(A parte final do artigo
anterior, da série de artigos sobre o Ser humano)
O modo de produção caracteriza-se pelos seguintes
elementos:
- O estágio de desenvolvimento
das forças produtivas (combinação da força de trabalho com os meios ou técnicas
de produção).
- As relações sociais (relações
existentes entre os agentes da produção social e os meios de produção).
- A maneira de apropriação do
excedente da produção social.
A forma como se combinam estes
três elementos determina um modo de produção específico.
Historicamente
falando, podem ser considerados como fundamentais os modos de produção
primitivo, escravista (clássico e moderno), feudal, capitalista e socialista
(Cf. MENDONÇA,
N. Domingues, O uso dos conceitos. Uma questão de interdisciplinariedade.
Vozes, Petrópolis, 19852, p. 64-65.
Sendo as
mudanças sociais lentas e não acontecendo com o mesmo ritmo em todos os
lugares, numa sociedade concreta (formação social) podem existir diversos modos
de produção (ou, ao menos, elementos de diversos modos de produção). Um, porém,
é sempre dominante e condiciona dialeticamente os outros, que, em geral, são
"restos" de modos de produção em via de superação histórica.
Em outros
textos, teremos a oportunidade de refletir longamente sobre a sociedade
capitalista contemporânea (e também sobre as experiências de sociedade
socialista do chamado "socialismo real") desde a ótica dos Pobres
(empobrecidos/as, marginalizados/as, oprimidos/as, explorados/as, excluídos/as
e descartados/as), daqueles/as que "não-são", daqueles/as que
"não-contam".
Teremos a
oportunidade, ainda, de destacar e evidenciar os sinais históricos de uma
nova sociedade (uma sociedade alternativa: popular, socialista, ecológica,
democrática, igualitária e participativa), que é a sociedade do “Bem Viver”
e do “Bem Conviver” (como afirmam os nossos irmãos e irmãs Indígenas), ou -
à luz da fé - o Reino de Deus acontecendo na história do Ser humano e do
mundo.
Embora se
encontre em gestação, essa sociedade está sendo construída pelos setores organizados
das classes populares e seus "aliados", e será certamente uma
sociedade eticamente superior e mais perfeita.
“Pergunto-me
- diz o Papa Francisco - se somos capazes de reconhecer que estas realidades
destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos
que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na
exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim - insisto - digamo-lo
sem medo: queremos uma mudança, uma
mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o
suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os
povos... E nem sequer o suporta a Terra, a Irmã Mãe Terra, como dizia São
Francisco”.
O Papa
diz ainda que este sistema insuportável “exclui, degrada e mata!”. Francisco
continua afirmando: “Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros,
no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que atinja também
o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais
para os problemas locais. A
globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres,
deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença” (2º Encontro
Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).
Por fim,
“ser-no-mundo" socialmente (estruturalmente) significa - para o Ser humano
histórico - que suas relações (em maior ou menor grau, sempre,
"conscientes", senão não seriam relações humanas) com-o-mundo
material e vivente e os outros (semelhantes), e com-o-Outro absoluto (Deus)
são, antes de tudo, socioambientais, estruturais, objetivas. Elas
acontecem (se processam) numa sociedade historicamente determinada (formação
social) e na interdependência (interação) dialética do nível econômico
(infraestrutura) com o nível jurídico-político e ideológico (superestrutura).
São relações que não dependem da consciência e da vontade dos indivíduos
(embora as relações sociais influenciem e condicionem dialeticamente as
relações individuais e estas as sociais).
O Ser
humano histórico é, pois, um ser totalmente social (sociedade), mas a
socialidade não é a totalidade do Ser humano histórico.
(Ainda na
série de artigos sobre o Ser humano, no próximo trataremos do Ser humano histórico-individual).
editora@lutasanticapital.com.br
Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 22 de fevereiro de 2024
O
artigo foi publicado originalmente em:
https://portaldascebs.org.br/o-ser-humano-historico-social-4/
(16/02/24)