quinta-feira, 2 de agosto de 2018

PJMP: rosto jovem da Igreja de Jesus de Nazaré



“Vou seguindo firme e forte, sem medo de anunciar
Proclamando fé e vida, sou do meio popular”
(Hino do 5º Congresso Nacional da PJMP)   


De 9 a 13 de julho passado aconteceu em Goiânia, na Região Noroeste - Paróquia Nossa Senhora da Terra - o 5º Congresso Nacional da Pastoral da Juventude do Meio Popular - PJMP, celebrando 40 anos de caminhada - de fé, de luta, “de ternura e resistência” - no meio popular.
“Tantos anos de história é preciso celebrar. Celebrar em Romaria nossa classe popular. Buscando libertação, vem conosco, vem lutar. Somos filhos da Mãe Terra, do Divino Criador. Fui banhado no Espírito, para o Reino proclamar. Viva nossa resistência, viva o meio popular” (Hino citado).
Participaram do Congresso - nas terras vermelhas do Cerrado brasileiro - delegações de jovens - com seus coordenadores/as e assessores/as, regionais e nacionais - de diversos Estados do Brasil: Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal.
Tivemos a alegria da presença de alguns padres, de diversas religiosas de diferentes Congregações, de um religioso dominicano (Frei Carlinhos) e de quatro jovens frades dominicanos, estudantes de filosofia, de São Paulo.
    Para Goiânia (de maneira especial, para a Paróquia Nossa Senhora da Terra, Comunidade de 5 Comunidades: Nossa Senhora da Terra, Jesus de Nazaré, Nossa Senhora da Vitória, Maria Mãe Santíssima e Nossa Senhora da Paz), para Goiás e para o Brasil, o Congresso foi uma grande graça de Deus.
Para centenas de jovens da PJMP, assessores/as e outras pessoas que participaram ativamente de sua programação (cerca de 400 pessoas) ou de suas equipes de serviço (cerca de 100 pessoas), o Congresso foi um novo Pentecostes.
Para mim pessoalmente - que sou jovem há bastante tempo - o Congresso foi uma das experiências de fé comprometida mais bonitas de toda minha vida.
    O tema do Congresso foi “Águas e Profecias: Luzes do Meio Popular gerando Vida” e o lema “Juventude e seu Protagonismo, Resistência e Liberdade”.
     Na noite do dia 9 tivemos a Missa de abertura, presidida por Dom Moacir Silva Arantes (bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia) e concelebrada pelos padres Antônio e Tadeu (assessores nacionais da PJMP), Hélio (assessor do Regional Nordeste 2 da PJMP) e pelos padres Francisco Carlos, Vitor Simão, José de Oliveira, Antônio Rocha - Pe. Baiano (da Arquidiocese de Goiânia) e por mim, Frei Marcos, da Paróquia Nossa Senhora da Terra (Arquidiocese de Goiânia), que - com muito carinho de irmãos e irmãs - acolheu os congressistas, Foi uma celebração alegre e comprometida, fazendo memória dos 40 anos da PJMP e dos 30 anos da Comunidade Nossa Senhora da Terra.
     No início da manhã dos dias 10, 11 e 12 tivemos as “místicas” - presididas pelos próprios jovens e assessores/as - que foram celebrações vibrantes, muito criativas, de uma fé profundamente encarnada na realidade do Brasil e do mundo e totalmente conectadas com os desafios que essa realidade nos apresenta hoje. Nessas celebrações fizemos a experiência da presença do jovem - sempre jovem - Jesus de Nazaré em nosso meio.
     As Plenárias Gerais, na manhã dos dias 10 e 11 e na manhã e tarde do dia 12, abordaram os temas: Águas e profecias: luzes do meio popular gerando vida - 40 anos de ternura e resistência; Juventudes e superação das violências - em Cristo somos todos e todas irmãos e irmãs; Juventudes com afetos; Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão - 50 anos de Medellín e a Igreja na América Latina.
    As Plenárias Específicas e as Oficinas temáticas, na tarde dos dias 10 e 11, refletiram e aprofundaram os temas: Povos e comunidades tradicionais: uma história de luta e resistência no Brasil; A luta pela terra e a urgência histórica de fazer a reforma agrária popular; Igreja e sistema político: essa luta é nossa, essa luta é do povo; Da educação popular à emancipação dos povos - saberes e fazeres compartilhados; Fé e política; Tradições de homens só não valem mais a pena - nós cremos sim em Débora, em Sara e Ester.
As três Noites Culturais foram muito criativas, de uma alegria contagiante e profundamente significativas: uma experiência única.
    No dia 13, às 8:30 horas, os participantes do Congresso e das equipes de serviço fomos à Trindade. Com muita fé, alegria e cantos de luta, caminhamos em Romaria, do trevo da cidade até o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno: a casa da Santíssima Trindade, a melhor Comunidade. Maria, na imagem da Trindade, representa toda a humanidade, mergulhada no mistério do Amor de Deus.
     Às 11 horas tivemos - sempre com muita fé e alegria - a Missa de Envio, presidida por mim, Frei Marcos, e concelebrada pelos padres Antônio e Tadeu (assessores nacionais da PJMP), Hélio (assessor do Nordeste 2 da PJMP) e pelos padres Antônio Ramos do Prado - Pe. Toninho (assessor da Comissão Episcopal Pastoral para Juventude da CNBB - CEPJ) e Frei José Fernandes, provincial dos Dominicanos.  
Encerramos o Congresso com um gostoso almoço de confraternização e com direito a muitas fotos e calorosos abraços.  
Agora, jovens da PJMP, o Congresso continua de outra forma. Vivam e testemunhem seus frutos em todos os cantos desse nosso imenso Brasil! Sejam “luzes do meio popular gerando vida”!
     Queridos e queridas jovens da PJMP, como um irmão, que - apesar da idade - não desiste de ser jovem, “revolucionário e rebelde”, peço-lhes que nunca esqueçam: é a fé e a teimosia de vocês que fazem acontecer, na história do ser humano e do mundo, a Sociedade do Bem Viver e do Bem Conviver, que é o Reino de Deus: a Boa Notícia de Jesus de Nazaré.
Parabéns, jovens da PJMP! Jesus caminha com vocês! Experimentem sempre sua presença e a força do Espírito Santo - o Amor de Deus - que Ele derramou - e continua derramando - sobre vocês: rosto jovem de sua Igreja, renovada e libertadora. É essa a Igreja que o Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín sonharam! É essa a Igreja que as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) querem ser! É essa a Igreja da PJMP! É essa a “Igreja da Caminhada”!
Ter tido a possibilidade de conviver, nos dias do Congresso, com tantos/as jovens da PJMP - verdadeiros seguidores/as, discípulos/as missionários/as de Jesus de Nazaré, profetas e profetisas da vida - foi realmente um dom especial de Deus e uma experiência inesquecível
Jovens, "Eu peço que vocês sejam revolucionários/as, que vão contra a corrente, peço que se rebelem: que se rebelem..." (Papa Francisco), até na Igreja, se for necessário para viver a radicalidade do Evangelho.
Término comunicando: a delegação do Estado do Ceará, que foi a mais numerosa (98 jovens e assessores/as), com muita animação, pediu que o 6º Congresso Nacional da PJMP em 2023 fosse celebrado no seu Estado. O pedido foi aceito. Até lá, até os “45 anos de ternura e resistência”, se Deus quiser! A luta continua! Viva a PJMP!



http://www.pjmp.org/sites/default/files/styles/juicebox_medium/public/galerias/img_7293.jpg?itok=Ihk9ZwY0
http://www.pjmp.org/sites/default/files/styles/interna_post/public/noticias/37090669_1847078942005295_425238192216604672_o.jpg?itok=37UTggGJ


http://www.pjmp.org/sites/default/files/styles/destaque_thumb/public/destaque_pjmp_07_18_02.jpg?itok=x8jh_bc3

Resultado de imagem para Imagens do V Congresso Nacional da pjmp

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 25 de julho de 2018

sábado, 30 de junho de 2018

Medellín em gotas: 10ª- Luzes para a ação evangelizadora

               
  Nossa missão pastoral - afirmam os participantes da II Conferência Episcopal -
“é essencialmente serviço de inspiração e de educação das consciências dos fiéis para ajudar-lhes a perceberem as exigências e responsabilidades de sua fé na vida pessoal e social”. Dentro dessa perspectiva, a Conferência “quer evidenciar as mais importantes para os países de nosso continente, tendo em conta o juízo de valor que, sobre a situação econômica e social do mundo de hoje, emitiram os últimos documentos do magistério da Igreja e que no continente latino-americano têm plena vigência”.
    O documento “Justiça” oferece luzes para a ação evangelizadora que liberta e que - abrindo caminhos novos - faz acontecer a Sociedade do Bem Viver: o Reino de Deus na história do ser humano e do mundo.
1. A Igreja latino-americana “julga dever orientar-se para a formação de comunidades nacionais, que refletem uma organização global, onde toda a população, porém, especialmente as classes populares, tenha, através de estruturas territoriais e funcionais, uma participação receptiva e ativa, criadora e decisiva, na construção de uma nova sociedade”.
   2. As estruturas intermediárias entre a pessoa e o Estado “devem ser organizadas livremente, sem uma intervenção indevida da autoridade ou de grupos dominantes, no seu desenvolvimento e na sua participação concreta na realização do bem comum total. Constituem a trama vital da sociedade. São também a expressão real da liberdade e da solidariedade dos cidadãos”.
3. A família - sem desconhecer seu caráter insubstituível como grupo natural - é uma estrutura intermediária. “O conjunto das famílias deve assumir sua função no processo de transformação social. As famílias latino-americanas deverão organizar seu potencial econômico e cultural para que suas legítimas necessidades e aspirações sejam levadas em conta, dentro dos setores onde se tomam as decisões fundamentais, que podem promovê-las ou prejudicá-las. Deste modo, assumirão um papel representativo e de participação eficiente na vida de comunidade global. Além da dinâmica que lhes cabe desencadear no conjunto de famílias de cada país, é necessário que os governos estabeleçam uma legislação e uma sadia e atualizada política familiar”.
          4. O trabalho - sem desconhecer a totalidade de seu significado humano - é também (como já disse na 7ª Gota “Situação de Injustiça”) uma estrutura intermediária “enquanto constitui a função que dá origem à organização profissional no campo da produção”. Reparem: “Por isso, na estrutura intermediária profissional, a organização sindical rural e operária, deverá adquirir a força e a presença suficientes a que os trabalhadores têm direito. Suas associações deverão ter uma força de solidariedade e responsabilidade capaz de fazer valer o direito de sua representação e participação nos meios de produção e no comércio nacional, continental e internacional”. A II Conferência Episcopal “dirige-se a todos aqueles que, com o esforço diário, vão criando os bens e serviços que permitem a existência e o desenvolvimento da vida humana”. De modo muito especial pensa “nos milhões de homens e mulheres latino-americanos, que constituem o setor camponês e operário. Eles, na sua maioria, sofrem, esperam e se esforçam por uma mudança que humanize e dignifique seu trabalho”. Embora considerando “a diversidade de situações e recursos em países diferentes, não há dúvida de que existe um denominador comum em todas elas: a necessidade de uma promoção humana para as populações camponesas e indígenas. Esta promoção não será viável se não for realizada uma autêntica e urgente reforma das estruturas e da política agrárias. Esta transformação estrutural e suas políticas correspondentes não podem limitar-se a uma simples distribuição de terras. Torna-se necessário fazer um estudo profundo das mesmas, segundo determinadas condições que legitimam sua ocupação e seu rendimento, tanto para as famílias camponesas como para sua contribuição à economia do país”. Isso exigirá “a organização dos camponeses em estruturas intermediárias eficazes, principalmente em forma de cooperativas e estímulo para a criação de centros urbanos nos meios rurais, que permitam o acesso da população camponesa aos bens de sua cultura, da saúde, desenvolvimento espiritual e de sua participação nas decisões locais e naquelas que incidam sobre a economia e a política nacional”.
  5. A industrialização é um processo “irreversível e necessário à independência econômica e para que possamos nos integrar na moderna economia mundial”. Se for a serviço do bem comum - de todos e todas, principalmente dos trabalhadores e trabalhadoras - ela “será um fator decisivo à elevação dos níveis de vida de nossos povos e para que se possa proporcionar-lhes melhores condições para o desenvolvimento integral”. Para isso “é indispensável que se revejam os planos e as macroeconomias nacionais, salvando-se a legítima autonomia de nossos países, as justas reivindicações das nações mais fracas e a almejada integração econômica do continente, respeitando-se sempre os inalienáveis direitos das pessoas e das estruturas intermediárias, como protagonistas deste processo”. 
          6. A reforma política é um requisito indispensável “em face da necessidade de uma transformação global nas estruturas latino-americanas”. “O exercício da autoridade política e suas decisões têm como única finalidade o bem comum”. Reparem mais uma vez: “Na América Latina tal exercício e decisões frequentemente aparecem favorecendo sistemas que atentam contra o bem comum ou favorecem grupos privilegiados”.
7. A informação e a conscientização são também indispensáveis. “Desejamos afirmar que é indispensável a formação da consciência social e a percepção realista dos problemas da comunidade e das estruturas sociais. Devemos despertar a consciência social e hábitos comunitários em todos os meios e grupos profissionais, seja no que se refere ao diálogo e à vivência comunitária dentro do mesmo grupo, seja no que se refere a suas relações com grupos sociais maiores” (operários, camponeses, profissionais liberais e outros). Reparem outra vez: “A tarefa de conscientizar e educar socialmente, deverá ser parte integrante dos Planos de Pastoral de Conjunto, em seus diversos níveis”. Nossas Igrejas têm hoje essa preocupação? Reparem novamente: “É necessário que as pequenas comunidades sociológicas de base se desenvolvam para o estabelecimento de um equilíbrio diante dos grupos minoritários, que são grupos que detêm o poder”. Por fim, “a Comissão de Justiça e Paz deverá ser promovida em todos os países, pelo menos em nível nacional”. As Conferências Episcopais - numa autêntica atitude de serviço - “constituirão sua Comissão de Ação ou Pastoral Social”. “O mesmo vale para os níveis diocesanos”. Que estas luzes nos ajudem a entender - melhor e mais profundamente - a realidade na qual vivemos e a encontrar estratégias eficazes para mudá-la.
(Comunico aos prezados leitores e leitoras que - se Deus quiser - voltarei a escrever em agosto)


Descrição: Resultado de imagem para Fotos da II Conferência Episcopal da América Latina e Caribe em Medellín, 1968



Descrição: Imagem relacionada


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 27 de junho de 2018



sexta-feira, 22 de junho de 2018

Medellín em gotas: 9ª- Igreja servidora



A Igreja “é-no-mundo”, é mundo e serve ao mundo. No processo de socialização - “como processo sociocultural de personalização e solidariedade crescente” - a Igreja, cumprindo sua missão de servidora, contribui na construção da Sociedade do Bem Viver ou, à luz da Fé, do Reino de Deus - “Reino de Justiça, de Amor e de Paz” - que é a Boa Notícia de Jesus de Nazaré.
O documento “Justiça” afirma: “A Igreja Latino-Americana tem uma mensagem para todos os seres humanos que neste continente têm ‘fome e sede de justiça’. O mesmo Deus que criou o ser humano à sua imagem e semelhança, criou a terra e tudo o que nela existe para uso (e - acrescento eu - cuidado) de todos os seres humanos, e de todos os povos, de modo que os bens criados possam bastar a todos de maneira mais justa (Concílio Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje - GS 69), e dá poder ao ser humano para que solidariamente transforme e aperfeiçoe o mundo (Gn 1,29). É o mesmo Deus que, na plenitude dos tempos envia seu Filho para que feito carne, venha libertar (reparem: libertar) todos os seres humanos, de todas as escravidões a que o pecado os sujeita: a fome, a miséria, a opressão e a ignorância, numa palavra, a injustiça que tem sua origem no egoísmo humano (Jo 8,32-34)”.
Continua reconhecendo: “Por isso, para nossa verdadeira libertação (reparem novamente: verdadeira libertação), todos os seres humanos necessitam de profunda conversão para que chegue a nós o ‘Reino de Justiça, de Amor e de Paz’. A origem de todo desprezo ao ser humano, de toda injustiça, deve ser procurada no desequilíbrio interior da liberdade humana, que necessita sempre, na história, de um permanente esforço de retificação”.
E ainda: “A originalidade da mensagem cristã não consiste tanto na afirmação da necessidade de uma mudança de estruturas, quanto na insistência que devemos por na conversão do ser humano. Não teremos um continente novo sem novas e renovadas estruturas, mas sobretudo não haverá continente novo sem seres humanos novos, que à luz do Evangelho saibam ser verdadeiramente livres e responsáveis”.
Lembra, pois: “Somente a luz de Cristo esclarece o mistério do ser humano. Sob essa luz, toda a obra divina, na história da salvação é uma ação de promoção e de libertação humana (reparem mais uma vez: de promoção e de libertação humana) que tem como único objeto o amor. O ser humano é ‘criado em Cristo Jesus’, feito nele ‘criatura nova’ (2Cor 5,17). Pela fé e pelo batismo, o ser humano é transformado, cheio do dom do Espírito, com um dinamismo novo, não de egoísmo, mas de amor que o leva a buscar uma nova relação mais profunda com Deus, com os seres humanos seus irmãos e com as coisas. O amor, ‘a lei fundamental da perfeição humana, e portanto da transformação do mundo’ (GS 32), não é somente o mandamento supremo do Senhor, é também o dinamismo que deve mover os cristãos a realizarem a justiça no mundo, tendo como fundamento a verdade e como sinal a liberdade”.
E declara: “É assim que a Igreja quer servir ao mundo, irradiando sobre ele uma luz e uma vida que cura e eleva a dignidade da pessoa humana (GS 41), consolida a unidade da sociedade (GS 42) e dá um sentido e um significado mais profundo a toda a atividade dos seres humanos”.
Com toda firmeza, destaca: “Certamente, para a Igreja, a plenitude e a perfeição da vocação humana se alcança com a inserção definitiva de cada ser humano na Páscoa ou triunfo de Cristo, porém a esperança de tal realização definitiva, antes de adormecer, deve ‘avivar a preocupação de aperfeiçoar esta terra onde cresce o corpo da nova família humana, o que pode, de certa maneira, antecipar a visão do novo século’. Não confundimos progresso temporal com Reino de Cristo; entretanto, o primeiro, ‘enquanto pode contribuir a ordenar melhor a sociedade humana, interessa em grande medida o Reino de Deus’ (GS 39)’.
E conclui: “A busca cristã da justiça é uma exigência do ensinamento bíblico. Todos os seres humanos, somos apenas humildes administradores dos bens”.
Termina com uma afirmação que é fundamental para a nossa missão de cristãos e cristãs: “Na busca da salvação devemos evitar o dualismo que separa as tarefas temporais da santificação. Apesar de estarmos rodeados de imperfeições, somos seres humanos de esperança. Cremos que o amor a Cristo e a nossos irmãos será não somente a grande força libertadora (reparem outra vez: a grande força libertadora)  da injustiça e da opressão, mas também e principalmente a inspiradora da justiça social, entendida como concepção de vida e como impulso para o desenvolvimento integral de nossos povos”.
O presente texto é verdadeira Teologia da Libertação. Infelizmente, na Igreja, muitos e muitas esqueceram-no ou fizeram questão de esquecê-lo.  O texto é tão claro que não precisa de maiores explicações. Para todos e todas nós, cristãos e cristãs, deve ser um texto de cabeceira. Ele é uma luz que ilumina toda nossa ação evangelizadora. Meditemos!



Resultado de imagem para Fotos da II Conferência Episcopal da América Latina e Caribe em Medellín, 1968

Imagem relacionada

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 20 de junho de 2018

sábado, 16 de junho de 2018

Papa Francisco parabeniza Gustavo Gutiérrez



Gustavo Gutiérrez Merino, Frade Dominicano, nasceu em Lima, no Peru, no dia 8 de junho de 1928. É considerado o “Pai da Teologia da Libertação”. Hoje, ele reside no Convento dos Dominicanos de Lima. Dedica-se ao trabalho pastoral, à pregação de Retiros, à administração de Cursos de Teologia na Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA) e no “Studium” Dominicano de Lille (França), e de Conferências em Cursos e Encontros.
Com todo carinho e apreço - como um irmão que de coração aberto escreve a outro irmão - o Papa Francisco envia uma Carta ao teólogo Gustavo Gutiérrez Merino, parabenizando-o pelo seu aniversário de 90 anos (8 de junho de 2018) e agradecendo o seu serviço teológico e o seu amor aos pobres. Por fim, encoraja-o a seguir adiante.
   Vejam que carta bonita e singela: “Estimado irmão: Por ocasião do seu 90º aniversário, escrevo para parabenizá-lo e assegurá-lo de minha oração neste momento significativo de sua vida.
  Uno-me à sua ação de graças a Deus, e agradeço-lhe pela sua contribuição à Igreja e à humanidade através do seu serviço teológico e o seu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade. Obrigado por todos os seus esforços e pela sua maneira de interpretar a consciência de cada um, para que ninguém seja indiferente ao drama da pobreza e da exclusão”.
Conclui o Papa: “Com esses sentimentos encorajo você a continuar a sua oração e o seu serviço aos outros, dando testemunho da alegria do Evangelho. E por favor, peço-lhe que reze por mim. Que Jesus te abençoe e que a Virgem Santa te cuide!. Fraternalmente, Francisco”.
    Por ser uma pessoa despojada de qualquer formalismo, o que nos toca mais profundamente nas palavras do Papa é sua simplicidade e sua sinceridade.
Francisco já tinha recebido Gustavo Gutiérrez no Vaticano em 14 de setembro de 2013 e também em 22 de novembro de 2014, por ocasião da audiência aos missionários italianos que participaram do 4º Encontro Missionário Nacional em Roma, no qual Gutierrez foi um dos conferencistas.
    A manifestação de um carinho e de uma gratidão toda especial do Papa Francisco ao teólogo Gustavo Gutiérrez “foi celebrada como um gesto de reconhecimento do Santo Padre em relação à Teologia da Libertação por uma série de teólogos, intelectuais e lideranças ligadas a esta tradição que nasceu na América Latina”. Frei Betto declarou: “Ao felicitar nosso confrade e meu dileto amigo Gustavo Gutiérrez por seus 90 anos, o Papa Francisco reconhece o valor da Teologia da Libertação e reforça na Igreja a Opção pelos Pobres” (http://franciscanos.org.br/?p=162244).
     Na verdade, toda Teologia é da Libertação. Se não for da Libertação, não é verdadeira Teologia. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). “Eu vim para que todos e todas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
     A expressão “da Libertação” - de alguma forma - é uma redundância, mas serve de lembrete. Convida-nos a “fazer teologia” sempre a partir da realidade (da práxis: prática e teoria) e à luz da Palavra, para que o a reflexão teológica nos ajude a entender - melhor e mais profundamente - o sentido da vida e nos comprometa - cada vez mais conscientemente - na luta pela libertação de tudo aquilo que impede a construção de outro mundo possível, que é a sociedade do Bem Viver, que é o Reino de Deus. A Teologia da Libertação é - podemos dizer - o “jeito bíblico” e, de maneira especial, “evangélico” de fazer toda a Teologia.
Uma das críticas que se faz à Teologia da Libertação é a de que - ao menos até agora - ela tratou, quase que exclusivamente, da realidade social e política. Ora, como o ser humano é histórico (um “vir-a-ser”, um ser em construção), seus conhecimentos - meramente racionais (científicos e filosóficos) ou racionais à luz da Fé (teológicos) - são também históricos, situados (no espaço) e datados (no tempo).  
Aconteceu (e poderá sempre acontecer) que - em determinadas situações, para dar sua contribuição na resposta aos prementes desafios apresentados - a Teologia da Libertação aprofundou mais alguns aspectos da realidade (como o social e o político) e deixou na sombra, outros aspectos (como o cultural). Com isso, a Teologia da Libertação deu a impressão que tratava somente de temas sociais e políticos.
Isso é humano e compreensivo quando “se faz teologia” a partir de situações concretas. Aspectos da realidade, que ficaram aparentemente esquecidos, poderão ser aprofundados em outros momentos. Só não se deve apresentar uma parte da verdade como se fosse toda verdade.
Por ser, pois, a história do ser humano no mundo um processo dialético (contraditório) entre libertação e opressão, entre vida e morte (não-vida), infelizmente - além da Teologia da Libertação (a verdadeira Teologia) - temos também a Teologia da Opressão (a falsa Teologia), que procura justificar e legitimar o mal, o pecado - social e pessoal - que existe no mundo, não só racionalmente, mas também em nome de Deus. É a hipocrisia religiosa, que - lamentavelmente - continua presente em nossas Igrejas hoje.
Como seguidores e seguidoras de Jesus - que vivem em Comunidades (Igrejas) - devemos estar sempre inseridos e inseridas (encarnados e incarnadas) na vida do povo, entranhadamente solidários e solidárias com todos e todas que sofrem e organicamente unidos e unidas a todos e todas que lutam pela Vida Humana e por todas as formas de Vida.
    "Como Cristo, por sua Encarnação ligou-se às condições sociais e culturais dos seres humanos com quem conviveu; assim também deve (reparem “deve” e não “pode”) a Igreja inserir-se nas sociedades, para que a todas possa oferecer o mistério da salvação e a vida trazida por Deus” (Concílio Vaticano II. A atividade missionária da Igreja - AG, 10).
Os cristãos e cristãs têm, portanto, o dever de participar (ser militantes) dos Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Partidos Políticos Populares, Fóruns de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos, Conselhos de Direitos e outras Organizações Populares, comprometidas na construção de “outro mundo possível”, que é a sociedade do Bem Viver, que é o Reino de Deus na história do ser humano e do mundo.
Parabéns, meu Irmão Dominicano, Frei Gustavo Gutiérrez. Continue a “fazer Teóloga da Libertação”, oferecendo-nos “novas luzes” para entender o mundo no qual vivemos e cumprir nossa missão de seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré. Unidos na oração.


Resultado de imagem para Fotos de Gustavo Gutiérrez com o Papa  

Resultado de imagem para Fotos do teologo Gustavo Gutiérrez com o Papa Francisco


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 13 de junho de 2018

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos