A falta
de vergonha na cara da maioria (felizmente, não são todos/as)
dos deputados/as da Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) e dos
juízes/as e desembargadores/as do Tribunal de Justiça de Goiás
(TJ-GO) não têm limites! Trata-se de uma verdadeira falcatrua, que clama
a Deus por justiça!
A ALEGO
“terá avião à disposição de deputados” (O Popular, 15/02/2 - Manchete, p. 4).
Ela “obteve a autorização judicial para utilizar um avião Baron 95-B55,
apreendido em operação da Polícia Federal contra tráfico de drogas, e que
ficará à disposição dos deputados, com prioridade para o presidente Bruno
Peixoto (UB). A direção do Legislativo afirma que a previsão de custo é de R$
400 mil a R$ 500 mil anuais, incluindo seguro, manutenção e combustível, com
voos de até 150 horas. Além disso, serão gastos R$ 91 mil para reparos e
garantir o funcionamento da aeronave, com previsão de começar a voar em março”
(Ib.).
E tem
mais: “Frota da ALEGO chega a 122 veículos com acréscimo de 21 novos carros” (O
Popular, 17 e 18/02/24 - Manchete, 1ª página), que são “15 sedãs e 6
caminhonetes no valor de R$ 2,56 milhões” O “custo total com os novos
automóveis já soma R$ 16,7 milhões” (Ib. p. 4).
Infelizmente,
a falta de vergonha na cara não terminou. Continua no Tribunal de
Justiça de Goiás (TJ-GO).
Em
janeiro deste ano: “Mais de 770 servidores receberam valor acima do teto
constitucional (R$ 41.650,92) no TJ-GO” (Ib. Manchete, p. 8). O TJ-GO “chegou a
490 juízes e 110 desembargadores com quantias superiores a R$ 41 mil, entre
ativos e inativos; 180 alcançaram mais de R$ 100 mil” (Ib.).
Trata-se
realmente de uma pouca vergonha deslavada, que não precisa de comentários.
Os fatos falam por si. Os deputados estaduais da ALEGO e os juízes e
desembargadores do TJ-GO conhecem muito bem a realidade social de Goiás e
do Brasil.
Segundo
dados aproximados - amplamente divulgados na imprensa e nas redes
sociais - no Brasil:
- de
um lado, 1% da população detém 49,6% dos bens do país e 10%
ganham 59% da renda nacional total;
- de outro
lado, 70 milhões de pessoas estão em estado de insegurança alimentar
moderada, ou seja, em dificuldade para se alimentar; e 21 milhões de
pessoas, em estado de insegurança alimentar grave, ou seja,
em situação de fome permanente.
Pergunto:
Esse comportamento
público, totalmente desumano e antiético, da maioria dos
deputados/as da ALEGO e dos juízes/as e desembargadores/as do TJ-GO não é “um pontapé
no cara dos/as Pobres”? Não são, eles e elas, irmãos e irmãs nossos, que não
têm as mínimas condições de viver dignamente?
Nessa
sociedade iníqua e perversa, a desigualdade e a injustiça - que aumentam
cada dia mais - não se tornaram uma imoralidade estrutural,
legalizada, institucionalizada e, muitas vezes, hipocritamente legitimada em
nome de um falso deus e de uma falsa religião?
O que
podemos esperar desses deputados/as da ALEGO que - enquanto os trabalhadores/as
gastam mensalmente mais de 15% do salário mínimo no transporte - têm
avião particular a seu serviço? Não é isso um roubo acintoso do
dinheiro público, que é dinheiro dos Pobres?.
Como
podemos acreditar que esses deputados/as - que, apesar de seus altos rendimentos
mensais (cerca de R$ 30 mil, além de outros subsídios e gratificações), buscam
sempre novas mordomias - estejam preocupados/as com a busca do bem comum
desde os Pobres, construindo um Goiás e um Brasil mais justo, mais
igualitário e mais fraterno? (Ah! Como seria diferente se a Política Partidária
fosse um trabalho de voluntariado!).
E
ainda: Como podemos acreditar que esses juízes e desembargadores do TJ-GO - que
também, apesar de seus altos rendimentos mensais (cerca de R$ 80 mil, além de
outros subsídios e gratificações) - estejam preocupados com a promoção e a defesa
da Justiça desde os Pobres?
Hoje -
como diz o Papa Francisco - os Pobres não são (somente) excluídos/as,
mas descartados/as.
Por
fim, só existe um caminho para com a graça de Deus - à curto, médio e
longo prazo - mudar essa realidade: lembrar e viver o ditado “Povo
unido e organizado jamais será vencido”! Daí a necessidade urgente de
retomar e aprofundar o “trabalho de base” nos Movimentos Socioambientais
Populares, nos Sindicatos de Trabalhadores/as, nos Partidos Políticos
Populares, nas Entidades de Jovens Estudantes, nos Coletivos de Mulheres, nas
Comunidades Eclesiais de Base e em todas as Organizações Socioambientais
Populares.
Termino
com uma advertência: deputados, juízes e desembargadores lembrem-se: Deus
é justo!
https://www.portalnoticiasgoias.com.br/
Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em
Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 19 de fevereiro de 2024
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