sábado, 27 de abril de 2019

“A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” (4ª parte)



No Documento “A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum”, o Grão Imame e o Papa destacam também o papel da família no mundo de hoje. “É evidente quão essencial seja a família, como núcleo fundamental da sociedade e da humanidade, para dar à luz filhos, criá-los, educá-los, proporcionar-lhes uma moral sólida e a proteção familiar. Atacar a instituição familiar, desprezando-a ou duvidando da importância de seu papel, constitui um dos males mais perigosos do nosso tempo”.
Destacam ainda, como fator positivo, o despertar do sentido religioso: “Atestamos a importância do despertar do sentido religioso e da necessidade de o reanimar nos corações das novas gerações, através duma educação sadia e da adesão aos valores morais e aos justos ensinamentos religiosos, para enfrentarem as tendências individualistas, egoístas, conflituosas, o sectarismo e o extremismo cego em todas as suas formas e manifestações”.
Lembram o objetivo das religiões: “O primeiro e mais importante objetivo das religiões é o de crer em Deus, honrá-Lo e chamar todos os seres humanos a acreditarem que este universo depende de um Deus que o governa: é o Criador que nos moldou com a Sua Sabedoria divina e nos concedeu o dom da vida para o guardarmos. Um dom que ninguém tem o direito de tirar, ameaçar ou manipular a seu bel-prazer; pelo contrário, todos devem preservar este dom da vida desde o seu início até à sua morte natural”.
Por isso, declaram: “Condenamos todas as práticas que ameaçam a vida, como os genocídios, os atos terroristas, os deslocamentos forçados, o tráfico de órgãos humanos, o aborto e a eutanásia e as políticas que apoiam tudo isto”.
E continuam: “De igual modo declaramos - firmemente - que as religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. Estas calamidades são fruto de desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de pessoas de religião que abusaram - em algumas fases da história - da influência do sentimento religioso sobre os corações dos seres humanos para os levar à realização daquilo que não tem nada a ver com a verdade da religião, para alcançar fins políticos e económicos mundanos e míopes”.  
Fazem, pois, um apelo para que as religiões não sejam instrumentalizadas para justificar e legitimar atos violentos: “Pedimos a todos que cessem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego e deixem de usar o nome de Deus para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão. Pedimo-lo pela nossa fé comum em Deus, que não criou os seres humanos para serem assassinados ou lutarem uns com os outros, nem para serem torturados ou humilhados na sua vida e na sua existência”.
Com efeito, “Deus, o Todo-Poderoso, não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas”.
Por fim, o Documento do Grão Imame e do Papa - de acordo com o ensinamento dos Documentos Internacionais anteriores - sublinha “a importância do papel das religiões na construção da Paz Mundial” e atesta: “A forte convicção de que os verdadeiros ensinamentos das religiões convidam a permanecer ancorados aos valores da paz; apoiar os valores do conhecimento mútuo, da fraternidade humana e da convivência comum; restabelecer a sabedoria, a justiça e a caridade e despertar o sentido da religiosidade entre os jovens, para defender as novas gerações a partir do domínio do pensamento materialista, do perigo das políticas da avidez do lucro desmesurado e da indiferença baseadas na lei da força e não na força da lei”. Diante dessas colocações, não dá para ficar indiferentes! Lutemos!


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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 24 de abril de 2019


sexta-feira, 12 de abril de 2019

A Espiritualidade da Semana Santa

Durante o Ano Litúrgico, os cristãos e cristãs celebramos a memória, ou seja, tornamos presente hoje - em nossa realidade histórica - o significado dos principais acontecimentos da Vida, Morte e Ressurreição de Jesus.
Ainda antes de nascer, Jesus - juntamente com sua mãe Maria e seu pai José - foi “morador de rua”; nasceu como “sem-teto” na manjedoura de um estábulo (cf. Lc 2,1-7); anunciou - pela voz do anjo - a Boa Notícia do seu nascimento aos pastores, os “sem-terra” da época (cf. Lc 2,8-20); recebeu a visita dos Magos, representando todos os povos e todas as culturas (cf. Mt 2,1-12); com Maria e José, seus pais, foi “migrante e refugiado” no Egito, para escapar da ganância e da perversidade de Herodes, que queria mata-lo (cf, Mt 2,13-18); e exerceu a profissão  de carpinteiro, junto com seu pai José (cf. Mt 13,54-55 e Mc 6,3).
Em sua vida pública, Jesus foi sempre próximo e entranhadamente solidário com todos os excluídos/as e descartados/as da sociedade. Como exemplo (entre os muitos que poderiam ser citados), lembro a cura do homem que tinha a mão direita paralisada (cf. Lc 6, 8-11).
Denunciou - cheio de indignação - a hipocrisia dos fariseus e doutores da Lei (cf. Mt 23,13-36); dialogou com o jovem rico, que - pelo seu apego aos bens - não teve a coragem de segui-lo e foi embora triste (cf. Mt 19,16-30; Mc 10,17-31;Lc 18,18-30); encontrou-se com Zaqueu - também homem rico - em sua casa, que se converteu e mudou totalmente de vida, praticando a partilha dos bens (cf. Lc 19,1-10); foi acusado de “subverter” o povo (cf. Lc 23,1-5); e celebrou a Ceia com os discípulos, lavando seus pés (cf. Jo 13,1-20).
Jesus “andou por toda parte fazendo o bem” (At 10,38) e - justamente por isso - incomodou os poderosos de sua época. “O justo nos incomoda e se opõe às nossas ações” (Sb 2,12).
Depois de muitas tentativas por parte dos fariseus e doutores da Lei, Jesus - o Libertador, o Salvador, o Filho de Deus - foi traído por Judas, foi preso e morto na cruz como criminoso, mas Ele venceu a morte e ressuscitou. “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!” (Lc 24, 5-6).
Jesus Ressuscitado enviou o Espírito Santo (o Amor de Deus) aos discípulos. “Jesus disse para eles: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês’. Tendo falado isso, soprou sobre eles, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20, 21-22).
A Espiritualidade da Semana Santa, sobretudo do Tríduo Pascal (a Páscoa - Passagem - em três momentos: o Cristo Crucificado, o Cristo Sepultado e o Cristo Ressuscitado) - é o centro e o cume da Espiritualidade do Ano Litúrgico.
Viver a Espiritualidade da Semana Santa significa viver hoje a Ceia do Senhor, sua Paixão e Morte e sua Ressurreição: a maior prova do Amor de Deus para conosco.
Jesus continua celebrando a Ceia com seus seguidores e seguidoras, em Comunidades de irmãos e irmãs, que - com o testemunho e com a palavra - anunciam a Boa Notícia do Reino de Deus.
Jesus continua sendo criminalizado, preso e morto na cruz, na pessoa dos “moradores de rua”, dos “sem-teto”, dos “sem-terra”, dos “sem-trabalho”, das mulheres violentadas e assassinadas, dos jovens - sobretudo negros - presos e mortos pela polícia, das crianças e dos idosos que morrem por falta de Políticas Públicas de atendimento à Saúde e de todos os excluídos/as e descartados/as de nossa sociedade.
Jesus continua também ressuscitando nas lutas e vitórias do Povo, unido e organizado, nas quais os verdadeiros seguidores e seguidoras de Jesus estão presentes e atuam (Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores/as, Partidos Políticos Populares, Fóruns ou Comitês de Defesa dos Direitos Humanos, e outros).
Por fim, a Espiritualidade da Semana Santa é histórica e perpassa todas as dimensões do ser humano - pessoais e sociais (sócio-econômico-político-ecológico-culturais) - e do mundo. Por isso, Ela é Espiritualidade libertadora. Vivamos hoje a Espiritualidade da Semana Santa! Feliz Páscoa!

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 10 de abril de 2019

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Ditadura militar - Tortura: requinte de perversidade humana


O golpe civil-militar do dia 31 de março de 1964 inaugurou 21 anos de ditadura militar no Brasil. Durante esse malfadado período da história do País, foram praticados os piores crimes contra a humanidade.
Por incrível que pareça, o presidente Jair Bolsonaro determinou que o dia 31 de março de 1964 fosse comemorado, pelas Forças Armadas e pela sociedade, como a “data histórica” do aniversário do golpe civil-militar (55 anos). Além disso, o Planalto – sempre por decisão do presidente - divulgou um vídeo de exaltação ao golpe.
“O Programa Brasil Urgente da TV Bandeirante veiculou entrevista na qual Jair Bolsonaro voltou a dizer que não houve ditadura militar no Brasil, afirmou que o regime foi marcado (reparem!) por ‘probleminhas’ e chamou o golpe de ‘revolução democrática’”. Disse ainda “que o regime militar não acabou com as liberdades individuais no País” (O Popular, 28/03/19, p. 5). Verdadeiro absurdo!
O presidente e os políticos que fazem a apologia da ditadura militar só podem ser “demônios” ou psicopatas. Não há outra alternativa. A memória dos “mártires” da ditadura militar fala por si mesma. Quantos militantes (jovens e adultos, homens e mulheres), políticos, sindicalistas, líderes de Movimentos Populares, religiosos e religiosas foram barbaramente torturados e mortos ou estão desaparecidos!
É arrepiante e muito doido ouvir testemunhos de sobreviventes de sessões de torturas ou de pessoas (à época, algumas delas ainda crianças) que presenciaram sessões de tortura. Não dá para entender como um ser humano possa ser capaz de requinte - tão diabólico e, ao mesmo tempo, tão cínico - de perversidade e crueldade! Os “demônios” responsáveis por esses crimes contra a humanidade terão - se já não o fizeram - de prestar conta a Deus!
Órgãos Federais condenaram a determinação de Jair Bolsonaro. O Ministério Público Federal (MPF), por exemplo, em Nota Pública afirmou: “É incompatível com o Estado Democrático de Direito festejar um golpe de Estado e um regime que adotou políticas de violações sistemáticas aos Direitos Humanos e cometeu crimes internacionais”.
No Brasil inteiro - sobretudo nas capitais - aconteceram, no dia 31 de março e 1ª de abril, Atos Públicos contra a ditadura militar, em repúdio ao presidente Jair Bolsonaro e em memória das pessoas torturadas, mortas e desaparecidas.
Em Goiânia, foram realizados - com numerosa participação - dois Atos Públicos de protesto. O primeiro, “Cultura pela Democracia, Ditadura nunca mais!”, ocorreu no domingo, 31 de março, a partir das 14 horas, no CEPAL do Setor Sul. O segundo, na segunda-feira, 1º de abril, a partir das 16 horas, na Praça da Catedral Metropolitana. Entidades Sindicais, Movimentos Populares, Partidos Políticos Populares, Comitês ou Fóruns de Defesa dos Direitos Humanos e outras Organizações Populares se encontraram na praça da Catedral, onde teve início a caminhada “Ditadura nunca mais, Democracia sim: punição aos torturadores”. A caminhada percorreu o Centro da cidade, até o Monumento aos Mortos e Desaparecidos na Luta Contra a Ditadura Militar, situado na esquina das Avenidas Assis Chateaubriand e Dona Gercina Borges.
Além de cartazes e painéis com fotos e mensagens de indignação e denúncia, os participantes da caminhada carregaram 30 cruzes de madeira com o nome dos mortos e desaparecidos em Goiás durante a ditadura militar e com faixas de pano brancas “ensanguentadas”. O Ato foi em repúdio aos horrores da ditadura militar, à determinação do presidente Jair Bolsonaro de comemorar e festejar a data do golpe civil-militar e, sobretudo, em memória dos 30 mortos e desparecidos, que foram aclamados nominalmente, com a resposta: “presente”. O Ato encerrou por volta das 18:30 horas.
Uma advertência aos que defendem e comemoram o aniversário do golpe civil-militar de 31 de março de 1964: não usem o nome de “cristãos” e “cristãs”. Usar esse nome é trair Jesus de Nazaré”! É blasfemar contra o Espírito Santo, o Amor de Deus!
Ditadura nunca mais, democracia sim!


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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 03 de abril de 2019



sábado, 30 de março de 2019

Uma “Reforma” da Previdência maquiavélica



Dia 22 do mês de março deste ano foi um Dia Nacional de Luta contra a “Reforma” (na realidade, a Antirreforma) da Previdência: uma prévia em preparação à Greve Geral - de resistência e de enfrentamento nacional - de todos os Trabalhadores e Trabalhadoras.
Em Goiânia - como no Brasil inteiro -  foram realizadas várias atividades. A principal foi uma grande carreata que iniciou às 8:30 horas em frente ao Estádio Serra Dourada, lugar de concentração de lideranças e outros representantes de Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Partidos Políticos Populares, Comitês ou Fóruns de Defesa de Direitos Humanos. Conselhos de Direitos, Comunidades e Instituições Religiosas (como CRB, CEBs, CEBI, CPT) e outras Organizações Populares. A carreata - gritando palavras de ordem - passou ao lado do Paço Municipal, seguiu até a Praça Cívica, movimentou o Centro da cidade e encerrou em frente ao Centro Administrativo com muitas falas de denúncia, de indignação e de protesto contra a “Reforma”, que - com mentiras maldosas e interesseiras - pretende acabar com os poucos direitos que os trabalhadores e trabalhadoras conquistaram a duras penas e com muita luta.     
Tudo isso para que os ricos - banqueiros e grandes empresários capitalistas - fiquem cada vez mais ricos às custas dos pobres cada vez mais pobres. No Brasil, 5% da população detém a mesma riqueza dos demais 95% e 6 pessoas, a mesma riqueza dos 100 milhões mais pobres. Verdadeiro absurdo! Imperdoável pecado social!
A repercussão do Dia Nacional de Luta na mídia mostrou a força que os trabalhadores e trabalhadoras - unidos e organizados - têm (mesmo reconhecendo e respeitando suas diferenças).
“A Proposta de Emenda à Constituição (PEC 06/2019) que o Governo de Jair Bolsonaro (PSL) entregou ao Congresso Nacional é muito pior do que a de Temer (MDB), derrubada pelos trabalhadores e trabalhadoras por meio da Greve Geral de abril de 2017. O discurso do Governo, de que esse projeto de ‘Reforma’ tem por objetivo acabar com privilégios, é propaganda mentirosa. Ele não altera, por exemplo, os supersalários da Previdência, do Judiciário, do Legislativo e das Forças Armadas. Mas pretende reduzir de um salário mínimo para apenas R$ 400,00 o Benefício de Prestação Continuado (BPC).
Essa ‘Reforma’ quer retirar da Constituição Federal de 1988 o sistema de Seguridade Social, voltado para garantir Previdência, Saúde e Assistência Social aos trabalhadores e trabalhadoras. Todos e todas serão prejudicados: os que já estão aposentados; os que estão prestes a aposentar; e os que vão entrar no mercado de trabalho. Essa ‘extinção do direito à aposentadoria’, apresentada como ‘Reforma’, afetará os trabalhadores e trabalhadoras, seus filhos e netos” (Fórum Goiano Contra as Reformas da Previdência e Trabalhista. Jornal da Classe Trabalhadora - Ano 3 - Número 5 - Abril de 2019, p. 2).
Em outras palavras, a PEC 06/2019 quer a desconstitucionalização dos direitos e garantias da Seguridade Social e sua regulamentação por legislação complementar, mais fácil de ser manipulada e mudada de acordo com os interesses dos poderosos.
Dizem ainda que a Previdência é inviável. É mais uma mentira deslavada! Vejam - além do dinheiro desviado para pagar juros aos banqueiros - a dívida que as maiores empresas têm para com a Previdência e que ninguém cobra: “JBS: R$ 1,8 bilhão; Caixa Econômica Federal: R$ 549 milhões Bradesco: R$ 465 milhões; Mendes Júnior Engenharia: R$ 393 milhões; Vale: R$ 275 milhões; Viação Itapemirim: R$ 255 milhões; Banco do Brasil: R$ 208 milhões; Lojas Americanas: R$ 166 milhões; Ford: R$ 141 milhões; Pirelli: R$ 135 milhões; Oi: R$ 126 milhões; Banco Rural: R$ 124 milhões; ItalSpeed: R$ 122 milhões; Unimed Paulistana: R$ 119 milhões; Volkswagen: R$ 111 milhões. Total: R$ 4.989 bilhões” (Ib. p. 4).
A “Reforma” da Previdência é tão cruel, tão perversa e tão iníqua, que chega a ser diabólica e maquiavélica.  A PEC 06/2019 - por ser estruturalmente desumana e antiética - não tem condições de ser emendada, mas deve ser rejeitada no seu todo. É uma injustiça que clama diante de Deus.
O presidente - um mito-fantoche criado pela grande mídia para iludir o povo - está totalmente submisso aos interesses do sistema financeiro internacional. Quando hipocritamente afirma: “o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, na realidade ele quer dizer: o “Brasil dos ricos” acima de tudo e o “deus dinheiro” acima de todos. A vida dos trabalhadores e trabalhadoras é sacrificada ao “deus dinheiro”.
Diante desse total descaramento do Governo - que os trata como idiotas - os trabalhadores e trabalhadoras precisam com urgência se mobilizar, lutar e construir a Greve Geral (indicada para o mês de maio). A Greve Geral a ser construída é justa e Deus está do lado dos trabalhadores e trabalhadoras. “Eu vi a aflição do meu povo... Ouvi o seu clamor contra seus opressores e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-los...” (Ex 3,7-8).
Como cristão e religioso dominicano - seguidor de Jesus de Nazaré - termino o meu escrito com duas advertências. Ai dos deputados federais e senadores que se dizem católicos ou evangélicos e que - usando, de maneira oportunista e interesseira, o nome de Deus e do Evangelho para legitimar a injustiça - pretendem votar a favor da “Reforma” da Previdência! Eles são os Judas de hoje, que traem Jesus na pessoa dos trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo dos mais pobres! Terão de prestar conta a Deus! Ai das Igrejas - Católica (Comunidades, Paróquias e Dioceses) ou Evangélicas - que, por omissão ou ação, são a favor da “Reforma” da Previdência! Elas são hoje “Igrejas de Pilatos”, que lavam as mãos, ou “Igrejas de Judas”, que (como os deputados federais e senadores acima mencionados) traem Jesus de Nazaré na pessoa dos trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo dos mais pobres! Também, terão de prestar conta a Deus!
Pela revogação da “Reforma” trabalhista! Contra a “Reforma” da Previdência! Terra para quem nela vive e trabalha! Uma “outra” Política é possível e necessária! Lutemos por ela!

Dia Nacional de luta em defesa da Previdência – Acompanhe a cobertura em tempo real

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 28 de março de 2019

sábado, 23 de março de 2019

Total apoio e irrestrita solidariedade às heroínas do MST e MCP

     Na manhã do dia 13 do mês corrente cerca de 800 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento Camponês Popular (MCP) ocuparam a fazenda Agropastoril Dom Inácio, um dos latifúndios de João de “Deus”, em Anápolis - GO
     As manifestantes chegaram ao local em 13 ônibus. Vieram de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A Ocupação conta com mulheres de toda a Região Centro-Oeste, mas apenas famílias do Estado de Goiás ficarão no Acampamento. “Nosso objetivo - dizem as mulheres - é ficar por tempo indeterminado. O local já está tenso por conta da chegada da polícia, mas vamos resistir. Nossa luta é pela vida de todas as mulheres”.
     As Trabalhadoras Sem Terra - verdadeiras heroínas - penduraram no pescoço placas com os nomes das vítimas e alegam que o território ocupado é fruto “do abuso, do estupro e da violência” do médium João Teixeira de Faria - conhecido como João de “Deus” - que está preso há quase três meses.
     A Ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, em comemoração do Dia Internacional da Mulher (8 de março).
     No dia 14, no Acampamento, denominado “Ocupação Marielle”, aconteceu, um Ato Público - com a presença de Movimentos Populares, Sindicatos, Partidos Políticos, Comitês ou Fóruns de defesa dos Direitos Humanos e outras Organizações Sociais Populares - em total apoio e irrestrita solidariedade às 800 mulheres do MST e do MCP, que denunciam as violências contra as mulheres e exigem que haja Reforma Agrária nas terras do médium abusador. 
     Eu, Frei Marcos (o autor destas linhas), Frei Carlinhos, Flávio e Edilene participamos do Ato em nome da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil.
     O Ato lembrou também o aniversário de um ano do assassinato da vereadora  Marielle Franco. A mística de abertura questionou: “quem mandou matar Marielle?”; e reafirmou: “seremos resistência nesse período que fere a vida das mulheres!". 
     Segundo uma das coordenadoras do Ato, o Movimento cobra respeito e seguranças às mulheres. “A cada duas horas uma mulher é vítima de feminicídio e outras tantas são violentadas e agredidas no Brasil. Mais de 500 mulheres já denunciaram assédio e estupro praticado por João de ‘Deus’ e o Estado vem fazendo pouco caso. A prova disso é que ele teve Habeas Corpus concedido ontem (dia 12 deste mês). Nós exigimos respeito e vamos resistir para conseguir nossos direitos”. 
     A Ação pede ainda que as vítimas do médium sejam indenizadas. “Esse e outros locais, dos quais ele (João de ‘Deus’) é dono, são fruto da violência. Essas terras têm de ser destinadas às vítimas que já passaram por tanto sofrimento”.    
     Além disso, o Movimento manifesta também contra a paralisação da Reforma Agrária, pede que o assassinato da vereadora Marielle Franco seja elucidado e reforça a luta contra a Reforma (ou melhor: Antirreforma) da Previdência.
     Trabalhadoras heroínas do MST e do MCP - como disse no Ato Público - a luta de vocês pela Terra - como também a luta de vocês pelo Trabalho e pelo Teto (moradia) - é um direito fundamental e sagrado. Faz parte dos 3 T de que fala o Papa Francisco: Terra, Trabalho e Teto (Moradia): direitos fundamentais de todo ser humano (e não somente de alguns). 
     Portanto, a luta de vocês é legítima, justa, ética e cristã. Todos os verdadeiros seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré estão do lado de vocês. A Igreja Católica (Comunidades, Paróquias e Dioceses) e as Igrejas Evangélicas que - por um grave pecado de omissão - não manifestam, em nome de sua consciência cidadã e do próprio Evangelho, seu apoio e sua solidariedade à luta de vocês, são Igrejas que traem Jesus de Nazaré na pessoa das trabalhadoras e trabalhadores e dos pobres em geral. São - podemos dizer - Igrejas de Judas e não Igrejas de Jesus de Nazaré.   
     Trabalhadoras heroínas, Deus está do lado de vocês, Deus luta com vocês! A vitória é de vocês! 
     As Liminares de reintegração de posse podem ser legais, mas são ilegítimas, injustas, antiéticas e anticristãs. Os juízes que expedem essas Liminares terão que prestar conta a Deus, que é o Juiz dos juízes.
     Chega de feminicídios! Chega de violências contra as mulheres! Não à Antirreforma da Previdência! Reforma Agrária Popular já! Viva as Trabalhadoras Sem Terra do MST e do MCP unidas! Estamos com vocês!
     (Logo que for possível, retomarei o assunto do artigo anterior - 4ª. parte)


Ocupação em latifúndio de João de “Deus” - Foto: Janelson Ferreira



Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 20 de março de 2019





sábado, 16 de março de 2019

“A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” (3ª parte)



Ahmad Al-Tayyeb e Francisco - em sua Declaração - continuam dizendo: “Nós, crentes em Deus, no encontro final com Ele e no Seu Julgamento - a partir da nossa responsabilidade religiosa e moral e através deste Documento - rogamos a nós mesmos e aos líderes do mundo inteiro, aos artífices da política internacional e da economia mundial, para se comprometer seriamente na difusão da tolerância, da convivência e da paz; para intervir, o mais breve possível, a fim de se impedir o derramamento de sangue inocente e acabar com as guerras, os conflitos, a degradação ambiental e o declínio cultural e moral que o mundo vive atualmente”.
Os dois líderes religiosos fazem, pois, um apelo: “Dirigimo-nos aos intelectuais, aos filósofos, aos homens (e mulheres) de religião, aos artistas, aos operadores dos mass-media e aos homens (e mulheres) de cultura em todo o mundo, para que redescubram os valores da paz, da justiça, do bem, da beleza, da fraternidade humana e da convivência comum, para confirmar a importância destes valores como âncora de salvação para todos (e todas)  e procurar difundi-los por toda a parte”.
Acrescentam também: “Partindo de uma reflexão profunda sobre a nossa realidade contemporânea, apreciando os seus êxitos e vivendo as suas dores, os seus dramas e calamidades, esta Declaração acredita firmemente que, entre as causas mais importantes da crise do mundo moderno, se contam uma consciência humana anestesiada e o afastamento dos valores religiosos, bem como o predomínio do individualismo e das filosofias materialistas que divinizam o ser humano e colocam os valores mundanos e materiais no lugar dos princípios supremos e transcendentes”.
Declaram ainda: “Nós, embora reconhecendo os passos positivos que a nossa civilização moderna tem feito nos campos da ciência, da tecnologia, da medicina, da indústria e do bem-estar, particularmente nos países desenvolvidos, ressaltamos que,
juntamente com tais progressos históricos, grandes e apreciados, se verifica (reparem!) uma deterioração da ética, que condiciona a atividade internacional, e um enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade”.
     Quanta profundidade de análise, quanta clareza de ideias e quanta sensibilidade humana encontramos neste Documento!
Por fim, Ahmad Al-Tayyeb e Francisco fazem algumas constatações:
Primeira: “Tudo isto contribui para disseminar uma sensação geral de frustração, solidão e desespero, levando muitos a cair na voragem do extremismo ateu e agnóstico ou então no integralismo religioso, no extremismo e no fundamentalismo cego, arrastando assim outras pessoas a render-se a formas de dependência e autodestruição individual e coletiva”.
Segunda: “A história afirma que o extremismo religioso e nacional e a intolerância geraram no mundo, quer no Ocidente quer no Oriente, aquilo que se poderia chamar os sinais duma ‘terceira guerra mundial aos pedaços’; sinais que, em várias partes do mundo e em diferentes condições trágicas, começaram a mostrar o seu rosto cruel; situações de que não se sabe exatamente quantas vítimas, viúvas e órfãos produziram”.
Terceira: “Além disso, existem outras áreas que estão se tornando palco de novos conflitos, onde nascem focos de tensão e se acumulam armas e munições, numa situação mundial dominada pela incerteza, pela decepção e pelo medo do futuro e controlada por míopes interesses económicos”.
Quarta: “Afirmamos igualmente que as graves crises políticas, a injustiça e a falta duma distribuição equitativa dos recursos naturais - dos quais beneficia apenas uma minoria de ricos, em detrimento da maioria dos povos da terra - geraram, e continuam a fazê-lo, enormes quantidades de doentes, necessitados e mortos, causando crises letais de que são vítimas vários países, não obstante as riquezas naturais e os recursos das gerações jovens que os caracterizam. A respeito de tais crises que fazem morrer de fome milhões de crianças, já reduzidas a esqueletos humanos por causa da pobreza e da fome, reina (reparem novamente!) um inaceitável silêncio internacional”,
Esse “inaceitável silêncio internacional” não é um crime e um pecado de omissão gravíssimo? Pensemos!


Resultado de imagem para Imagens sobre o Documento da Fraternidade humana de Francisco e


Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 13 de março de 2019

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos