domingo, 15 de setembro de 2019

Trabalhadores e estudantes unidos por um novo Brasil


Em Goiânia e em todo o país, o dia 7 de setembro, dia da Independência do Brasil (que na realidade ainda não existe), foi marcado por grandes manifestações de protesto contra o atual Governo - comprovadamente perverso, iníquo e anti-povo - que, cínica e hipocritamente, usa o nome de Deus e a sua Palavra para se autolegitimar. Trata-se de um descaramento que não tem limites!
Na manifestação de Goiânia - além de outras bandeiras de luta como moradia, emprego, saúde pública, aposentadoria, ciência e tecnologia, minorias, terras indígenas e quilombolas, Amazônia, Cerrado - destacamos dois grandes eventos unificados: o 25º Grito dos/as Excluídos/as 2019 e o 4º Tsunami da Educação. 
O Grito - desde o início - defende a “Vida em primeiro lugar” e - no lema deste ano de 2019 - denuncia “Este Sistema não Vale. Lutamos por Justiça, Direitos e Liberdade”. O Tsunami da Educação reivindica uma Educação Pública de qualidade para todos e para todas, luta contra o corte de verbas para a Educação e para a Pesquisa, não aceita a “militarização” das Escolas e defende a liberdade de ensino.
A concentração foi na Praça da Catedral Metropolitana, no Centro, a partir das 8:30 horas. Participaram da manifestação - com faixas e cartazes - Movimentos Sindicais de Trabalhadores/as (como os Trabalhadores/as da Educação e outros), Movimentos Sociais Populares (como os Moradores de Rua e outros), Movimentos Estudantis (liderados pela União Nacional dos Estudantes - UNE), Comitês ou Fóruns de Defesa dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente, Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, Pastorais Sociais Ambientais e representantes de outras Organizações Populares, totalizando cerca de 4 mil pessoas, entre as quais muitos/as jovens, que nos deram um testemunho bonito de resistência e de luta.
Na caminhada, passamos pela Praça Cívica e descemos a Avenida Goiás, finalizando o protesto na Praça do Bandeirante, às 12:30 horas. Durante a manifestação - além de músicas e cantos - tivemos muitas falas, todas demostrando indignação e vontade de lutar, unidos, por um novo Brasil. 
Iago Montalvão, 26 anos, presidente da UNE, referindo-se aos cortes na Educação e ao risco de Universidades Públicas pararem de funcionar, afirmou: “Sem ciência e Universidade não há condição de atingirmos uma autonomia, por isso viemos lutar. Queremos a verdadeira independência”.
Bia de Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores/as da Educação do Estado de Goiás - SINTEGO, denunciou: “Estamos vivendo um verdadeiro desmonte da Educação. O Governo Federal já fez vários cortes no orçamento, colocando em risco o funcionamento das Universidades Federais em todo o Brasil. Sua política está destruindo a pesquisa brasileira. É um absurdo acabar com os recursos das bolsas da Capes e CNPq! No Estado de Goiás, a situação está ficando muito complicada. O Governo vira as costas para quem se dedica a Educação! Até agora não confirmou o pagamento do reajuste do Piso 2019, a Data-base dos/as administrativos/as e o cumprimento do pagamento das progressões. Estamos chegando a um ponto insustentável”. 
Sobre a situação atual dos/as excluídos/as no Brasil e no mundo, meditemos as palavras do Papa Francisco: “Hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade social’. Esta economia mata. Não é possível que a morte por congelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão”. “Tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois jogar fora. Assim teve início a cultura do ‘descartável’, que aliás chega a ser promovida”. “Os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘descartados’ (resíduos, sobras)” (A Alegria do Evangelho, 53)
Na Missa do dia 8 de julho deste ano, na Basílica de São Pedro, Francisco - fazendo a memória dos seis anos de sua visita a Lampedusa - denunciou: “Os migrantes são hoje o símbolo de todos os descartados da sociedade globalizada”. Quanta crueldade e quanta desumanidade!
Em Goiânia e no Brasil inteiro, o Grito dos/as Excluídos/as 2019 foi o Grito dos/as Descartados/as. A luta por vida digna para todos/as fortalece a nossa esperança e nos une na certeza da vitória.
(Comunico aos prezados/as leitores/as que, por razões pessoais, interrompo os meus escritos semanais e - se Deus quiser - os retomarei logo que for possível)

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 12 de setembro de 2019 


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Grito dos/as Excluídos/as 2019:CNBB pede “efetivo apoio”

     A CNBB, em Carta de 5 de julho deste ano - dirigida aos bispos, agentes de pastorais e lideranças - faz uma breve memória do Grito dos/as Excluídos/as, apresenta o sentido do Grito de 7 de setembro de 2019 e pede “efetivo apoio”.
     A Carta começa dizendo: “O Grito dos/as Excluídos/as do Brasil caminha para o seu 25º ano. Convém ressaltar que ele é fruto da Campanha da Fraternidade de 1995, cujo tema era ‘Fraternidade e os Excluídos’ e o lema: ‘Eras tu, Senhor?’”.
     E continua: “Ao contemplar as faces da exclusão na sociedade brasileira, setores ligados às Pastorais Sociais da Igreja optaram por estabelecer canais de diálogo permanente com a sociedade promovendo, a cada ano, na semana da Pátria, o Grito dos/as Excluídos/as”.
     Lembra-nos também: “Mesmo dando destaque ao dia 7 de setembro, o Grito dos/as Excluídos/as não quer se limitar a esta data. Vai muito além. Envolve o antes, o durante e o depois. Em preparação ao evento são promovidas rodas de conversa, seminários, fóruns temáticos envolvendo entidades, instituições, movimentos e organizações da sociedade civil fortalecendo as legítimas reivindicações sociais e reforçando a presença solidária da Igreja junto aos mais vulneráveis, sintonizando-a aos seus anseios e possibilitando a construção de uma sociedade mais justa e solidária”.
      Trata, pois, do lema do 25º Grito dos/as Excluídos/as 2019: “Este sistema não vale! Lutamos por Justiça, Direitos e Liberdade!”.
     E constata: “Os direitos e os avanços democráticos conquistados nas últimas décadas, frutos de mobilizações e lutas, estão ameaçados. O Ajuste Fiscal, a Reforma Trabalhista aprovada e, agora, o projeto de Reforma da Previdência, estão retirando direitos dos trabalhadores para favorecer aos interesses do mercado. O próprio sistema democrático está em crise, distante da realidade vivida pela população”.
      Declara ainda: “O Grito precisa colaborar para gerar processos de conscientização e de mobilização social e de profecia da Igreja em defesa dos mais vulneráveis”.
      Termina agradecendo “pelo apoio recebido ao longo destes anos” (25 anos) e afirmando que “precisamos continuar a gritar pela vida em primeiro lugar”.
      Enfim - por reconhecer que o Grito é uma iniciativa “que desperta para a solidariedade e para a organização, que renova a esperança dos pobres e que os torna sujeitos de uma nova sociedade, sinal do Reino de Deus” - solicita, mais uma vez, o “efetivo apoio” ao Grito dos/as Excluídos/as 2019.
      (A Carta é assinada por Dom José Valdeci Santos Mendes. Bispo de Brejo - MA e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sócio Transformadora - CEPAST, da CNBB).
      Pessoalmente e como Igrejas (comunidades, paróquias e dioceses) ouçamos a fraterna solicitação da CNBB! Participemos! Sejamos - como Jesus de Nazaré - profetas e profetisas da Vida! “Eu vim para que todos/as tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
      Na situação social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural) do Brasil de hoje - de perversa e descarada violação dos Direitos Humanos dos/as trabalhadores/as, sobretudo dos/as mais pobres, e dos direitos da nossa Irmã Mãe Terra (violação praticada, muitas vezes, farisaicamente em nome de Deus e do Evangelho) - a omissão é conivência com a injustiça! Meditemos!
      Apoiam o 25º Grito dos/as Excluídos/as 2019 e garantem sua participação: Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, Pastorais Sociais Ambientais, Centrais Sindicais, Movimentos Populares, Movimento Estudantil de Jovens, Partidos Políticos Populares, Fóruns ou Comitês de Defesa dos Direitos Humanos e outras Organizações.
      Em Goiânia, o Movimento Estudantil - com o apoio e participação da UNE - realiza o 4º Tsunami da Educação junto com o Grito dos/as Excluídos/as. Parabéns Jovens Universitários e do Ensino Médio pelo testemunho que vocês estão nos dando de garra e perseverança na luta por outro Brasil possível e necessário!
      Como foi comunicado no artigo anterior, em Goiânia, a concentração para o Grito dos/as Excluídos/as 2019 será na Praça da Catedral, dia 7 de setembro, a partir das 8:30 horas, com vasta e diversificada programação de atividades.




Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 04 de setembro de 2019

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Grito dos/as Excluídos/as 2019


      O Grito dos/as Excluídos/as está na sua 25ª edição e manteve sempre o objetivo de defender a “Vida em primeiro lugar”, denunciando os males causados pelo sistema econômico dominante (o capitalismo neoliberal) e anunciando - com palavras e ações concretas - a esperança de um Mundo Novo
     O lema do Grito dos/as Excluídos/as 2019 é: “Este sistema não Vele! Lutamos por justiça, direitos e liberdade”. Os objetivos são:
- “Discutir com a sociedade o atual momento que vivemos no Brasil e no mundo, denunciando as estruturas opressoras e excludentes e as injustiças cometidas pelo sistema capitalista;
- Refletir coletivamente que este modelo de “desenvolvimento”, baseado no lucro e na acumulação privada, não serve para o povo, porque destrói e mata;
- Promover espaços de diálogo e troca de experiências para construir as lutas e a mudança, através da organização, mobilização e resistência popular;
- Lutar contra a privatização dos recursos naturais, bens comuns e contra as reformas que retiram direitos dos/as trabalhadores/as;
- Ocupar os espaços públicos e exigir do Estado a garantia e a universalização dos direitos básicos;
- Promover a vida e anunciar a esperança de um mundo justo, com ações organizadas a fim de construir um novo projeto de sociedade”.
      Os eixos temáticos do Grito são: sistema capitalista, justiça, direitos e liberdade.
      O início de 2019 “tem sido marcado por uma conjuntura muito adversa para os pobres: cerceamento da liberdade, retirada de direitos conquistados, aumento do desemprego, volta da fome, violência contra os menos favorecidos... O resultado das eleições, em outubro de 2018, deixou evidente a mudança na correlação das forças entre as classes sociais. A classe dominante - com seus mais variados setores (financeiro, agronegócio, mineração, industrial, comercial) - optou por submeter-se às grandes corporações transnacionais, rompendo o pacto social que garantia o projeto nacional-desenvolvimentista dos últimos Governos”.
      O que hoje se percebe é que os defensores desse modelo econômico “re-correm à agressividade para eliminar e também afastar do campo político os grupos por meio dos quais as classes trabalhadoras e grupos vulneráveis se expressam ou se organizam (como Partidos mais à esquerda ou de oposição, Movimentos Sociais Populares, Indígenas, Quilombolas, Mulheres, LGBT e outros), ou que as apoiam (como setores de Igrejas, universidades, intelectuais, etc.)”. O Pacote anticrime (na realidade, “a favor do crime”) apresentado pelo ministro da Justiça “é um verdadeiro flagrante de violações de direitos humanos. O resultado desse pacote será o aumento do encarceramento em massa, do endurecimento penal e da letalidade policial”.
      A proposta da Reforma (na realidade, “Antirreforma”) da Previdência apresentada pelo ministro de Economia “é outro projeto que conspira contra os mais pobres e a justiça social. A Reforma tem como principal objetivo a instalação de sistema de previdência privada embasada no sistema de capitalização, criando um apetitoso mercado de títulos que envolve mais de 60 milhões de trabalhadores. Em lugar de ser um sistema previdenciário baseado na solidariedade, o que o mercado está propondo é expelir os pobres do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e extorquir a classe média dos servidores públicos em um compulsório regime de Previdência privada, a custos sociais e também fiscais exorbitantes. Para eles, a sociedade não tem obrigações para com seus pobres e necessitados, daí a negativa aos direitos sociais e à tributação dos ricos”.
      Neste mesmo contexto de violação dos Direitos Humanos e de injustiça institucionalizada, “não podemos deixar de falar do crime cometido pela mineradora Vale em Brumadinho (MG), no último mês de janeiro. Foi uma tragédia anunciada! Não é possível dissociar este acontecido com o desastre de Mariana, cada um com suas terríveis proporções na vida dos mais pobres e consequências para o meio ambiente. Este é mais um crime ambiental, social e econômico que nasceu e se consolidou pela impunidade dos anteriores” (Fonte: Jornal “Grito dos/das Excluídos/as”, ano 25, número 70, abril 2019). Gritemos com esperança, que já é certeza de vitória!
      Em Goiânia, a concentração para o Grito será na Praça da Catedral, dia 7 de setembro, às 9 hora. Participe! Sua presença faz a diferença!
      (Dando continuidade ao tema, o próximo artigo será sobre a “Carta da CNBB”, pedindo “efetivo apoio” ao Grito dos/as Excluídos/as 2019)






Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 28 de agosto de 2019



sábado, 24 de agosto de 2019

Governo Bolsonaro: a prova que os “demônios” existem


Hoje, no Brasil, o Governo Bolsonaro é a prova que os “demônios” existem. As falas e as atitudes do presidente são tão perversas, iniquas, arrogantes e cínicas - sobretudo em relação aos pobres - que só podem ser de um “demônio”, apoiado por outros “demônios” (ministros, familiares e outros). 
Bolsonaro e membros de seu Governo são agentes do Mal (o Antirreino de Deus), que - hipócrita e oportunisticamente - pretendem institucionalizar e legitimar, usando o nome de Deus em vão e falsificando o sentido do Evangelho, inclusive com as “bênçãos” de alguns líderes religiosos (padres, pastores e outros) ingênuos ou interesseiros. 
Um exemplo desse comportamento “demoníaco” (além de muitos outros: o incentivo ao porte de armas e à prática da violência; a exaltação da ditadura civil-militar, chamando torturadores de heróis; o aumento da desigualdade social; a destruição do meio ambiente; etc.) é a chamada Reforma (na verdade, Antirreforma) da Previdência.  
Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil, “a Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência Social” (art. 194).
A Antirreforma da Previdência do Governo Bolsonaro é a destruição da Seguridade Social. Quem paga a conta dessa Antirreforma são os trabalhadores, sobretudo os que ganham menos. Os ricos tornam-se cada vez mais ricos às custas dos pobres cada vez mais pobres.
Temos muitos estudos e pesquisas científicas que - inquestionavelmente - mostram essa realidade “demoníaca”. (Para ter uma visão geral da situação, leia o artigo: Ivo Lesbaupin. A destruição da Previdência Social e o empobrecimento da população.  Em: http://www.sindipublicos.com.br/a-destruicao-da-previdencia-social-e-o-empobrecimento-da-populacao/).
Os deputados e senadores que - sabendo disso (e todos sabem...) votaram e/ou votarão a favor da Antirreforma, são também verdadeiros “demônios”, que matam os pobres (e Jesus de Nazaré na pessoa dos pobres), mesmo quando - farisaicamente - se dizem cristãos, fazem parte da Frente Parlamentar Católica (ou Evangélica) e participam de Movimentos de Igreja como a Renovação Carismática Católica. Quanta hipocrisia! Quanto farisaísmo! Dá nojo!
Na “Mensagem da CNBB ao Povo Brasileiro” (7/5/19), os bispos - reunidos na 57ª Assembleia Geral (Aparecida - SP, 1-10/5/19) - declararam: “Nenhuma Reforma será eticamente aceitável se lesar os mais pobres” (premissa maior). Infelizmente, os bispos não completaram o raciocínio (o silogismo). Como profetas, deveriam ter acrescentado: “A Antirreforma da Previdência do Governo Bolsonaro lesa os mais pobres” (premissa menor). Portanto, “ela não é eticamente aceitável” (conclusão). Quem sabe, um pouco de lógica aristotélico-tomista não poderia ajudar os bispos!
Como Igreja que - no Brasil e no mundo de hoje - tem uma missão profética - nunca esqueçamos as palavras de Santo Oscar Romero: “Num país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça”. 
Parabéns à Arquidiocese de Londrina pelo testemunho profético que nos deu, posicionando-se de maneira clara - com coragem e sem medo - contra a Antirreforma da Previdência do Governo Bolsonaro. A nossa solidariedade a todos os irmãos e irmãs da Arquidiocese, que - por causa de sua postura evangélica - recebem inúmeros ataques. Estamos com vocês!
Ah, se todas as Igrejas no Brasil tivessem tomado ou tomassem a mesma posição da Arquidiocese de Londrina! Infelizmente, a omissão e o comportamento “diplomático” (no Evangelho não existe “diplomacia”) são duas faces “demoníacas” do pecado estrutural da Igreja. “Que o sim de vocês seja sim, e o não seja não. O que passa disso vem do demônio” (Mt 5,37).
Não percamos a esperança! A vitória é nossa! “Neste mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem! Eu venci o mundo (do Mal)” (Jo 16,33).

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 21 de agosto de 2019

domingo, 18 de agosto de 2019

Omissões que falam por si


Numa leitura atenta das “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil” (DGAE 2019-2023) da CNBB - aprovadas em 6 de maio passado na 57ª Assembleia Geral (Aparecida - SP, 1-10/05/19) - notam-se imediatamente algumas “omissões” que falam por si. 
Mesmo fazendo - em linguagem atualizada - valiosas reflexões teóricas (como orientações gerais) sobre os desafios do mundo e do Brasil de hoje (a questão da cultura urbana, do meio ambiente, da missionariedade das Comunidades Eclesiais e outras), as Diretrizes revelam de maneira muito clara que, na caminhada pastoral da Igreja no Brasil, está em andamento - embora com muitas resistências - um processo de volta ao modelo de Igreja pré-conciliar. Um retrocesso lamentável!
A primeira omissão é o “esquecimento” do Documento (composto por 16 Mini - Documentos) da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho de Medellín - 1968 (A Igreja na atual transformação da América Latina e do Caribe, à luz do Concílio Vaticano II). Nas Diretrizes não há uma referência sequer a esse Documento. Consequentemente, nem é citado na “Lista das Siglas” dos Documentos da Igreja universal e latino-americana utilizados na elaboração das Diretrizes.
Em 2018 comemoramos os 50 anos do Documento de Medellín. Infelizmente, notou-se na Igreja - com raras exceções - uma indiferença muito grande em relação a essa data jubilar. Em maio deste ano (2019), a “homenagem” que a CNBB - na elaboração das Diretrizes - prestou ao Documento de Medellín foi o seu “esquecimento”. A Assembleia Geral da CNBB poderia ter sido uma oportunidade para - oficialmente - fazer a memória do jubileu desse Documento e retomar seus principais ensinamentos, destacando sua atualidade.
O Documento de Medellín é a aplicação do Concílio Vaticano II, ou melhor, é o próprio Concílio Vaticano II para a América Latina e o Caribe. Como muito bem disse Clodovis Boff, é o Documento fundante da Igreja Latino-Americana e Caribenha enquanto tal. Até então, a Igreja Latino-Americana e Caribenha era a Igreja Europeia transplantada na América Latina e no Caribe. Os participantes da Conferência de Medellín podem ser considerados os Padres da Igreja Latino-Americana e Caribenha.
O Documento de Puebla - 1979 (Evangelização no presente e no futuro da América Latina e Caribe), o Documento de Santo Domingo - 1992 (Nova Evangelização, Promoção Humana e Cultura Cristã) e o Documento de Aparecida - 2007 (Discípulos missionários de Jesus Cristo para que nossos povos Nele tenham vida) só podem ser lidos (analisados e interpretados) à luz do Documento de Medellín e em “continuidade criativa” com ele. 
A segunda omissão é o “desaparecimento” das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) do texto das Diretrizes (não da vida, graças a Deus). A palavra CEBs encontra-se somente duas vezes, de passagem e sem nenhuma relevância: uma, quando as Diretrizes afirmam que, “recordando  o 14º Intereclesial das CEBs, somos convidados a olhar com alegria e esperança todas as iniciativas que se voltam para as cidades, buscando compreender seu jeito de pensar, sentir e agir” (68); outra, quando dizem que “o empenho por constituir Comunidades Cristãs maduras na fé, deve ser a meta das dioceses, paróquias, CEBs, comunidades novas, movimentos, associações, serviços e famílias” (128).
Que diferença entre as Diretrizes e o Documento de Medellín! No Documento de Medellín, a CEB é “o primeiro e fundamental núcleo eclesial” ou “a célula inicial da estrutura eclesial” (Medellín, XV, 10) e a Paróquia, “um conjunto pastoral unificador das Comunidades de Base” (Ib. 13). As CEBs - na diversidade e beleza de seus “rostos” - são o jeito de ser Igreja que Jesus de Nazaré sonhou, quis e quer. A expressão “de Base” foi acrescentada para nos lembrar que as Comunidades Eclesiais devem (como Jesus de Nazaré) ser “encarnadas” na vida do povo. 
As Diretrizes - como é dito na Introdução - “estão estruturadas a partir da Comunidade Eclesial Missionária, apresentada com a imagem da ‘casa’, ‘construção de Deus’ (1Cor 3,9)” (4). Elas, porém, esquecem de dizer que a primeira “casa” de Jesus foi a “manjedoura” de um estábulo. “Não havia lugar para eles na hospedaria (dentro de casa)” (Lc 2,6). Esquecem também de dizer que a Comunidade Eclesial - como Comunidade de seguidores e seguidoras de Jesus - tem lado: o lado dos Pobres, oprimidos, excluídos e descartados. “Quem diz que permanece em Deus, deve caminhar como Jesus caminhou” (1Jo 2,6).
Por ter lado, a Comunidade Eclesial - embora esteja aberta à participação de todos e de todas que praticam a partilha - se constrói a partir dos Pobres (“desde a manjedoura”). É por isso que ela é “de Base”. Se não for “de Base”, não é Comunidade Eclesial e - menos ainda - Comunidade Eclesial Missionária (“em saída”). Existe algo que seja mais “de Base” que a “manjedoura” de um estábulo? Essa é a verdade que, com todas al letras, precisa ser dita e, infelizmente, as Diretrizes não dizem.
A terceira omissão (que é a causa principal das outras duas omissões) é a “falta” da escuta dos Sinais dos Tempos desde os Pobres, ou seja, a partir (na ótica) dos empobrecidos, oprimidos, excluídos e descartados da sociedade e do mundo. Essa escuta deveria ser (mas, infelizmente, não é) a espinha dorsal das Diretrizes.
Para escutar os Sinais dos Tempos não basta apontar ou fazer breves referências à realidade - conjuntural e estrutural - atual (como fazem as Diretrizes), mas é necessário analisar profundamente essa realidade (com a mediação das ciências humanas e sociais), interpretá-la criticamente (discernir) à luz da razão iluminada pela fé na Palavra de Deus (com a mediação da filosofia e teologia) e libertá-la de tudo aquilo que impede a vida do ser humano e do mundo (da Mãe Terra). 
Por fim - para renovar a nossa esperança e nos fortalecer como cristãos e cristãs - é necessário celebrar a realidade (analisada e interpretada) no Mistério Pascal de Cristo e o Mistério Pascal de Cristo na realidade.
Sigamos com alegria o caminho que Jesus fez: desde a manjedoura até sua morte na cruz e sua ressurreição! Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida!
(Leia: Medellín em gotas: no Site do IHU ou no Blog do Frei Marcos. Até o momento foram publicadas 19 gotas (artigos). Logo retomarei a publicação de mais “gotas”. Leia também: As CEBs na Eclesiologia de Medellín. 2ª edição, Scala Editora, Goiânia, 2018).

CNBB publica as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 14 de agosto de 2019

sábado, 10 de agosto de 2019

Opção pelos Pobres


No artigo anterior refletimos sobre a “Escuta dos Sinais dos Tempos”. Neste, vamos refletir sobre a “Opção pelos Pobres”: dois temas interligados, que se completam mutuamente e que deveriam ser o fio condutor de todas as nossas reflexões filosófico-teológicas sobre a Igreja.
Por ser o ser humano um ser histórico, situado (no espaço) e datado (no tempo), a “Escuta dos Sinais dos Tempos” - como qualquer outra atividade humana, teórica ou prática - não é neutra, mas tem lado. Ela acontece sempre a partir de uma determinada ótica. Ora, a ótica “humana” (por isso, “ética”) e “cristã” (radicalmente humana) é a ótica dos Pobres.
Portanto, a “Opção pelos Pobres” não é uma alternativa entre duas ou mais alternativas, mas é o caminho da vida: o caminho de Jesus de Nazaré “desde a manjedoura”. “Eu vim para que todos e todas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Fazendo suas as palavras do profeta Isaias, Jesus diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Notícia aos Pobres” (Lc. 4,18). Ele não diz: para anunciar “preferencialmente” a Boa Notícia aos Pobres. 
A Opção pelos Pobres - o caminho de Jesus - não exclui ninguém. Todos e todas são chamados e chamadas a se converter, mudar de vida e praticar a partilha (como fez Zaqueu, o homem rico do Evangelho). Mas, cuidado! Jesus diz também: “É mais fácil um camelo passar pelo vão de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19,24).
Os bens do mundo são um dom do Criador para todos e para todas. A “riqueza”, porém, indica uma relação - pessoal e social - desigual (às vezes, de uma desigualdade gritante), desumana, injusta, antiética e anticristã para com os bens, que - quando institucionalizada e legalizada - torna-se a maior violência. É o pecado estrutural, o Anti-Reino de Deus. A nossa missão como Igreja é combater o Anti-Reino e fazer acontecer o Reino de Deus na história do ser humano e do mundo.
Meditemos: “Num país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça” (Santo Oscar Romero)
Dizer - como li num jornal diocesano - que o maior desafio da Igreja hoje é converter quem tem o poder é - no mínimo - uma afirmação equivocada e não corresponde à verdade. Jesus nunca se preocupou em converter Herodes (que chamou de “raposa”) ou Pilatos e - muito menos - o imperador. Ele anunciou a Boa Notícia do Reino de Deus a todos e a todas, mas “a partir da manjedoura” (não a partir do palácio do imperador). 
Hoje, ouvimos muitas vezes a seguinte afirmação (ou outra semelhante): o “bom economista” e (de forma mais geral) o “bom profissional” - apto para assumir algum cargo no Governo - é uma pessoa “que sempre teve e ainda tem a confiança do mercado”. É o “deus mercado” (outro nome do “deus dinheiro”) que define quem é bom e quem é mau! É a religião do “deus mercado”!
Como seres humanos e - mais ainda - como cristãos e cristãs não podemos aceitar isso. Para nós o “bom economista” e o “bom profissional” é quem sempre teve e ainda tem a confiança dos pobres, dos excluídos e descartados da nossa sociedade profundamente desigual e injusta, que a religião do “deus mercado” quer legitimar. 
Se queremos ser realmente uma Igreja “evangélica”, ou seja, uma Igreja “pobre, para os pobres, com os pobres e dos pobres” (a Igreja que Jesus quis e quer), precisamos nos despojar de todas as insígnias de poder (incorporadas à estrutura da igreja) que são fruto de influências imperiais, feudais e capitalistas, e que não têm nada a ver com o Novo Testamento. As nossas celebrações litúrgicas comunitárias, devem ser bonitas, significativas e ligadas à vida, mas sem luxo, sem ostentação, sem triunfalismo, sem autoritarismo e sem clericalismo. 
Enfim, na diversidade dos carismas (dons) e dos ministérios (serviços) lutemos para sermos, cada vez mais, a Igreja que o Concílio Vaticano II - na perspectiva do Novo Testamento - sonhou. 
“O Vaticano II faz-nos passar: de uma Igreja-instituição ou de uma Igreja-sociedade perfeita para uma Igreja-comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja-autoridade para uma Igreja serva, servidora, ministerial; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, de reforma; de uma Igreja-cristandade para uma Igreja-missão, uma Igreja toda ela missionária” (Dom Aloísio Lorscheider. Fotografia da Igreja que o Concílio Vaticano II sonhou).
A Conferência de Medellín (hoje, infelizmente, esquecida) encarnou a Igreja - sonhada pelo Concílio - na realidade da América Latina e do Caribe.  
Parafraseando os Apóstolos, declaramos com toda firmeza: o Espírito Santo e nós não aceitamos retrocessos! 


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Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 07 de agosto de 2019


A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos