Presidenta Dilma, pense,
reflita e aprenda a lição das urnas. Foi uma advertência clara. No seu segundo
mandato, faça um verdadeiro governo de participação popular. Conte com os
Movimentos Sociais Populares organizados (respeitando e valorizando sua
autonomia e sua identidade), com os Sindicatos autênticos (não pelegos) dos
Trabalhadores e Trabalhadoras, com o povo das Comunidades rurais e das
Comunidades das periferias urbanas, sobretudo das grandes cidades e com todos
aqueles e aquelas - entidades e pessoas - que lutam por um novo Brasil. Todos e
todas deram-lhe um crédito de confiança. Faça alianças com esses Movimentos,
Sindicatos e Comunidades (e não com os poderosos). Viva no meio do povo, ouça o
povo, caminhe com o povo, seja povo (sem palácios e sem mordomias). Tome
posições políticas claras (sem ambiguidades), com coragem e com firmeza. Não
titubeie.
Inaugure
um novo jeito de governar, “o jeito popular” de governar ou, em outras
palavras, o jeito de governar do povo, para o povo e com o povo: jeito simples,
humano, fraternal e sororal, servindo com amor. Volte às origens, mas enfrente -
em profunda sintonia com o povo - os grandes e urgentes desafios do Brasil de
hoje. “Povo unido, jamais será vencido!”. Experimente a força do povo. Não
tenha medo dos poderosos. O povo organizado e mobilizado é mais forte do que o poder
econômico. Busque a “governabilidade popular” e não a “governabilidade dos
grandes do mundo”.
Presidenta
Dilma, não bastam os programas sociais, embora - na atual conjuntura - sejam
necessários, devam continuar e ser melhorados. Precisamos urgentemente de
mudanças estruturais, abrindo caminhos para um novo Brasil.
Pessoalmente
- como religioso dominicano e professor universitário aposentado - dou-lhe um
conselho de irmão, que ama o Brasil, que acredita no trabalho de base, que vive
com o povo e que aprendeu (e ainda aprende) muito mais com a sabedoria popular do
que com a academia.
O
meu conselho é este: que a “Carta Compromisso da 5ª Semana Social Brasileira”
seja uma das estrelas-guia do seu novo governo. Leia a Carta, medite-a, faça
dela seu livro de cabeceira. Ela pode ser uma luz que ilumina o seu novo governo
para que seja um serviço ao povo.
A 5ª
Semana Social Brasileira (2 a 5 de setembro de 2013) pensou e discutiu o tema: “o
Estado que temos e o Estado que queremos”. “Analisou a realidade brasileira e
global, escutou os clamores populares e celebrou a caminhada dos Movimentos Sociais
(Populares) e das Igrejas, na defesa e na promoção da vida”.
Ela
“é um esforço conjunto das Organizações Sociais na defesa dos direitos humanos
e da natureza como expressão da solidariedade e da profecia cristã. (...) As
manifestações de rua, que acontecem no país desde junho/13, deixam um alerta
para a sociedade. Não é mais possível negar os direitos e a participação dos cidadãos/ãs
invisibilizados/as. O modelo desenvolvimentista assumido pelo Estado Brasileiro
atual, baseado em políticas compensatórias, submete a nação às determinações da
mundialização neoliberal em crise, reprimariza a economia, explorando os bens
naturais e humanos para a exportação, transformando-os em commodities. Este
modelo viola o direito dos povos e ameaça a vida do planeta, impactando as comunidades
rurais e urbanas, as classes trabalhadoras e a população em geral”.
Citando
o documento “Exigências Éticas da Ordem Democrática” (CNBB, 1989), a 5ª Semana,
de maneira contundente, afirma: “os pobres são os juízes da vida democrática de
uma nação”.
Para
promover o Estado que queremos, a 5ª Semana Social Brasileira assume os
seguintes compromissos (que, Presidenta Dilma, desejo sejam também seus
compromissos):
2. Promover a formação para a cidadania, apoiando a proposta da Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas e da convocação de um Plebiscito para uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva (foi também o pedido do Plebiscito Popular, com seus quase 8 milhões de votos). Participar da Campanha saúde +10; 10% do orçamento da União para a educação e os demais direitos sociais; contra a privatização dos serviços públicos.
3. Retomar e fortalecer a metodologia das Assembleias Populares, com a criação de Tribunais Populares, pela democratização do Judiciário e do acesso à justiça e a reestruturação do Sistema de Segurança Pública, visando à construção de um Estado defensor dos direitos humanos e ambientais.
4. Apoiar a Reforma Agrária, a agricultura familiar e agroecológica; o reconhecimento dos territórios dos Povos Originários e Comunidades Tradicionais: camponeses, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, extrativistas, recicladores, e demais grupos sociais fragilizados, cujos direitos são garantidos pela Constituição Federal e que não são cumpridos.
5. Fortalecer a Campanha pela Democratização dos Meios de Comunicação Social e participar de Fóruns específicos.
6. Garantir a efetivação dos Conselhos de Juventudes para o controle social das políticas públicas; assumir a Campanha contra o extermínio de jovens, principalmente pobres e negros; contra a redução da maioridade penal e a violência às mulheres.
7. Incentivar políticas de defesa civil, com participação da sociedade, para a prevenção dos impactos socioambientais dos projetos desenvolvimentistas e a proteção e garantia de direitos das populações afetadas.
8. Exigir do Governo Federal a implementação do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e que haja sua efetiva participação.
9. Incentivar a criação e o fortalecimento dos Fóruns Populares que monitoram e propõem políticas urbanas nos bairros, nas regiões administrativas e nos municípios.
10. Informar e mobilizar a sociedade sobre a gestão dos recursos públicos, participando de Campanhas pela revisão da distribuição orçamentária da União; por uma reforma tributaria progressiva e participativa; contra uma política de endividamento público e de gestão do orçamento social e ambiental irresponsável. Exigir do Governo o fim dos leiloes do petróleo, pela plena reestatização da Petrobras, bem como a auditoria da dívida pública, conforme o artigo 26 das Disposições Transitórias da Constituição Federal”.
Presidenta Dilma, como mulher, honre tantas mulheres do povo, verdadeiras heroínas, e diga “não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Essa economia mata” (Papa Francisco. O Evangelho da Alegria. 53). Um novo Brasil é possível e necessário! Lutemos por ele! Presidenta Dilma, entre de cheio nessa luta! Prove que merece o crédito de confiança, que o povo lhe deu!
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 29 de outubro de 2014