A
palavra “laico” ou “leigo” (em português) deriva da palavra “laikós” (em
grego), que significa “do Povo”. Neste sentido, todos e todas somos igualmente
laicos ou leigos, ou seja, “do Povo“.
Portanto,
o Estado - em nível local (Governo Municipal), regional (Governo Estadual) e
nacional (Governo Federal) - é do Povo (Popular). É o Povo que faz o Estado,
pela prática da Democracia indireta (eleições livres de seus representantes) e
da Democracia direta (plebiscitos, referendos e leis de iniciativa popular). O
Povo é soberano e não pode ser manipulado, comprado e usado por grupos
poderosos, em função de seus interesses econômicos e políticos.
Outro
Brasil é possível e necessário! Como Povo de trabalhadores e trabalhadoras, que
produzem todos os bens do país, precisamos com urgência tomar as rédeas do
Estado (Poder Judiciário, Legislativo e Executivo), que é nosso, construindo o
Projeto Popular (social, econômico, político, ecológico e cultural), que é a
Sociedade do Bem Viver e do Bem Conviver, ou - à luz da Fé - o Reino de Deus na
história do ser humano e do mundo.
Poder
é serviço. Todos e todas temos algum poder, que devemos exercer em benefício do
bem comum. Nas eleições precisamos escolher Partidos ou Correntes de Partidos e
Políticos/as, que estejam imbuídos/as desse espírito e se identifiquem com o
Projeto Popular, como Projeto alternativo ao Projeto Capitalista Neoliberal,
que - por ser um Projeto estruturalmente desigual e violento, iníquo e
perverso, injusto e antiético - não pode ser reformado ou humanizado, mas deve
ser superado.
Sendo
a história um processo dialético (contraditório), a única coisa que podemos
fazer - enquanto construímos (dando passos concretos), no meio de contradições
e ambiguidades, o Projeto Popular - é amenizar, com programas sociais
assistenciais e promocionais, os efeitos deletérios do Projeto Capitalista
Neoliberal para a maioria do Povo. Os/as que estão preocupados/as com a
“governabilidade capitalista neoliberal” e a reforçam com sua prática política,
não estão comprometidos/as (mesmo que digam o contrário) com o Projeto Popular.
Entre
os Partidos ou Correntes de Partidos e seus Políticos/as, que defendem a
construção do Projeto Popular e os Partidos ou Correntes de Partidos e seus
Políticos/as, que defendem a manutenção do Projeto Capitalista Neoliberal -
numa pratica politica coerente (não oportunista), humana e ética - não dá para
fazer “aliança” (que é “comunhão de Projetos”), mas somente “acordos pontuais”
(muitas vezes por razões diferentes e até opostas) em determinadas situações
conjunturais concretas.
Lembremos
disso nas eleições! Não nos deixemos enganar por Políticos/as oportunistas,
hipócritas e demagogos, que usam todos os meios - inclusive a Religião e o nome
de Deus - para legitimar situações políticas injustas, desumanas,
antiecológicas e antiéticas, e para defender seus próprios interesses e os dos
grupos políticos poderosos aos quais servem e dos quais são meros fantoches.
O
Estado do Povo (laico) e todas as realidades temporais são autônomas, em sua
estrutura e funcionamento. Não dependem de nenhuma Religião ou Igreja. Por
exemplo, não existe Partido Político “cristão”. O que existe é somente Partido
Político, que - em seus quadros - pode ter cidadãos/ãs que são também cristãos/ãs.
Não existe Democracia “cristã”. O que existe é somente Democracia, que pode ser
praticada por cidadãos/ãs que são também cristãos/ãs.
Por
autonomia das realidades temporais entende-se que “todas as coisas possuem
consistência, verdade, bondade e leis próprias, que o ser humano deve
respeitar, reconhecendo os métodos peculiares de cada ciência e arte”.
As
realidades temporais e as da Fé “têm origem no mesmo Deus. Antes, quem se
esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da natureza, é,
mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de Deus, o
qual sustenta as coisas e as faz ser o que são” (Concílio Vaticano II. A Igreja
no mundo de hoje - GS 36).
Portanto,
a Fé - se for verdadeira - não aliena e não é ópio do Povo, mas é uma luz que
ilumina a razão para que o ser humano possa entender melhor e mais
profundamente o sentido de sua vida e de todas as formas de vida que existem no
mundo. "A Fé esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano
divino sobre a vocação integral do ser humano. E por isso orienta a mente para
soluções plenamente humanas" (GS 11).
O
plenamente humano, para os cristãos/ãs, inclui a dimensão da Fé. Quando
verdadeira, a Fé humaniza, torna o ser humano mais ser humano. O autêntico cristianismo
é um humanismo pleno (radical). Ser cristãos/ãs é ser plenamente (radicalmente)
humanos. O plenamente (radicalmente) humano é cristão (divino em Cristo) e o
cristão é plenamente (radicalmente) humano. "Todo aquele que segue Cristo,
o Homem perfeito, torna-se ele também mais ser humano" (GS 41).
Como
seres humanos e como cristãos/ãs, lutamos por um humanismo pleno (radical) que
seja natural e um naturalismo pleno (radical) que seja humano. A natureza é o
jardim e o ser humano, o jardineiro. O jardim não existe sem o jardineiro e o
jardineiro não existe sem o jardim.
Em
tempo de eleições, estejamos de olhos bem abertos e gritemos alto e bom som: o
Estado é do Povo (laico), o Estado somos nós!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 26 de setembro de 2018