sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Vitória histórica dos Trabalhadores e Trabalhadoras

 


Com suas lutas, os trabalhadores e trabalhadoras têm desempenhado - ao longo da história - papel fundamental na construção de sociedades mais justas, igualitárias e democráticas. Toda conquista representa não somente uma vitória particular de uma categoria de trabalhadores e trabalhadoras, mas - também e sobretudo - um passo importantíssimo em direção à valorização do trabalho e ao respeito dos direitos humanos.

Em julho de 2015, dirigindo-se aos participantes dos Movimentos Populares, o Papa Francisco declarou: “Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas mãos de vocês, na capacidade de vocês se organizarem e promoverem alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (terra, teto, trabalho), e na participação de vocês como protagonistas nos grandes processos de mudança, regionais, nacionais e mundiais” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).

As principais conquistas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras são: a Jornada de trabalho regulamentada, o direito ao descanso semanal remunerado, a licença maternidade e paternidade, a garantia de salário-mínimo, a proteção contra demissão arbitrária e o direito à sindicalização. Elas foram alcançadas por meio de negociações, mobilizações sociais, greves e enfrentando resistências e desafios. Cada avanço reforça a importância de manter a luta e o engajamento por direitos e melhores condições de trabalho.

As vitórias dos trabalhadores e trabalhadoras vão além de aumentos salariais e melhorias nas condições de trabalho. Elas envolvem reconhecimento, dignidade, inclusão e oportunidades para todos e todas. É resultado de organização, mobilização e diálogo dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Nos últimos anos, o mundo do trabalho passou por grandes transformações: a digitalização, o trabalho remoto, e o surgimento de novas formas de contratação.

Essas mudanças trazem benefícios, mas apresentam também desafios, como a precarização, a informalidade e a necessidade de adaptação das leis trabalhistas.

Os trabalhadores e as trabalhadoras continuam mobilizados, buscando garantir que seus direitos sejam preservados e que novas conquistas sejam alcançadas, levando em conta as demandas específicas de grupos historicamente marginalizados, como mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e comunidade LGBTQIA+.

Os Sindicatos continuam sendo protagonistas na defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, promovendo negociações coletivas, campanhas de conscientização e apoio jurídico.

Paralelamente, a sociedade civil, por meio de ONGs, Movimentos Sociais Populares e Redes de apoio contribuem para ampliar o alcance dessas conquistas.

Depois de muitas lutas e mobilizações, os trabalhadores e trabalhadoras tiveram mais uma vitória histórica. Pela pressão popular, no dia 1º deste mês de outubro, a Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade (493 votos favoráveis), o Projeto de Lei (PL) 1.087/2025 que isenta de Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil (mais de 10 milhões de brasileiros/as) e institui cobrança adicional para pessoas com rendimento acima de R$ 800 mil ao ano (cf. Agência Câmara de Notícias).

Por fim, permito-me uma reflexão, que considero fundamental:

Não podemos esquecer das reais ambiguidades do Projeto Social Capitalista Neoliberal ou Ultraneoliberal. Ele é um Projeto Social (socioeconômico-sociopolítico-socioecológico-sociocultural-socioreligioso) estruturalmente desumano, injusto, antiético e - mais ainda - anticristão. Na Teologia Moral da Libertação, o Projeto Social Capitalista é o “pecado estrutural”.

Nesse Projeto Social, a democracia formal existe para todos e todas (o que não acontece num regime ditatorial), mas a democracia real existe só para a minoria que detém o poder econômico. Exemplo: a moradia é um direito formal para todos/as, mas um direito real somente para a minoria.

Por isso, os trabalhadores e trabalhadoras - com seus aliados e aliadas - nos Sindicatos e nos Movimentos Sociais Populares devem ter sempre duas frentes de luta.

Na primeira (mais imediata), devem lutar - unidos e organizados (mesmo com suas diferenças e divergências) - para conseguir novas vitórias no Projeto Social Capitalista, aproveitando a democracia formal, mas tendo consciência de sua ambiguidade: de um lado, essas vitórias melhoram a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras; de outro lado, servem para fortalecer o Projeto Social Capitalista (evitando protestos e greves).

Na segunda frente de luta, os Trabalhadores e Trabalhadoras - com seus aliados e aliadas - devem abrir caminhos novos que levem a superar (ou, derrubar) o Projeto Social Capitalista e a implantar o Projeto Social Popular (comunitário e sem classes ou socialista e comunista no verdadeiro sentido das palavras).  

“A misericórdia (que é o amor acontecendo) sempre será necessária, mas não deve contribuir para criar círculos viciosos que sejam funcionais para um Sistema econômico iníquo. Requer-se que as obras de misericórdia sejam acompanhadas pela busca de verdadeira justiça social, que vá elevando o nível de vida dos cidadãos, promovendo-os como sujeitos de seu próprio desenvolvimento” (Documento de Aparecida - DA 385).

Mesmo no Projeto Social Capitalista - a classe produtora é a dos Trabalhadores/as e não a dos Proprietários/as (como se costuma dizer). Unidos/as e organizados/as continuemos a luta, Jesus de Nazaré está do nosso lado. "Continuem a combater a economia criminosa com a economia popular. Não desistam...” (https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2024-09/papa-movimentos-populares-sao-calisto-justica-social-amor.html).

(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
08 de outubro de 2025


domingo, 5 de outubro de 2025

O Ser humano meta-histórico “além da morte” (3)

 


(Continua o tema do último artigo sobre o Ser Humano - parte 3)

O Ser humano histórico chega à descoberta da sua dimensão meta-histórica “além da morte” e da necessidade da existência de Deus pelos caminhos existenciais apresentados anteriormente e pela experiência mística (religiosa e/ou de Fé), que apresento agora.

Entre os momentos marcantes da experiência mística, destaco: a radical exigência que o Ser humano histórico tem de transcender toda situação; a clara percepção que seus anseios se dirigem a um Absoluto que precisa ser descoberto; e o encontro de amor interpessoal com o Outro Absoluto, que exige o encontro de amor interpessoal com os outros e as outras (semelhantes).

A verdadeira e autêntica experiência mística (religiosa e/ou de Fé) não leva o Ser humano a fugir da história, social e individual, mas a mergulhar mais profundamente nela para - em seu dinamismo conflitivo - buscar, descobrir e encontrar o Absoluto.

Na experiência de Fé cristã, "Cristo é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque Nele foram criadas (e são criadas) todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis; (...) tudo foi criado (e é criado) por Ele e para Ele. Ele é antes de tudo e tudo Nele subsiste" (Cl 1, 15-17).

Cristo é "o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim" (Ap 22, 13). "O Verbo de Deus, pelo qual todas as coisas foram feitas (e são feitas), Ele próprio se encarnou, de tal modo que, como Ser humano perfeito, salvasse todos os Seres humanos e recapitulasse todas as coisas. O Senhor é o fim da história humana, ponto ao qual convergem as aspirações da história e da civilização, centro da humanidade, alegria de todos os corações e plenitude de todos os seus desejos" (Concílio Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje - GS, 45).

Para os cristãos e as cristãs toda a história humana no mundo e com o mundo tem, portanto, uma dimensão crística. E é por isso que "o mistério do Ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado. Com efeito, Adão o primeiro Ser humano era figura daquele que haveria de vir, isto é, de Cristo Senhor. Novo Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e de seu amor, Cristo manifesta plenamente o Ser humano ao próprio Ser humano e lhe descobre a sua altíssima vocação" (ib. 22).

A partir do Ser humano histórico em sua condição existencial, tiramos a seguinte conclusão:   Cientificamente falando, podemos chegar a negar “determinadas maneiras” de entender a meta-historicidade do Ser humano “além da morte” (formas particulares) e “determinadas maneiras” de entender a existência de Deus (ateismos particulares), mas não podemos afirmar e nem negar a meta-historicidade do Ser humano “além da morte” e a existência de Deus em sentido absoluto (ateismo absoluto). Isso "extrapola" o nível da ciência.

Por exemplo, a respeito da existência de Deus, "fisicamente" falando, podemos negar - pela verifição experimental - a existência de um Deus-Primeira Causa "física" (Primeiro Motor "físico"), "em cima" ou "na frente"; "biologicamente" falando, podemos negar - sempre pela verificação experimental - a existência de um Deus-Primeira Causa "biológica" (Primeiro Motor "biológico"), "em cima" ou "na frente"; "sociologicamente" falando, podemos negar - pela verificação experimental e análise dos fatos - a existência de um Deus-Primeira Causa "social" (da sociedade), "em cima" ou "na frente".

Este Deus-Primeira Causa "social" é apresentado também como a Primeira Causa "legitimadora" da "ordem" - que, muitas vezes, é uma "desordem estrutural" ("estabelecida", "institucionalizada") - e torna-se, assim, um Deus-Fetiche (Ver o pensamento de K. MARX sobre o fetichismo e o pensamento de E. DUSSEL sobre a religião fetichista).

Determinadas formas de "ateismo" moderno têm, portanto, um caráter "libertador". Negam as concepções de Deus baseadas numa visão "pré-científica" do mundo e afirmam a "autonomia" do Ser humano histórico como ser de Práxis. Não negam, porém, a meta-historicidade do Ser humano “além da morte” e a existência de Deus em sentido absoluto.

(No próximo artigo sobre o Ser Humano, continua o mesmo tema: parte 4)


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
 
Goiânia, 03 de setembro de 2025




O artigo foi publicado originalmente em: 

https://portaldascebs.org.br/o-ser-humano-meta-historico-alem-da-morte-3/ (22/09/25)



A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos