeram presentes na sua vida nos pequenos agricultores expulsos de suas terras pelos grandes fazendeiros da região, os mesmos que encomendaram sua morte”
Padre Josimo “continua vivo em todos os que hoje lutam pela terra, pela agricultura familiar, defendendo o direito a tirar da terra seu sustento”. (www.portaldascebs.org.br/2020/05/07/semana-da-terra-e-das-aguas-padre-josimo-cuidar-da-vida-semeando-resistencia-tambem-virtualmente-por-luis-modino/). Sua memória nunca morre!
Todos os anos, com o apoio e a participação da Comissão Pastoral da Terra (CPT Nacional e Regional), a Igreja organiza a “Romaria da Terra e das Águas Padre Josimo”, que - em 2019 - comemorou sua 16ª edição. Neste ano de 2020 - devido à pandemia do coronavírus (a Covid-19) - a Diocese de Tocantinópolis organizou, de 4 a 10 de maio, a “Semana da Terra e das Águas Padre Josimo”. Nesses dias, às 20 horas, na página do Facebook da Diocese, aconteceram lives sobre a “Querida Amazônia”, com o tema: “Cuidando da vida, semeando Resistência!”. Padre Josimo vive entre nós!
    Termino com a “Ladainha de Nossa Senhora da Terra” (ou, simplesmente, “Ladainha de Maria da Terra”), que inclui também as Águas (de minha autoria), em homenagem ao padre Josimo: São Josimo da Terra e das Águas.



Ladainha de Nossa Senhora da Terra 

Senhor, tende piedade de nós!
Cristo, tende piedade de nós!
Senhor, tende piedade de nós!
Cristo, ouvi-nos!
Cristo, atendei-nos!
Deus Pai/Mãe do Céu, tende piedade de nós!
Deus Filho, Libertador e Salvador do mundo, tende piedade de nós!
Deus Espírito Santo, Amor do mundo, tende piedade de nós!
Santíssima Trindade, um só Deus e ‘a melhor Comunidade’, tende piedade de nós!
Santa Maria, rogai por nós! 
Mãe de Deus, 
Mãe de Jesus de Nazaré,
Mãe da Igreja dos Pobres, 
Santa Maria da Terra e das Águas, rogai por nós!
Mãe dos Moradores de Rua,             
Mãe dos Catadores de Lixo,  
Mãe dos Encarcerados, 
Mãe dos Sem-Terra,   
Mãe dos Sem-Teto,   
Mãe dos Sem-Trabalho,                                     
Mãe dos Subempregados,  
Mãe dos Trabalhadores em condição de trabalho escravo,
Mãe dos Migrantes e Refugiados em condição de vida sub-humana,
Mãe dos Doentes não atendidos pela Saúde Pública,
Mãe dos Doentes mortos à míngua por falta desse atendimento,
Mãe das Crianças e Jovens sem Educação Pública de qualidade,
Mãe das Crianças e Jovens envolvidos com drogas por falta de Políticas Públicas,
Mãe das Crianças e Jovens assassinados por causa desse envolvimento,
Mãe das Crianças e Jovens abandonados,
Mãe dos Idosos abandonados,
Mãe das Mulheres marginalizadas e violentadas,            
Mãe do Povo sem Segurança Pública humanizada,
Mãe do Povo sem Transporte Público digno,  
Mãe das Vítimas da Fome e Subnutrição,                                      
Mãe das Vítimas do Tráfico Humano para a exploração no trabalho,
Mãe das Vítimas do Tráfico Humano para a exploração sexual,
Mãe das Vítimas do Tráfico Humano para a extração de órgãos,
Mãe das Vítimas do Tráfico Humano de Crianças e Jovens,
Mãe das Vítimas da Discriminação Racial dos Povos Indígenas e do Povo Negro,
Mãe das Vítimas da Exploração da Terra e das Águas,
Mãe das Vítimas da Violência institucionalizada e de toda Violência, 
Mãe dos Excluídos e Descartados da sociedade,     Mãe dos Discípulos Missionários e Discípulas Missionárias de Jesus de Nazaré,                                                                                                                   Mãe dos Bons Samaritanos e Boas Samaritanas de hoje,           Mãe dos Profetas e Profetisas de hoje,        
                                        
(Intenções espontâneas: para o tempo de pandemia da Covid-19 e outras)
São Josimo da Terra e das Águas, roga por nós! 

http://www.overmundo.com.br/uploads/banco/multiplas/1246498650_2padre_josimo_tavares2.jpg


Semana Social da Terra e das Àguas: Padre Josimo

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 03 de junho de 2020

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos