sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DNJ 2011: Juventude e Protagonismo Feminino

“Andai em Cristo Jesus, enraizados nele,
sobre ele edificados e firmes na fé” (Cl 2,7).

Inspirados nas palavras do apóstolo Paulo, no dia 30 deste mês de outubro celebramos o 26º DNJ (Dia Nacional da Juventude), que tem como tema “Juventude e Protagonismo Feminino” e como lema “Jovens mulheres tecendo relações de vida”.
O DNJ, ao longo de sua história, “foi construindo raízes profundas na vida dos jovens do Brasil, levando-os a edificar suas vidas em Cristo e, firme na fé, vai construindo a Civilização do Amor. O DNJ 2011 volta seu olhar para a mulher. Sendo ela portadora de vida, Deus a escolheu para testemunhar a sua imensa bondade. Toda mulher porta a ternura do amor de Deus, porque Deus é amor e portador de vida” (Pe. Antônio Ramos do Prado, SDB, Assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB. Subsídio: DNJ 2011. Apresentação, p. 5).
Hoje - na família, no mundo do trabalho e na sociedade - a mulher é, muitas vezes, desrespeitada em sua dignidade e em seu direito de ser humano. O DNJ 2011 quer denunciar todos os tipos de discriminação da mulher, por causa do machismo (que ainda existe, até na Igreja), da cor e da posição social. Quer também denunciar todas as formas de exploração da mulher, por razões sociais, econômicas, políticas, culturais e ecológicas.
Nestes últimos anos, assistimos a um verdadeiro extermínio de jovens. Na maioria das vezes, as causas imediatas e aparentes são o envolvimento com o mundo das drogas e a tentação do dinheiro fácil, mas - numa análise mais profunda - percebemos que as causas reais são de caráter estrutural e conjuntural, como a falta de políticas públicas para os jovens, em especial, de uma educação pública de qualidade para todos.
Como Maria aos pés da cruz, milhares de mulheres choram o assassinato dos seus filhos e perguntam: Quanto vale uma vida? Para as mulheres mães, nada paga a vida de seus filhos. Apesar de tudo, as mulheres não desistem de viver e cultivam em seus corações o “sonho real” de uma “terra sem males”, de uma “terra do bem-viver - bem-conviver”, sem discriminação e sem exclusão.
Como Maria que diz: “A minha alma glorifica o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador” (Lc 1, 46-47), “milhares de mulheres glorificam o Senhor, porque o Senhor continua fazendo maravilhas na vida delas e continua carregando a cruz com elas. Bendito seja Deus pelas mulheres!” (Ib., p. 6).
O DNJ 2011 sugere aos grupos de jovens três temas para serem aprofundados. O primeiro tema: “Ser mulher é...”, que tem o objetivo “de estimular a reflexão do grupo sobre os papéis sociais que são atribuídos aos homens e mulheres que estão dentro e fora de nossa Igreja. Desse modo, à luz do Evangelho e de ações inspiradas nele, vamos provocar o grupo com algumas questões que são essenciais para a superação de uma mentalidade sexista e para uma convivência de fato igualitária entre homens e mulheres”.
O segundo tema: “A vida comunitária tem a marca das mulheres”, que tem o objetivo de “refletir com o grupo sobre o papel das mulheres em nossa comunidade e a contribuição delas para a construção da Civilização do Amor”.
O terceiro tema: “O protagonismo feminino”, que tem o objetivo de “refletir e sensibilizar o grupo sobre as dificuldades enfrentadas pelas jovens mulheres ainda hoje e descobrir o valor dos movimentos e ações impulsionadas pelas mulheres, ampliando a visão do grupo sobre movimento feminista e sua importância na vida de toda sociedade” (Ib., p. 13-14; 21-22; 33-34).
Cito, enfim, dois textos, a meu ver, muito apropriados para a reflexão dos grupos de jovens e para a celebração do DNJ 2011. O primeiro texto diz: “Quando a Pastoral da Juventude do Brasil se propõe a refletir sobre ‘juventude e questão feminina’ a propósito do Dia Nacional da Juventude, abre espaço para se aproximar de um debate permeado de questões e, como toda boa questão, pressupõe-se diferentes interpretações. Mas o que se destaca como consenso é que no debate sobre juventude no Brasil ainda prevalece uma perspectiva androcêntrica, ou seja, as experiências masculinas são consideradas semelhantes às experiências de todas as pessoas e tidas como norma universal, o que resulta na invisibilidade das mulheres jovens. Nesse sentido, aponta-se para uma escassez de políticas públicas que incorporem as especificidades das mulheres jovens, bem como a dificuldade de reconhecê-las como atrizes políticas em todas as instâncias em que se dá sua participação, inclusive a religião” (Renata Carvalho da Silva. Ser “jovem” e ser “mulher jovem”: reflexões sobre gênero e juventude. Ib., p. 67):
O segundo texto afirma: “É necessário superar a mentalidade machista, que ignora a novidade do cristianismo acerca da ‘igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem’. Urge que as mulheres possam participar plenamente da vida familiar, eclesial, cultural, social, política e econômica, criando espaços e estruturas que favoreçam sua inclusão. Entre as ações pastorais cabe:
a) Impulsionar uma organização pastoral que promova ainda mais o protagonismo das mulheres;
b) Garantir a efetiva presença da mulher nos ministérios que a Igreja confia aos leigos, assim como nas esferas de planejamento e decisão;
c) Acompanhar as associações que lutam para superar situações difíceis pelas quais as mulheres passam no seu dia-a-dia;
d) Apoiar programas, leis e políticas públicas que permitam harmonizar a vida de trabalho da mulher com seus deveres de mãe de família, com atenção especial às empregadas domésticas, às operárias e similares” (CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) 2008 - 2010, N. 126).
            O DNJ é uma realização das Pastorais da Juventude do Brasil e da Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude, com a aprovação e o apoio da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB.
            O Assessor da Comissão acima citada, Pe. Antônio Ramos do Prado, SDB - considerando a importância que o DNJ tem na busca de respostas aos desafios que o Brasil apresenta aos jovens de hoje - faz um apelo, dizendo: “Pedimos a todas as Pastorais da Juventude, Movimentos, Novas Comunidades e Congregações que, junto com seus pastores, façam acontecer o DNJ em cada Diocese” (Subsídio: DNJ 2011. Apresentação, p. 6).

            O Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia realiza o DNJ no dia 30 deste mês de outubro, às 9h, na Praça do CIOPS do Jardim Curitiba II. Convidamos todos os jovens e todas as jovens (e também os jovens e as jovens há mais tempo). Venham participar! Será um encontro muito fraterno, muito alegre e muito desafiador. Vale a pena!
                          Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 28/10/11, p. 2

Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os “donos” do mundo

No dia 30 de setembro passado - numa operação previamente estudada e cuidadosamente planejada pela Cia e pelos militares, como se fosse uma caçada a um animal feroz - os EUA mataram, no Iêmen, Anwar al Awlaki, 40, nascido nos EUA, Estado do Novo México, filho de iemenitas e de dupla cidadania iemenita-americana. Ele foi apontado como um dos líderes da Al Qaeda na Península Arábica e uma inspiração para muitos terroristas. “Era considerado um dos mais perigosos propagandistas da franquia iemenita da rede Al Qaeda. Seus sermões na internet, que o tornaram uma espécie de celebridade entre terroristas, são alvo de diversas investigações internacionais” (Folha de S. Paulo. 01/10/11, p. A16).
Tido como mentor de atentados recentes aos EUA, incluindo o ataque á base militar de Fort Hood, no Texas, em 2009, Anwar al Awlaki - que havia escapado de um ataque semelhante em maio passado - foi morto por um avião não tripulado americano (os chamados “drones”). No ataque morreu também o americano Samir Khan, editor de uma revista on-line, ligada à Al Qaeda. A notícia, amplamente divulgada pela imprensa nacional e internacional, correu o mundo inteiro.
O presidente dos EUA, Barack Obama, querendo justificar o assassinato de Anwar al Awlaki, afirmou que ele “convocava indivíduos nos EUA e ao redor do globo a matar homens, mulheres e crianças inocentes”.
            A American Civil Liberties Union (união de liberdades civis) criticou o assassinato e, em comunicado oficial, afirmou que a ação “viola tanto as leis americanas quanto as internacionais”, ao assassinar cidadãos “sem processo judicial”. “A autoridade do governo - continua a entidade - de usar força letal contra seus próprios cidadãos deveria ser limitada a circunstâncias em que a ameaça à vida é concreta, específica e imediata”.
            A execução sumária, sem investigação ou julgamento, de Anwar al Awlaki “reacende o debate sobre liberdades civis e terrorismo” (Ib,). Para os defensores das liberdades civis, o governo dos EUA (como qualquer outro governo) não tem o direito de tirar a vida de um cidadão, americano ou não.
No caso do assassinato de Anwar al Awlaki - e também em outros casos - os EUA agiram como se fossem os donos do mundo, com poderes absolutos sobre a vida e a morte de cidadãos de seu próprio país e de outros países.
Por que - diante dessa arrogância e autossuficiência - os países, que se dizem democráticos, não manifestam publica e veementemente o seu repúdio para com a prática terrorista e ditatorial dos EUA? Por que a ONU não intervém, condenando a forma como os EUA atacam e assassinam?
“A ‘Guerra contra o Terrorismo’ vem utilizando-se amplamente do terrorismo como arma”. “Terrorismo gera terrorismo. Eis o principal motivo a nos levar a desconfiar - e desconfiar muito! - de uma guerra liderada pela maior e mais poderosa nação terrorista do mundo contra o terrorismo” (Lázaro Curvêlo Chaves. O Terrorismo dos EUA. Em: www.culturalbrasil.org - 11/09/03). Muitas vezes o lobo se apresenta em pele de cordeiro. Quem acredita que com Barack Obama os EUA se transformaram está equivocado. Os EUA continuam combatendo o terrorismo com terrorismo.
“Nós, o resto do mundo, recebemos uma representação bastante distorcida dos EUA. De um lado, eles são os (muito questionável) salvadores e samaritanos, eles nos protegeram e salvaram dos nazistas, do comunismo (que era – a meu ver - um capitalismo de Estado) e de muitos ditadores. Por outro lado, eles instauraram um regime absolutista, apóiam publicamente corruptos, Estados totalitários e levam em consideração tantos regimes hostis ao ser humano, caso estes atendam seus interesses. Eles compram Governos e Estados, tornando-os dependentes, sugam-nos sem consideração à população. Os EUA são aquilo que se combate oficialmente, eles são os terroristas que, com seu violento arsenal e maior exército do mundo, querem impor a este sua vontade. Sem se preocupar com perdas, sem consideração à população. Tudo em prol de um Governo inescrupuloso e absolutista, que é controlado por conglomerados e bancos!” (Johannes. EUA são o terrorista mais perigoso do mundo. Em: www.inacreditavel.com.br – 08/06/10).
Podemos concluir afirmando que o terrorismo não se combate com terrorismo. É preciso mudar as relações internacionais, ou seja, as relações entre os povos. Estas relações devem ser baseadas na igualdade (nenhum país é superior ao outro), no respeito mútuo, no diálogo sincero, no reconhecimento das diferentes culturas e religiões, na busca de valores comuns, na promoção dos direitos humanos, na colaboração recíproca e no empenho de todos com a construção de “um outro mundo possível”, um mundo de paz, de harmonia, de solidariedade, de justiça social e, sobretudo, de amor, que dá sentido à vida e faz a todos/as ser felizes.

Para que isso aconteça, precisa, antes de tudo, que os governantes de todos os países tenham vontade política. Precisa também que a ONU seja reestruturada e fortalecida, como organismo internacional, para que - quando se fizer necessário - tenha a “autoridade” de intervir, na solução de conflitos entre países, no mundo inteiro.
           Diário da Manhã,  Opinião Pública,  Goiânia, 19/10/11, p. 3



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O mês de setembro de 2011: o mais violento da história de Goiânia


            O mês de setembro/11 foi o mais violento da história de Goiânia com 56 homicídios. Destes homicídios, 71,42% (a média nacional é de 51,41%) com idade de até 30 anos: 5 (8,92%) com menos de 18 anos e 35 (62,5%) entre 18 e 30 anos. Adriana Ribeiro, titular da Delegacia de Homicídios, diz que não é possível apontar um motivo específico para esse aumento de homicídios em setembro. No entanto, ela cita como motivos - entre outros - as dívidas de drogas e as brigas por ponto de tráfico (Cf. O Popular, 01/10/11, p. 3).
            Que tragédia! Por que tanta violência e tanto desrespeito para com a vida humana? Por que os jovens são as maiores vítimas dessa violência e desse desrespeito? Por que eles se envolvem com o mundo das drogas e, sobretudo, do crack? Quais as causas?
            É verdade que o ser humano - por ser histórico (situado e datado) – é fruto do meio ambiente, mas é verdade também que ele faz o meio ambiente. Por isso, não quero negar a responsabilidade pessoal de quem comete atos de violência ou assassinatos (a não ser em casos patológicos), mas, a meu ver, as causas principais destes atos são de caráter estrutural e conjuntural.
O sistema capitalista neoliberal, no qual nós vivemos, é estrutural e conjunturalmente violento. A violência sistêmica é uma violência legalizada e institucionalizada. As pessoas que defendem e sustentam esta violência são consideradas, muitas vezes, pessoas “de bem” e até pessoas “religiosas”, que praticam “a caridade”. São os fariseus de hoje, que cumprem formalmente todas as leis, mas não praticam a justiça. Certamente Jesus de Nazaré diria a estas pessoas: “Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar? Façam coisas que provem que vocês se converteram”. “Se vocês são maus, como podem dizer coisas boas? Pois a boca fala aquilo de que o coração está cheio” (Mt 3, 7-8 e 12, 34).
Em outras palavras, o sistema capitalista neoliberal é um “sistema econômico iníquo” (Documento de Aparecida - DA, 385), um “sistema nefasto”, porque considera “o lucro como o motivo essencial do progresso econômico, a concorrência como lei suprema da economia, a propriedade privada dos bens de produção como um direito absoluto, sem limites nem obrigações correspondentes” (Paulo VI, Populorum Progressio - PP, 26).
Podemos dizer que o sistema capitalista neoliberal é "o mal maior, o pecado acumulado, a raiz estragada, a árvore que produz esses frutos que nós conhecemos: a pobreza, a fome, a doença, a morte da grande maioria" (Bispos do Centro-Oeste. Marginalização de um Povo, 1973). Baseado na desigualdade social, ele oprime, marginaliza, exclui e assassina os pobres como material descartável. O importante não é a vida do povo, mas o deus-mercado e os interesses dos seus servidores e adoradores.
“Os elementos da violência estrutural são a ausência de infra-estrutura e planejamento urbano dos bairros periféricos, onde às vezes o Estado só se faz presente nas ações policiais; péssimas escolas com baixa qualidade de ensino, o que por si só impede a mobilidade social; hospitais e postos de saúde sem médicos, leitos e remédios, o que veda o acesso à saúde; oferecimento insuficiente de defensoria pública para quem não pode pagar um advogado, o que veda o acesso à Justiça, etc. Quem vive e cresce dentro desse sistema de precariedade e exclusão, acaba tendo a percepção de que a sua vida vale menos. É essa precariedade das condições de vida que leva ao aumento de outro tipo de violência, a criminal”.
A relação entre o crime e a exclusão social (que na realidade, por ser permanente e estrutural, é um crime muito maior), ou seja, a relação entre a violência estrutural e a violência dita criminal, “constitui uma ameaça para as pretensões hegemônicas das elites econômicas que historicamente impedem a participação das outras parcelas da população na estrutura governamental e concentra a administração do Estado dentro do seu grupo social. Assim, conseguem tirar dele ainda mais benefícios, vetando ao restante da população os privilégios que ela recebe do Estado e fragilizando a estrutura social daqueles que realmente dependem desses benefícios. O resultado é a precariedade dos serviços públicos destinados a população de baixa renda, que não pode pagar por eles. Para evitar a associação da criminalidade com a violência estrutural, as elites usam como instrumento, através da mídia, que lhes pertence, a construção de um senso comum, uma visão de mundo onde a criminalidade é a violência em si e não uma consequência de outro tipo de violência”.
Esse senso comum não considera a violência estrutural como causa da violência dita criminal, mas como simples incompetência dos governos responsáveis e, por conseguinte, como uma fatalidade.
- "Morreu na fila do Pronto Socorro? Chegou a hora dele, fazer o quê?".
- "O filho deixou a escola? É que ele não tinha inclinação para os estudos”.
- "Está desempregado? É acomodado, preguiçoso, não se especializa”.
- “Sofreu constrangimento ou abuso da autoridade policial? Ficou dando "sopa"  
   na rua até tarde da noite”.
Ao mesmo tempo, a mídia cobra com urgência ações mais “efetivas” contra a violência criminal e legitima o aumento da repressão policial contra aqueles que o Estado já havia excluído. “Os violentados se tornam os violentos”.
“A violência delinquencial não é um fenômeno uniforme, monolítico, que se abate sobre a sociedade como algo que lhe é exterior. Pelo contrário: Ela é polifórmica, multifacetada, encontrando-se diluída na sociedade sob as mais diversas manifestações, que se interligam, interagem, (re)alimentam-se e se fortalecem”.
            Até hoje, nenhum governo “teve como prioridade à educação e o bem estar de todos os brasileiros porque nenhum deles foi eleito para isso. Suas prioridades são outras e as do grupo que o elegeu também. Quase todo candidato a cargos eletivos tem nos discursos sobre a segurança pública o seu ponto forte, porque sabe que rende muitos votos, mas seu compromisso é com a segurança do seu grupo e com a manutenção dos seus privilégios. As áreas sociais e educacionais não estão entre eles” (Eduardo E. S. Prado. Violência Estrutural e Violência Criminal. Em: www.ideiaseensaios.com.br. Citando: Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. A concretização de políticas em direção à prevenção da violência estrutural, 2007).
            Em nossa sociedade moderna, é urgente: denunciar, alto e bom som,  as "situações de pecado" (DA, 95), as "estruturas de pecado" (DA, 92, 532) e as "estruturas de morte" (DA, 112); colaborar "com outros organismos ou instituições para organizar estruturas mais justas nos âmbitos nacionais e internacionais; criar novas estruturas que consolidem uma ordem social, econômica e política, na qual não haja iniquidade e onde haja possibilidades para todos. Igualmente, requerem-se novas estruturas que promovam uma autêntica convivência humana (…)" (DA, 384).
            Adriana Ribeiro, titular da Delegacia de Homicídios, reconhece que a nossa sociedade não tem uma estrutura apropriada para enfrentar o aumento de homicídios e afirma: “Tem de se tentar tirar os jovens das drogas, o que se dá através de políticas públicas” (O Popular, Ib.). Infelizmente, o que temos hoje de políticas públicas é um paliativo, é um faz-de-conta.
Quando será que o Poder Público - Municipal, Estadual e Federal - cumprirá a Constituição Federal? Ela nos lembra que os direitos das crianças e dos adolescentes devem ser assegurados "com absoluta prioridade" e que as crianças e os adolescentes devem ser colocados a salvo "de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão" (Art. 227).
A Constituição Federal afirma que os Estados e os Municípios devem aplicar anualmente “vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” (Art. 212). Reparem: a Constituição Federal reza: “no mínimo”. Isso quer dizer que, se houver necessidade, o Estado pode e deve aplicar mais.
            A Constituição Federal afirma também que o direito à educação, entre outros direitos, deve ser assegurado à criança e ao adolescente, “com absoluta prioridade” (Art. 227. Ora, se o direito à educação deve ser assegurado “com absoluta prioridade”, mesmo que faltem verbas para outras obras, nunca deveriam faltar para a educação. Em caso contrário, não se trataria de “absoluta prioridade”.
Sempre a respeito da educação, a Constituição Federal diz ainda: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Art. 205).
Precisamos retomar a “Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens”, lançada pelas Pastorais da Juventude da CNBB em 2009, e unidos gritar: “Chega de Violência e Extermínio de Jovens”.
Enfim, precisamos, com muita fé e esperança, abrir caminhos novos que

façam acontecer um projeto alternativo (popular) de sociedade e um outro mundo possível.
                       Diário da Manhã,  Opinião Pública,  Goiânia, 11/10/11, p. 6


Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
Goiânia, 10 de outubro de 2011 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Bem Viver - Bem conviver

A Agenda Latino-americana Mundial, com a edição de 2012, faz 21 anos. Desde seu primeiro número, “esta obra tem assumido o desafio de contribuir, modestamente, mas com muita paixão, na análise e no compromisso das grandes causas de nossa América. Mas, alargando horizontes veio a assumir uma perspectiva latino-americana mundial. As grandes causas são inevitavelmente mundiais, sobretudo agora em tempos de globalização. E são causas grandes porque abraçam nossas vidas, a Sociedade, o Planeta, o Universo... As nossas causas ‘valem’ mais que a nossa vida, porque são elas as que à vida dão sentido. Somos o que amamos, o que fazemos, o que sonhamos” (Pedro Casaldáliga. Latino-americana 2012, p. 10).
A “Agenda Latino-americana Mundial” foi e continua sendo: “Sinal de comunhão continental e mundial entre as pessoas e as comunidades que vibram e se comprometem com as grandes causas da Pátria Grande, como resposta aos desafios da Pátria Maior. Um anuário da esperança dos pobres do mundo a partir da perspectiva latino-americana. Um manual companheiro para ir criando a ‘outra mundialidade’. Uma síntese da memória histórica da militância e do martírio da Nossa América. Uma antologia de solidariedade e criatividade. Uma ferramenta pedagógica para a educação, a comunicação, a ação social ou a pastoral popular” (Latino-americana 2012, 1ª página).
A “Latino-americana 2012” dedica suas páginas à utopia indígena do Bem´Viver (em quéchua: Sumak Kawsay). “Não se trata de um tema realmente novo, mas sim de uma riqueza de sabedoria que só nos últimos anos os povos indígenas estão trazendo à luz e oferecendo-a ao mundo como sua contribuição à aventura humana. Ouvir esta proposta, acolhê-la, levá-la a conhecer no nosso Continente e fora dele, meditá-la, é o que queremos fazer nesta Agenda, somando-nos na reflexão coletiva que está se realizando dentro e fora do Continente sobre este Bem Viver” (José Maria Vigil. Ib., p. 8).
A palavra libertadora, o Bem Viver, “nos sai ao encontro como um evangelho de vida possível, digna e para todas as pessoas e todos os povos. Boa nova do Bem Viver frente ao mau viver da imensa maioria e contra ‘a boa vida’, insultante, blasfema, de uma minoria que pretende ser e estar ela sozinha na casa comum da Humanidade” (Pedro Casaldáliga. Ib.).
O Bem Viver é, pois, o Bem Conviver e o Bem Conviver é o Bem viver. Não há uma boa vida humana que não seja uma boa convivência humana e vice-versa. “Somos relação, sociabilidade, comunhão, amor. Já se subentenderia que uma boa vida pessoal tem que ser também comunitária; mas é melhor destacar isso explicitamente para não cairmos em subentendidos que ignoram o que se deve entender e assumir, vitalmente, radicalmente. Eu sou eu e a Humanidade inteira. Dois são os problemas e duas as soluções: as demais pessoas e eu. Isto não se pode ‘subentender’ apenas; deve-se gritar” (Ib., p. 11).
            O Bem Viver - Bem Conviver é o “Sonho Real”, que era o nome da ex-Ocupação do Parque Oeste Industrial em Goiânia (cujos moradores foram barbaramente despejados por causa da ganância dos donos das imobiliárias e da conivência criminosa do Poder Público, Estadual e Municipal).
Jesus de Nazaré, profeta do maior Sonho Real ou “profeta da maior Utopia (‘que sejamos bons como Deus é bom, que nos amemos como Ele nos amou, que demos a vida pelas pessoas que amamos’) promulgou, com sua vida e sua morte e sua vitória sobre a morte, o Bem Viver do Reino de Deus. Ele é pessoalmente um paradigma, perene e universal, do Bem Viver, do Bem Conviver” (Ib., p. 11).

Nós da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil - empenhados em lançamentos da obra país afora - queremos espalhar a Agenda e sua causa. Como diz Pedro Casaldáliga, queremos aumentar a “Tribo dos lançadores da Agenda” (Cf. Ib., página inicial). Contamos com você. Venha participar do lançamento da “Agenda Latino-americana Mundial 2012”, no dia 28 de setembro de 2011, às 19:30h, no Centro Cultural Cara Video, rua 83, n. 361, Setor Sul, em Goiânia. Sua presença nos fará muito felizes!
        Diário da Manhã,  Opinião Pública,  Goiânia, 27/09/11, p. 6



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
Goiânia 24 de setembro de 2011 

domingo, 18 de setembro de 2011

Uma situação dramática

A situação de dependência do crack, na qual se encontram hoje muitas pessoas, sobretudo jovens, adolescentes e crianças, é realmente dramática. Trata-se de uma realidade que nos desafia a todos/as.
“Droga piorou a vida em Goiás. Assassinatos de mulheres cresceram 79,6% em 10 anos. Assassinatos de jovens cresceram 294% em 10 anos. Carros e motos viraram moeda de troca. Abandono de crianças e adolescentes aumentou 41,7% em 1 ano. Em Goiás, já são 50 mil pessoas dependentes. E o Poder Público não reagiu” (O Popular, 04/09/11, Manchete, 1ª  página).
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), “em apenas um ano cresceu em 41,7% o número de crianças e adolescentes vivendo em abrigos em Goiás. A causa principal foi a disseminação do consumo de crack no Estado”.
O Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas “aponta que em julho de 2010 existiam no Estado 688 crianças e adolescentes abrigados em Goiás. Em julho deste ano, já eram 975. Com isso, Goiás ocupa o 9º lugar no ranking nacional de crianças abrigadas depois do abandono ou da negligência familiar”.
Diante desta triste realidade, o que mais impressiona e deixa a todos/as indignados/as, é a insensibilidade, a indiferença e a omissão do Poder Público Estadual e Municipal. “Na contramão do aumento do número de usuários de crack no Estado, não há vagas para a internação de dependentes em clínicas psiquiátricas em Goiânia. Números do Pronto-Socorro Wassily Chuc - porta de entrada para o tratamento de dependentes químicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiânia - apontam que existem cerca de 300 pessoas aguardando na fila por uma vaga. O município conta com 130 leitos para internação”.
Esta situação dramática é constatada não só na capital, mas também nas cidades do interior. “O crack já esta inserido na maioria dos municípios goianos, onde também houve crescimento dos índices de violência e criminalidade, de falta de leitos para tratamento de dependentes e de desestruturação familiar causada pelo crack” (Ib., p. 4).
A questão dos dependentes de drogas, sobretudo do crack, é uma questão de saúde pública e - justamente por isso - deve ser tratada pelo Município e pelo Estado com absoluta prioridade, conforme reza a Constituição Federal. E, se for tratada com absoluta prioridade, nunca podem e nunca devem faltar verbas para a saúde pública, mesmo que faltem para outras obras, que, às vezes, não são urgentes e só servem para fins político-partidários, ou - o que é pior - para a prática da corrupção política, como o superfaturamento e o desvio de verbas.
Antes, porém, de ser uma questão de saúde pública, a questão de dependentes de drogas, sobretudo do crack, é uma questão política. O Poder Público - Municipal, Estadual e Federal - tem o dever (precisa tomar consciência disso) de investir prioritariamente em políticas públicas de qualidade que promovam as pessoas - sobretudo os jovens, os adolescentes e as crianças - suscitando nelas a autoestima e levando-as a descobrir o verdadeiro sentido da vida humana e de todas as formas de vida.
Infelizmente, muitos de nossos políticos e governantes - graças a Deus, não são todos - não estão preocupados com esta questão política e se servem despudoradamente da função pública para seus interesses pessoais.
Só cito um exemplo. No dia 13 deste mês recebi pela internet uma notícia, que diz textualmente: “Ontem, os deputados federais mostraram a cara e não votaram o projeto de lei FICHA LIMPA. Para quem não sabe, ontem, foi rejeitada a votação, na Ordem do Dia da Câmara Federal, o Projeto de Lei FICHA LIMPA, que impede a candidatura, a qualquer cargo eletivo, de pessoas condenadas em primeira ou única instância ou por meio de denúncia recebida em tribunal - no caso de políticos com foro privilegiado - em virtude de crimes graves, como: racismo, homicídio, estupro, homofobia, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas... A imprensa foi censurada e está impedida de divulgar! Portanto, vamos usar a internet, para dar conhecimento aos outros 198.000.000 de brasileiros que os deputados federais traíram o povo”.
Que vergonha! Que descaramento! Não dá para entender tanta maracutaia! Infelizmente, muitos de nossos políticos acham que o dinheiro público não é de ninguém e todos podem meter a mão nele. Trata-se somente de aproveitar a oportunidade que os cargos públicos oferecem, de ser expertos e de chegar primeiro. Talvez, com o dinheiro da corrupção, por ser cultural e endêmica, daria para resolver a questão dos dependentes de drogas, sobretudo do crack.
Para começar a dar passos concretos no enfrentamento e na solução desta situação dramática, em primeiro lugar, precisa que o Congresso vote, com urgência e sem enrolamento, a regulamentação da emenda constitucional número 29, que estabelece critérios para os investimentos na saúde e determina um percentual mínimo de investimentos. Depois de aprovada a emenda, precisa que o Congresso crie mecanismos de cobranças para que os Municípios, os Estados e a União cumpriam o estabelecido e, se necessário, busquem fundos em projetos menos prioritários, enxugando despesas e, sobretudo, evitando desperdícios (Cf. Edson Rogatti. Por mais critérios para o investimento em saúde. Folha de S. Paulo, Opinião, 13/09/11, p. A3).
Em segundo lugar, precisa que o Congresso vote, também com urgência, o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), para que os recursos obtidos sejam aplicados em políticas públicas de qualidade. O IGF é um imposto federal e somente a União tem competência para instituí-lo (Constituição Federal, art.153, VII). Embora o IGF esteja definido na Constituição, ainda não foi regulamentado por lei complementar e, portanto, ainda não pode ser cobrado. Em 2010, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou um projeto que regulamenta o IGF, mas não há, por enquanto, data prevista para que o projeto seja encaminhado ao plenário. É uma questão de vontade política!

Em terceiro lugar, precisa que todos/as da sociedade civíl tomemos consciência que é necessário combater a corrupção política - seja em nível municipal, seja em nível .estadual, seja em nível federal - e que não podemos, por razões humanas e éticas, votar em candidatos corruptos. Só fazendo isso, criaremos as condições para uma outra sociedade possível.
Diário da Manhã,  Opinião Pública,  Goiânia, 17/09/11, p.5



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Comentando o “Manifesto do Grito dos Excluídos de Goiânia”

Na cidade de Goiânia, o Grito dos/as Excluídos/as aconteceu no dia sete deste mês, das 8 às 12h. Houve um número muito significativo de participantes, representando movimentos populares, comunidades, paróquias, igrejas, e outras organizações da sociedade civil. Os participantes concentraram-se na Praça A, ao lado do Terminal de ônibus. Depois de uma rápida passagem pelo Terminal, percorreram com muita animação e esperança a Avenida Independência, fazendo quatro paradas programadas com antecedência e encerraram o Grito em frente a Câmara Municipal, na Praça do Trabalhador.
O Grito dos/as Excluídos/as de Goiânia foi o grito da Vida contra a Corrupção, a Violência e a Morte, no Transporte Coletivo, na Saúde Pública e na Segurança Pública
Com este enfoque, o Forum do Grito dos Excluídos e as Assembleias Populares lançaram o “Manifesto do Grito dos Excluídos de Goiânia”.
Na primeira parte, o Manifesto constata o contraste que existe entre as leis que garantem ao povo direitos e as regras da ganância que de fato predominam na nossa sociedade capitalista.
Diz o Manifesto: “As leis garantem ao povo direitos, mas as regras da ganância impõem-lhe penúrias e castigos. A trabalhadora e o trabalhador são explorados cotidianamente do valor do seu trabalho.
Quem deveria representar os interesses de todos utiliza-se de seu poder em seu próprio privilégio. Pervertem a Política e colocam o Estado e a coletividade a serviço de seus mesquinhos interesses. A vida de joelhos e a ganância no altar.
A classe dominante ignora o grito dos excluídos e apenas nas eleições fingem escutar o lamento e a dor do povo, respondendo-lhes com promessas que rasgam tão logo assumem o poder. Transporte de qualidade, saúde, segurança... Tudo vira moeda para o enriquecimento ilícito de uns poucos.
Quantas vezes disseram resolver o transporte público na capital? Quantas vezes a saúde era prioridade? Quantas vezes fomos amedrontados pela ineficiência da Segurança Pública?”
Na segunda parte, o Manifesto apresenta alguns dados concretos da realidade de vida do nosso povo sofrido e excluído, que são a consequência lógica das regras da ganância.
Continua o Manifesto: “Em Goiânia, 90% do transporte coletivo, que deveria ser público, está privatizado, nas mãos de pouquíssimas empresas que operam um sistema altamente lucrativo e oferece um péssimo serviço à sociedade. A trabalhadora e o trabalhador, principais usuários, não participam de nenhuma instância de deliberação e controle.
Os interesses privados prevalecem em detrimento do interesse público. Enquanto isso, a cultura do automóvel e da solução individual congestiona o trânsito e deprecia a qualidade de vida na capital.
A Saúde Pública em Goiás está na UTI e, na contramão do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo Estadual entrega importantes hospitais como HUGO, HGG, HUAPA a grupos econômicos. Novamente o povo paga a conta da péssima gestão estatal! Como no IPASGO, a improbidade administrativa gera prejuízos ao servidor e a toda coletividade”.
Na terceira e última parte, o Manifesto aponta, com muita esperança, caminhos de mudança, buscando construir um projeto popular para o Brasil.
Conclui o Manifesto: “Contudo, a força do povo está em sua organização. Não existe salvador para suas causas, apenas a classe trabalhadora pode cuidar de seus próprios interesses. A morte permeia as instituições fracassadas pela ausência real da participação democrática e popular no uso do poder. Sozinhos e isolados as trabalhadoras e os trabalhadores são apenas massa de manobra.
Somos todos um só povo, de uma só raça e com um só destino. Sem luta não haverá vitória possível. Organize-se em sua comunidade, faça parte dos movimentos populares e sociais, não se isole no individualismo medíocre ou no consumismo destrutivo.
É preciso ocupar as ruas e reivindicar, é preciso juntar-se a luta e a solidariedade coletiva, é preciso não calar diante das atrocidades e violências, é preciso coragem para gritar: Basta de morte, injustiças e iniquidade!
            A luta é de todos e somente juntos poderemos vencer a CORRUPÇÃO, a VIOLÊNCIA e a MORTE!”
Finalizando este breve comentário sobre o “Manifesto do Grito dos Excluídos de Goiânia”, lembro que a inseparável relação entre o amor a Deus e o amor ao próximo “convida todos a suprimir as graves desigualdades sociais e as enormes diferenças no acesso aos bens. Tanto a preocupação por desenvolver estruturas mais justas como por transmitir os valores sociais do Evangelho, situam-se neste contexto de serviço fraterno à vida digna" (Documento de Aparecida - DA, 358).

Portanto, os que somos cristãos - unidos a todas as forças vivas da sociedade - temos o dever de contribuir "para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho" (DA, 210).
                Goiânia, Diário da Manhã, Opinião Pública, 09/09/11, p 1


Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

“Contra a Corrupção, a Violência e a Morte, grita a Vida”

(Lema local do 17° Grito dos/as Excluídos/as de 2011)

            O Grito dos/as Excluídos/as surgiu no Brasil no ano de 1994 e o 1° Grito foi realizado em setembro de 1995, com o objetivo de aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano, que era "A Fraternidade e os/as Excluídos/as", e responder aos desafios levantados na 2a Semana Social Brasileira, cujo tema era: "Brasil, alternativas e protagonistas".
            “O Grito dos Excluídos/as é uma manifestação popular carregada de simbolismo, é um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural, de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com a causa dos/as Excluídos/as”.
            Dentro do tema "Vida em primeiro lugar", o 17º Grito dos/as Excluídos/as deste ano, 7 de setembro, tem como lema nacional "Pela Vida grita a Terra… Por Direitos, todos nós", e como lema local (Goiânia - GO) "Contra a Corrupção, a Violência e a Morte, grita a Vida". Com o lema local, o Forum Permanente do Grito dos/as Excluídos/as - responsável pela articulação e organização do Grito - quis destacar, na luta contra a Corrupção, a Violência e a Morte, as questões do Transporte, da Saúde e da Segurança Pública.
            Em Goiânia, o Transporte coletivo é caótico e desumano. A Saúde Pública é uma verdadeira calamidade. A Segurança Pública é muito precária e, às vezes, conivente com a corrupção, a violência e a morte.
            Em nível nacional, O Objetivo Geral do Grito dos/as Excluídos/as é: Anunciar, em diferentes espaços e manifestações populares, sinais de esperança com a perspectiva de transformação através da unidade, organização e das lutas populares. Denunciar todas as formas de injustiças promovidas pelo sistema capitalista implantado em nosso país, que causa a destruição e a precarização da vida do povo e do planeta.
Os Objetivos Específicos do Grito dos/as Excluídos/as são:
- Defender a vida humana em todas as suas dimensões, debater e construir alternativas que fortaleçam, mobilizem e organizem os/as excluídos/as na luta em defesa e na construção de uma sociedade que atenda os anseios populares.
- Lutar em defesa das riquezas naturais (água, terra, minérios, sementes...) do nosso planeta, denunciar o atual modelo de desenvolvimento e crescimento econômico que explora e destrói toda forma de vida.
- Proporcionar alternativas de manifestação popular que tragam esperança e perspectiva de vida para o povo.
- Mostrar que as crises, geradas pelo sistema capitalista, retiram direitos dos/as trabalhadores/as, aumentando o trabalho precário e o desemprego.
- Fortalecer as lutas dos povos em busca da soberania dos países e apoiar as formas de luta popular em favor da transformação.
- Promover debates sobre novas relações (gênero, raça, etnia, valores...) que respeitem e construam a igualdade de direitos e a valorização das diferenças.
- Construir espaços de unidade dos movimentos do campo e da cidade, promovendo a importância de cada um dentro da organização e da luta popular.
- Ir às ruas e praças para construir um projeto popular como alternativa ao modelo atual.
Um projeto popular, como alternativa ao modelo atual (projeto capitalista), acontece em torno de alguns eixos: projeto sustentável, nossos direitos, soberania nacional e internacional, esperança e utopias (mística), integração das lutas, cidadania universal, comunicação popular, defesa e promoção da juventude, garantia de todas as formas de vida no planeta (Os Dados históricos sobre o Grito dos/as Excluídos/as, os Objetivos e os Eixos foram tirados do “Jornal Grito dos Excluídos/as”, Edição Número 50, Ano 17).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB - Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, no dia 12 de julho último, enviou uma “Carta de apoio ao Grito dos/as Excluídos/as”, dizendo:
“Irmãos e Irmãs! A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz - CNBB manifesta seu apoio ao Grito dos Excluídos Nacional, que se realiza em todos os Estados do nosso País, por ocasião das comemorações do dia da Independência do Brasil.
O Grito dos Excluídos é um espaço democrático de mobilização popular nacional na Semana da Pátria, buscando construir um projeto popular para o Brasil. Neste ano tem como tema: Pela Vida grita a Terra... Por Direitos, todos nós!
Com os excluídos este evento pretende mobilizar pessoas, comunidades, Igrejas, religiões e sociedade para assumir o protagonismo na construção de alternativas que tragam a eles esperança e perspectivas de vida para as comunidades locais; promover a pluralidade e igualdade de direitos, bem como o respeito nas relações de gênero, raça e etnia; denunciar todas as formas de injustiça que, em nosso país, causam a destruição e a precarização da vida do povo e do planeta.

Diante de situações de exclusão, Jesus defende os direitos dos fracos e o direito a uma vida digna para todo ser humano. O compromisso com esta causa nos compromete no esforço de superação da exclusão em nosso país, participando da construção de uma sociedade justa, solidária e de cuidado da vida do planeta e do ser humano” (Dom Guilherme Werlang, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz).
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 01/09/11, p. 4

Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
                                                                                                                                                      E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos