quinta-feira, 27 de abril de 2023

Em solidariedade e apoio às lutas do MST

 


Indignado, denuncio e repudio publicamente a maneira desrespeitosa e injusta como o Governo Federal (Alexandre Padilha: Secretaria de Relações Institucionais; Paulo Teixeira: Desenvolvimento Agrário; Carlos Fávaro: Agricultura) tratou o Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) diante da ocupação de uma área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Petrolina (PE).

Com este comportamento, o Governo Lula desrespeitou e foi injusto não só com o MST, mas com todos os Movimentos Sociais Populares e seus aliados/as, que lutam pela Reforma Agrária Popular e por um outro Brasil possível, mais humano e mais igualitário.

Além disso, ficou claro que - com a crítica ao MST - o Governo Lula quis agradar a bancada ruralista e o agronegócio. É lamentável!

Os políticos de um Governo Popular (Executivo e Legislativo) devem dialogar com todos e todas e - se seguirem Jesus - devem amar até os inimigos, mas devem sempre deixar claro que o lado deles e delas é o dos pobres, excluídos e descartados da nossa sociedade desigual, injusta e desumana.

É uma pena que o Governo Lula ainda não saiba fazer a distinção entre “invasão” e “ocupação”. A Nota “Invasão do MST à área da Embrapa Semiárido” usa a palavra “invasão” cinco vezes (cf. https://www.embrapa.br/). 

Caso tenha esquecido, lembro ao Governo Lula que o MST nunca promoveu “invasões”, mas “ocupações”, lutando pela Reforma Agrária Popular. Com a ocupação de uma área da Embrapa, tudo indica que o Governo está mais preocupado em “se dar bem” com o agronegócio do que com o MST e outros Movimentos de Trabalhadores/as.

Como todos/as sabemos, é o agronegócio que envenena a natureza, explora os trabalhadores/as - muitas vezes com trabalho escravo - e investe em monoculturas para exportar e obter lucros. O agronegócio pouco se importa com a vida do povo pobre e com as questões da fome, da desigualdade e da injustiça.

“Antes de embarcar para a Europa na quarta-feira, dia 19 deste mês de abril, Lula reuniu ministros para tratar do tema das “invasões” (ou seja, “ocupações”), que preocupa o Governo e, especialmente, o agronegócio” (O Popular, 22 e 23/04/23, p. 5). Infelizmente, estas últimas palavras de “O Popular” - se forem verdadeiras -  falam por si mesmas e não precisam de comentários.

Como já disse em outra ocasião, é um absurdo e uma imoralidade estrutural legalizada que 1% da população brasileira detenha um patrimônio equivalente ao da metade dessa mesma população. É esse 1% que não só invade, mas assalta o Brasil.

O MST no Estado de Pernambuco, em sua Nota “A Ocupação na Embrapa é ferramenta de denúncia por Reforma Agrária Popular”, de 18 deste mês de abril, “vem a público comunicar que a ocupação - por um grupo de 600 famílias - realizada na madrugada do dia 16/04, em uma área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é mais uma ferramenta de denúncia e pressão para realização da Reforma Agrária Popular. Em um país com 33 milhões passando fome, toda terra pública deve estar voltada à produção de alimentos. As famílias que realizaram a ocupação não danificaram nenhuma estrutura do órgão e nenhum animal foi ameaçado. A presença das famílias Sem Terra naquele território contribui para a preservação da própria caatinga, bioma local, através da produção de alimentos saudáveis, preservação das nascentes, dos territórios e de reconstrução do solo”.

Diz ainda a Nota: “Vale ressaltar que a preservação dos biomas e a prática sustentável no meio ambiente sempre esteve entrelaçada com a permanência dos povos do campo, das águas e das florestas em seus territórios. Quem bate recordes de destruição ambiental não são as famílias agricultoras, e sim o agronegócio.

A ocupação é uma forma de sinalizar que a Embrapa deveria estar desenvolvendo projetos de pesquisas para a Agricultura Familiar e Camponesa (...). É a Agricultura Familiar quem coloca a comida na mesa dos trabalhadores/as, e mesmo assim fica esquecida no parâmetro de pesquisa.

A Embrapa possui um papel estratégico para o desenvolvimento da Agricultura Familiar em nosso país; inclusive, quando o Governo Bolsonaro estava tentando privatizá-la, o MST se colocou na defesa da empresa. Defendemos a Embrapa e o cumprimento da função social da terra, inclusive daquelas públicas que estão sem destinação.

Em memória do Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996, na “Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária Popular” deste mês de abril - com o lema “Reforma Agrária, contra a fome e a escravidão: por Terra, Democracia e Meio Ambiente!” - o MST e outros Movimentos de Trabalhadores/as realizaram manifestações em 18 Estados, com 20 mil pessoas mobilizadas e um retorno positivo em relação à retomada de políticas ligadas à Reforma Agrária Popular. Isso é motivo de muita esperança!

Mais uma vez, minha total solidariedade e irrestrito apoio ao MST! Feliz 1º de Maio, Dia do Trabalhador/a!


Dia 15 de abril: 600 famílias Sem Terra ocupam área da Embrapa,
 em Petrolina/PE - Foto MST em PE




1º de Maio 2023: Dia do Trabalhador/a




Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 27 de abril de 2023


quarta-feira, 12 de abril de 2023

Mais uma imoralidade pública desavergonhada

 

Há pouco tempo denunciei a imoralidade pública dos fura-tetos do Governo de Goiás que - para burlar o teto salarial do funcionalismo público de R$ 39,2 mil (que os fura-tetos devem considerar um salário de fome) criou a lei estadual das “verbas indenizatórias”, por R$ 18,4 milhões anuais. O Governo não está preocupado com a moralidade, mas somente com a legalidade de seus atos para não ter problemas.

A lei estadual das “verbas indenizatórias” para os funcionários fura-tetos do Poder Executivo já foi estendida - com aprovação da Assembleia Legislativa - ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJ - GO), ao Tribunal de Contas do Estado e dos Municípios (TCE e TCM - GO) e, por fim, à própria Assembleia Legislativa (ALEGO).

“O projeto de lei que permitirá à Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) furar o teto de gastos para o funcionalismo, por meio da transformação dos valores excedentes em verba indenizatória, foi aprovado em primeira votação na Casa, no dia 22 de março. Assim - como os Tribunais goianos - o Legislativo pegou carona na minirreforma administrativa do Poder Executivo, que abriu essa brecha” (O Popular, 23/03/23, p. 5).

É impressionante ver a “esperteza” que esses políticos têm na busca de caminhos que permitam legalizar a “imoralidade” pública. É um descaramento que dá nojo! Como diz Jesus, muitas vezes “os filhos das trevas são mais astutos que os filhos da luz” (Lc 16,8).

(Léia o meu artigo: “Fura-tetos x 403.634 famílias na extrema pobreza”, em: http://freimarcos.blogspot.com/2023/03/fura-tetos-x-403634-familias-na-extrema.html; IHU, Correio da Cidadania e outros)

Nestes dias - ainda indignado com o caso dos “fura-tetos” - li mais uma notícia, que mostra até que ponto chegou a desfaçatez da maioria (graças a Deus, não todos/as) dos nossos deputados/as estaduais. Vejam só!

A “ALEGO vai comprar 41 caminhonetes 4x4 para uso dos deputados estaduais” (O Popular, 04/04/23, manchete, p. 2): uma para cada deputado/a, que são 41. “O custo estimado de cada veículo é de R$ 265,1 mil” (Ib.).

É demais! Não dá para tolerar tanta desfaçatez! É uma verdadeira farra com o dinheiro público, que é do Povo, sobretudo dos que estão passando fome. É muita crueldade! O Povo precisa tomar consciência dessa realidade perversa e derrubar os deputados que - sem nenhuma vergonha na cara - usam e abusam do dinheiro público.

Os trabalhadores que têm carro (na nossa sociedade já são trabalhadores privilegiados) para os gastos relacionados ao seu trabalho, usam o próprio carro. Ora, os deputados não têm carro? Será que o salário que ganham não é suficiente para arcar com os gastos relacionados ao seu trabalho de deputados?

Faço agora um pedido aos deputados/as que estão do lado do Povo e a serviço do Povo: renunciem juntos - num gesto público de denúncia - à caminhonete e exijam que o dinheiro correspondente seja utilizado para amenizar situações de fome e falta de moradia digna de irmãos/ãs nossos.

Aliás, pessoalmente acho que a militância político-partidária deveria ser voluntariado. Todo vereador/a e deputado/a deveriam exercer sua profissão e viver de seu trabalho.  

Termino fazendo minhas as palavras do Papa Francisco: ”Reconhecemos que este sistema (o sistema capitalista neoliberal) impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos... E nem sequer o suporta a Terra, a Irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”.

Este sistema insuportável “exclui, degrada e mata!”. “A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).

Que assim seja!


Portal Contexto - ALEGO empossa 41 deputados - 01/02/23


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 11 de abril de 2023



segunda-feira, 3 de abril de 2023

Feliz Páscoa! Feliz Passagem!

 


Páscoa é Passagem:

  • de condições de não-vida para condições de vida;
  • de condições de vida desumanas para condições de vida humanas;
  • de condições de vida menos humanas para condições de vida mais humanas;
  • da vida do ser humano velho para a vida do ser humano novo;
  • da vida desse mundo para a vida de outro mundo possível;
  • da vida do mundo velho para a vida do Mundo Novo;
  • da morte - e de tudo o que ela significa - para a vida nova em Cristo.

Para nós cristãos e cristas (com todo respeito e amor aos irmãos e irmãs de caminhada, com os/as quais lutamos juntos pela vida digna para todos e para todas, mas que têm uma visão diferente), a vida nova em Cristo é - ou deveria ser - vida plenamente ou radicalmente humana.

Ora, por ser o ser humano natureza, a parte pensante da natureza, a vida cristã é vida nova plenamente humana natural e plenamente natural humana. O ser humano é chamado a cuidar da natureza, sendo o jardineiro da Irmã Mãe Terra, Nossa Casa Comum e vivendo em comunhão com ela e com o universo inteiro.

“Sabemos que a criação toda geme e sofre dores de parto até agora. E não somente ela, mas também nós, que possuímos os primeiros frutos do Espírito, gemendo no íntimo, esperando a adoção, a libertação para o nosso corpo. Na esperança nós já somos salvos/as” (Rm 8,22-24), realizados/as, felizes.

Na última Ceia com os discípulos - antes de sua Morte e Ressurreição - “Jesus, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”; “começou a lavar os pés dos discípulos” e depois perguntou-lhes: “vocês compreenderam o que acabei de fazer?” (Jo 13,1.5.12). Perguntemo-nos: E nós, hoje? Será que amamos até o fim? Será que compreendemos o que Jesus fez?

Na Celebração da Páscoa (Semana Santa e, sobretudo, Tríduo Pascal) - centro de nossa vida cristã - fazemos a memória, ou seja, tornamos presente o grande acontecimento de nossa fé: o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

“Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos/as” (Jo 15,13). O cristão e a cristã, a Comunidade, a Igreja - com seu testemunho de vida nova em Cristo - devem (ou deveriam) ser sal da terra, luz do mundo. “Vocês são o sal da terra” (Mt 5,13). “Vocês são a luz do mundo” (Mt 5,14).

Ora, pergunto: como podem um cristão e uma cristã ser sal e luz se esquecem do mundo e se preocupam somente com sua vida individual, seus problemas pessoais ou familiares, sua Comunidade e sua Igreja, num comportamento religioso meramente intimista e fundamentalista, praticando o que poderíamos chamar deegoísmo religioso”?

“Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único para que todo o que Nele crê não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16), a vida nova em Cristo, a vida de ressuscitados e ressuscitadas no Batismo.

Para viver hoje a Páscoa, a Passagem e fazê-la acontecer em todas as dimensões da vida humana e da natureza - a partir da Opção pelos Pobres (marginalizados/as, oprimidos/as, excluídos/as e descartados/as) e do Cuidado com a Nossa Casa Comum - precisamos nos comprometer com a militância socioambiental, sindical e política popular. É este o caminho de todo cristão e cristã, e de todo ser humano que tem consciência de sua dignidade e de seu valor.

A Campanha da Fraternidade/23, que tem como tema “Fraternidade e Fome” e como lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16), nos lembra que viver a Páscoa, viver a Passagem significa viver a Fraternidade, a Irmandade. Se vivêssemos como irmãos e irmãs de verdade, não haveria fome no Brasil e no mundo. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude” (Jo 10,10).

“No Brasil (e no mundo) nem todos/as têm vida em plenitude! Ainda não somos verdadeiramente irmãos e irmãs! Nosso País não é ainda nossa Casa Comum! Não formamos uma só família, dos filhos e filhas de Deus! Se assim fosse, a ganância, o individualismo, o domínio dos interesses individuais e, sobretudo, a fome não existiriam entre nós, ceifando vidas. Mas, não podemos deixar de sonhar o sonho de Deus... em vista de um Mundo Novo” (CF23, Texto-Base, 112).

“Confiantes na ação do Espírito Santo, nós vos pedimos: Inspirai-nos o sonho de um Mundo Novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz” (Oração CF23).

Meditemos! Unidos e unidas como irmãos e irmãs, vivamos a Páscoa! Vivamos a Passagem! Feliz Páscoa! Feliz Passagem!





Fotos do Centro Comunitário do Parque Amazônia
Goiânia - GO: da década de 1970

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 02 de aril de 2023








A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos