sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Fazendo a memória do 6º Interreclesial das CEBs

No dia 31 de julho deste ano de 2011 escrevi um Artigo com o título: 25
Anos do 6º Encontro Interreclesial das CEBs. No Artigo fiz um histórico dos 12 Interreclesiais das CEBs, já acontecidos no Brasil, e uma referência ao 13º Interreclesial, que está sendo preparado e acontecerá, de 07 a 11 de janeiro de 2014, em Crato (CE), com o tema: “Justiça e Profecia a Serviço da Vida. CEBs, Romeiras do Reino no Campo e na Cidade”.
No mesmo Artigo apresentei também uma síntese do conteúdo teológico-pastoral do 6º Interreclesial e dei a sugestão de realizar uma Romaria ao Santuário do Divino Pai Eterno em Trindade - GO, fazendo a memória dos 25 anos do 6º Interreclesial (Leia o Artigo em: Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 31/07/11, p. 6, ou em: www.adital.com.br - 01/08/11).
Depois de diversos encontros com pessoas e Comunidades interessadas, o Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia decidiu promover a Romaria - que já tinha sido sugerida no Artigo - no dia 27 deste mês de novembro/11.
Portanto, convida para participarem desta Romaria todas as Comunidades do Vicariato e estende o convite às outras Comunidades da Arquidiocese de Goiânia, do Regional Centro-Oeste da CNBB e do Brasil todo. O 6º Interreclesial marcou a caminhada das CEBs no país inteiro.
Retomo agora algo daquilo que escrevi no Artigo acima citado, a respeito do 6º Interreclesial. Aconteceu há 25 anos, do dia 21 a 25 de julho de 1986, em Trindade - GO (depois de um ano, um mês e 20 dias da Páscoa definitiva do grande Pastor-Profeta Dom Fernando Gomes dos Santos, arcebispo de Goiânia) e teve como tema: “CEBs, Povo de Deus em Busca da Terra Prometida”.
O Encontro contou com 1.647 participantes, dentre os quais 742 representantes das bases, 203 agentes de pastoral, 30 assessores, 51 bispos, 16 representantes de Igrejas evangélicas, 10 representantes dos povos indígenas, e observadores nacionais e estrangeiros.
“O 6º Interreclesial significou uma virada decisiva na vida dos Interreclesiais. (...) Os Encontros Interreclesiais das CEBs passam, em Trindade, por uma transformação de sua natureza. (...) Em razão da proporção dos participantes, bem mais acentuada com respeito aos Encontros anteriores, não havia condições plausíveis para um estudo mais aprofundado sobre os temas propostos. Num evento de quase duas mil pessoas não se podia mais, evidentemente, privilegiar o momento reflexivo. A dimensão celebrativa passa a ocupar lugar de centralidade, o que não significa ausência da dimensão reflexiva, que permanecerá em cena. A novidade é que  a  partir  de  então  os tempos fortes dos Interreclesiais serão ocupados por grandes e vibrantes celebrações de fé. As celebrações do Interreclesial de Trindade foram extremamente criativas, com destaque para a presença de símbolos gestados na ampla e profunda experiência de enraizamento popular das Comunidades” (Os Interreclesiais das CEBs: Identidade em construção! Persp. Real. 29 (1997) 155-187).
Diversas vezes, durante o Encontro, foi proclamado, alto e bom som, que “a Santíssima Trindade é a melhor Comunidade”.
Em sintonia com o tema central, outros grandes temas - ligados à caminhada das CEBs - marcaram o 6º Interreclesial: CEBs e seu estatuto eclesiológico (identidade e missão, fé e política, espiritualidade libertadora e Bíblia, hierarquia e ministérios); CEBs e política partidária; CEBs e projeto político popular; CEBs e sindicalismo; CEBs e movimentos populares; CEBs e lutas específicas (mulheres, negros e índios); CEBs e luta pela terra (terra de Deus, terra de irmãos): CEBs e reforma agrária (projetos do governo); CEBs e moradia (solo urbano); CEBs e questão latino-americana; CEBs e ecumenismo; e outros.
Com a Romaria do dia 27 deste mês de novembro/11, primeiro domingo do Advento, queremos fazer a memória, ou seja, tornar presente hoje tudo o que o 6º Interreclesial significou e ainda significa para a caminhada das CEBs no Brasil.
Nos encontraremos no trevo da entrada de Trindade, a partir das 9:00h. Acolheremos as Comunidades com muito canto, alegria e festa. Partilharemos fraternalmente um lanche comunitário. Faremos uma caminhada penitencial até o Santuário, com cantos de perdão e reconciliação. Entraremos no Santuário do Divino Pai Eterno, louvando, glorificando e agradecendo a Deus pelo reencontro fraterno, pelo perdão recebido e pela vida das nossas Comunidades. Celebraremos a Palavra e a Eucaristia com muita fé. Renovaremos o nosso compromisso de discípulos/as missionários/as de Jesus. Seremos, enfim, enviados/as para continuar a missão de Jesus no mundo de hoje.

Venham! Participem! Será um tempo forte de graça de Deus. Será uma manhã de muita alegria, de muita paz, de muita espiritualidade e de muito compromisso.
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 17/11/11, p. 6



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

domingo, 13 de novembro de 2011

Um clamor pela vida

          Há poucos dias escrevi um Artigo com o título “Um descaso inadmissível e injustificável” sobre a situação caótica em que se encontram as Unidades de Saúde Pública e, em especial, o Hospital de Urgências de Goiânia (Ugo) (Cf. Diário da Manhã, Opinião Pública, 04/11/11, p. 7; www.adital.com.br - 04/11/11). 
            Depois de publicado o Artigo, apareceram outras reportagens sobre o mesmo assunto: o descalabro com a Saúde Pública e as medidas que o governo diz estar tomando, em caráter emergencial, para solucionar o problema. Uma reportagem anuncia: “Socorro à Saúde”. “Força-tarefa para a Saúde”. Governo de Goiás traça metas para sanar crise nos hospitais públicos.  Marconi ordena atuação imediata para solução” (Diário da Manhã, 05/11/11, manchete 1ª página e p, 2; cf. também p. 3).
            Uma outra reportagem também anuncia: “Pacotão da Saúde”. “Governador Marconi Perillo denuncia burocracia que entrava procedimentos licitatórios. Ele cria força-tarefa para solucionar impasse no setor. Empresa vai cuidar da central de laudos e manutenção dos aparelhos de hospitais. Dilma anuncia R$ 3,6 milhões anuais destinados ao Hugo” (Ib. 09/11/11, manchete 1ª página; cf. também p. 2).
Num outro órgão de imprensa, uma reportagem fala do desligamento em massa de centenas de servidores lotados nos maiores hospitais públicos do Estado e reconhece que isso levou a Secretaria Estadual de Saúde (SES) a anunciar a contratação de 365 profissionais para o setor: 225 médicos, aprovados em concurso realizado no ano passado e mais 135 profissionais, que deverão ser contratados em caráter emergencial. Parece que o governo está começando a perceber a gravidade do problema. Deus queira que seja verdade! Até agora falou-se muito, mas não se fez quase nada.
É preciso não só buscar paliativos, mas mudar a concepção de Saúde Pública e reestruturá-la de maneira global, valorizando os profissionais da saúde, dando condições dignas de trabalho e tratando com respeito os usuários do SUS.
A mesma reportagem fala também do pedido de demissão do médico Boaventura Braz de Queiroz, diretor-geral do Hospital de Doenças Tropicais (HDT) por divergências - diz ele - com a atual Superintendência de Controle e Avaliação Técnica (Scats) a respeito da metodologia de trabalho (Cf. O Popular, 08/11/11, p.9).
Enfim, uma nova reportagem do mesmo órgão de imprensa escreve: “A Saúde fraturada”. “A Saúde Pública de Goiás vive sua pior crise, com debandada de médicos e desabastecimento. Governador culpa burocracia e enfatiza necessidade de terceirizar gestão de hospitais” (Ib. 09/11/11, manchete 1ª página; cf. também p. 3-4).
A reportagem, porém, que mais me chocou foi a respeito do Hospital de Doenças Tropicais (HDT). É realmente uma calamidade pública que clama aos céus! É um crime contra a vida do povo! Será que os nossos governantes não percebem isso? Será que não entendem que os problemas da Saúde Pública devem ser considerados “prioridade absoluta” e resolvidos em caráter de urgência urgentíssima?
Vejam só que tragédia! A reportagem afirma: “Médicos denunciam falhas no HDT”. “Falta de materiais básicos, como gaze, agulha e antibiótico, é um dos problemas denunciados por profissionais do HDT. O hospital público apresenta falta de leito. Paciente, que precisa de isolamento, é internado até em corredor” (O Popular, 07/11/11, manchete 1ª página).
Depois do destaque da primeira página, a reportagem descreve detalhadamente a situação e diz: “A falta de materiais, medicamentos e de condições de trabalho para que os profissionais de saúde prestem bom atendimento provoca uma situação de estresse e risco no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), referência no Estado para o tratamento de doenças infecto-contagiosas. Por falta de leitos, pacientes que precisam de isolamento, com doenças altamente contagiosas, como tuberculose, catapora e meningite, ficam internados em leitos comuns e corredores” (Ib. p. 5).
Uma médica do HDT, que pediu para não ser identificada, afirma: “Além disso, as condições de trabalho, especialmente dos médicos, são extremamente precárias, comprometendo a qualidade do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)”. “Essas condições - continua a médica - expõem os profissionais de saúde e os próprios pacientes” (Ib.).
Outro problema é a falta de médicos diante da enorme demanda de atendimentos de emergência. Sempre segundo a médica, foram feitas várias reclamações para a Secretaria Estadual de Saúde (SES), mas nenhuma providência foi tomada (Cf. Ib.).
O Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego) recebeu também muitas reclamações de profissionais que trabalham no HDT. Leonardo Reis, presidente do Sindicato define a situação do hospital como “gravíssima” e diz: “É uma situação extremamente desconfortável e ameaçadora, é preciso destinar mais recursos para a saúde” (Ib.). O médico manifesta ainda sua preocupação com o processo de transferência da gestão dos principais hospitais estaduais para Organizações Sociais (OS) e afirma: “A terceirização é uma forma especial de privatização” (Ib.). O sindicato dos servidores da Saúde (Sindsaúde) também se manifestou contrário à terceirização ou privatização dos hospitais públicos.
Por que será que os nossos governantes, antes de tomar decisões na área da saúde, não consultam os médicos, os outros profissionais e as lideranças do povo? Talvez, não tenham ainda percebido que a época do autoritarismo já acabou! Senhor governador, a culpa da situação de descaso em que se encontra a Saúde Pública não é da burocracia (um problema que pode ser solucionado), mas da falta de vontade política.
Diante de tudo isso, pergunto: quem vai responder judicialmente pela situação criminosa em que se encontra a Saúde Pública? O Ministério Público Estadual - embora tenha determinado a suspensão dos processos para contratação de Organizações Sociais (que considero positivo) - é ainda muito omisso e não toma as providências que seriam necessárias a respeito da questão da Saúde Pública.   
Tenho certeza que a situação da Saúde Pública mudaria rapidamente se os que ocupam cargos públicos no Executivo, no Legislativo e no Judiciário fossem obrigados por lei - eles/elas e seus familiares - a usarem, durante o exercício do mandato, o Sistema Único de Saúde (SUS). Quem sabe os nossos congressistas se sensibilizem com o sofrimento do povo, apresentem um projeto de lei a esse respeito e o aprovem em caráter de urgência? Mereceriam, pelo menos nesse caso, o nosso aplauso. A esperança nunca morre!


              Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 12/11/11, p. 5



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

sábado, 5 de novembro de 2011

Um descaso inadmissível e injustificável

Parece pesadelo! Vejam só que situação deprimente! “Falta até água e luvas no Hugo (manchete). No maior hospital de urgências do Centro-Oeste, os médicos sofrem com falta de luvas cirúrgicas, fios para sutura e até água para lavar as mãos. E a lista de problema do Hugo é maior, conforme admite o governo, que culpa a burocracia. Pior para os pacientes”.
            Nas fotos da reportagem - imagens captadas por celular de médico - aparecem: corredor lotado com pacientes, 4 elevadores quebrados, aparelho de ar condicionado queimado usado como ninho por uma coruja, sala de internação lotada, pia com só uma torneira funcionando, sujeira e falta de material de limpeza. Médico afirma “que problemas podem comprometer resultado das cirurgias” (O Popular, 28/10/11, 1ª página).
            Toda essa situação de descalabro foi denunciada várias vezes. “Denúncias por parte de médicos do Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo) são frequentes e se repetem há quase duas décadas. Há 14 anos, o neurocirurgião Paulo Roberto Taveira chegou a abandonar um plantão para se dirigir à polícia, onde deu queixa contra a instituição hospitalar por omissão de socorro. Ele tinha o intuito de se resguardar, uma vez que os pacientes vinham morrendo pela falta de condições de atendimento”. Entra governo, sai governo e a situação continua a mesma ou pior.
Realmente, não dá para acreditar! Trata-se de um descaso do Poder Público inadmissível e injustificável! Quem vai responder judicialmente por essa situação criminosa e pelas mortes acontecidas ou que poderão acontecer em consequência dessa mesma situação?
Se os nossos governantes fossem obrigados a levar seus filhos e familiares doentes para serem atendidos e tratados no Hugo, tenho certeza que encontrariam imediatamente uma saída legal para resolver a situação. Infelizmente, os pobres - em nosso sistema capitalista neoliberal - não têm valor nenhum. São material descartável.
            É inadmissível que em pleno século XXI sejamos obrigados a assistir a um espetáculo tão degradante, tão cruel e tão desumano, que grita por justiça diante de Deus. A situação do Hugo - além de ser inadmissível - é também injustificável. Não adianta inventar desculpas, como o entrave da burocracia. O povo não é bobo! Quantas vezes o governo dispensou a licitação pública, em casos considerados (mesmo que às vezes não fossem) de urgência e emergência. Será que existe algo mais urgente e mais emergencial que a saúde pública e a vida dos pobres? 
            O entrave da burocracia não está sendo usado como argumento para, de forma sutil, justificar a terceirização (leia-se: privatização) da Saúde Pública?  “Na avaliação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a burocracia é o grande entrave para a boa administração de Unidades Públicas como o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). De acordo com a superintendente de Gerenciamento das Unidades Assistenciais de Saúde da SES, Lázara Maria Mundim, há processos - para manutenção e aquisição de material - que chegam a demorar até 530 dias para serem concluídos”. Que absurdo! Que irresponsabilidade! Mais uma vez, não dá para acreditar!
Segundo o secretário estadual da saúde, Antônio Faleiros “a solução para a série de problemas enfrentados pelas Unidades Públicas de Saúde (Hospital Geral de Goiânia - HGG, Materno Infantil, Hospital de Doenças Tropicais - HDT, Hospital de Urgências de Goiânia - Hugo e Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia - Huapa) está no repasse da administração às Organizações Sociais (OS)”. Diz ele: “Não há dúvidas de que, com a administração por meio de OS, a solução e a resposta serão imediatas” (Ib., p. 5). Senhor secretário, será que é realmente esta a solução? Não seria melhor que o Poder Público cumprisse a Constituição Federal, que reza: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Art. 196).
            É só uma questão de vontade política e de priorizar aquilo que realmente é prioritário: a vida, sobretudo, dos empobrecidos, oprimidos e excluídos do nosso “sistema econômico iníquo” (Documento de Aparecida - DA, 385). Precisamos urgentemente de uma Saúde Pública de qualidade para todos/as e não de “terceirizar” ou “privatizar” a Saúde Pública, enriquecendo, com o dinheiro do povo, empresas particulares, que dizem ser Organizações Sociais (OS) e nem sempre (ou quase nunca) são aquilo que dizem ser. Está na hora de o Poder Público assumir sua responsabilidade em relação à Saúde e não de “lavar as mãos”   
                     Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 04/11/11, p. 7

Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
                                                                                                                                                                    E-mail: mpsassatelli@uol.com.br        

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DNJ 2011: Juventude e Protagonismo Feminino

“Andai em Cristo Jesus, enraizados nele,
sobre ele edificados e firmes na fé” (Cl 2,7).

Inspirados nas palavras do apóstolo Paulo, no dia 30 deste mês de outubro celebramos o 26º DNJ (Dia Nacional da Juventude), que tem como tema “Juventude e Protagonismo Feminino” e como lema “Jovens mulheres tecendo relações de vida”.
O DNJ, ao longo de sua história, “foi construindo raízes profundas na vida dos jovens do Brasil, levando-os a edificar suas vidas em Cristo e, firme na fé, vai construindo a Civilização do Amor. O DNJ 2011 volta seu olhar para a mulher. Sendo ela portadora de vida, Deus a escolheu para testemunhar a sua imensa bondade. Toda mulher porta a ternura do amor de Deus, porque Deus é amor e portador de vida” (Pe. Antônio Ramos do Prado, SDB, Assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB. Subsídio: DNJ 2011. Apresentação, p. 5).
Hoje - na família, no mundo do trabalho e na sociedade - a mulher é, muitas vezes, desrespeitada em sua dignidade e em seu direito de ser humano. O DNJ 2011 quer denunciar todos os tipos de discriminação da mulher, por causa do machismo (que ainda existe, até na Igreja), da cor e da posição social. Quer também denunciar todas as formas de exploração da mulher, por razões sociais, econômicas, políticas, culturais e ecológicas.
Nestes últimos anos, assistimos a um verdadeiro extermínio de jovens. Na maioria das vezes, as causas imediatas e aparentes são o envolvimento com o mundo das drogas e a tentação do dinheiro fácil, mas - numa análise mais profunda - percebemos que as causas reais são de caráter estrutural e conjuntural, como a falta de políticas públicas para os jovens, em especial, de uma educação pública de qualidade para todos.
Como Maria aos pés da cruz, milhares de mulheres choram o assassinato dos seus filhos e perguntam: Quanto vale uma vida? Para as mulheres mães, nada paga a vida de seus filhos. Apesar de tudo, as mulheres não desistem de viver e cultivam em seus corações o “sonho real” de uma “terra sem males”, de uma “terra do bem-viver - bem-conviver”, sem discriminação e sem exclusão.
Como Maria que diz: “A minha alma glorifica o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador” (Lc 1, 46-47), “milhares de mulheres glorificam o Senhor, porque o Senhor continua fazendo maravilhas na vida delas e continua carregando a cruz com elas. Bendito seja Deus pelas mulheres!” (Ib., p. 6).
O DNJ 2011 sugere aos grupos de jovens três temas para serem aprofundados. O primeiro tema: “Ser mulher é...”, que tem o objetivo “de estimular a reflexão do grupo sobre os papéis sociais que são atribuídos aos homens e mulheres que estão dentro e fora de nossa Igreja. Desse modo, à luz do Evangelho e de ações inspiradas nele, vamos provocar o grupo com algumas questões que são essenciais para a superação de uma mentalidade sexista e para uma convivência de fato igualitária entre homens e mulheres”.
O segundo tema: “A vida comunitária tem a marca das mulheres”, que tem o objetivo de “refletir com o grupo sobre o papel das mulheres em nossa comunidade e a contribuição delas para a construção da Civilização do Amor”.
O terceiro tema: “O protagonismo feminino”, que tem o objetivo de “refletir e sensibilizar o grupo sobre as dificuldades enfrentadas pelas jovens mulheres ainda hoje e descobrir o valor dos movimentos e ações impulsionadas pelas mulheres, ampliando a visão do grupo sobre movimento feminista e sua importância na vida de toda sociedade” (Ib., p. 13-14; 21-22; 33-34).
Cito, enfim, dois textos, a meu ver, muito apropriados para a reflexão dos grupos de jovens e para a celebração do DNJ 2011. O primeiro texto diz: “Quando a Pastoral da Juventude do Brasil se propõe a refletir sobre ‘juventude e questão feminina’ a propósito do Dia Nacional da Juventude, abre espaço para se aproximar de um debate permeado de questões e, como toda boa questão, pressupõe-se diferentes interpretações. Mas o que se destaca como consenso é que no debate sobre juventude no Brasil ainda prevalece uma perspectiva androcêntrica, ou seja, as experiências masculinas são consideradas semelhantes às experiências de todas as pessoas e tidas como norma universal, o que resulta na invisibilidade das mulheres jovens. Nesse sentido, aponta-se para uma escassez de políticas públicas que incorporem as especificidades das mulheres jovens, bem como a dificuldade de reconhecê-las como atrizes políticas em todas as instâncias em que se dá sua participação, inclusive a religião” (Renata Carvalho da Silva. Ser “jovem” e ser “mulher jovem”: reflexões sobre gênero e juventude. Ib., p. 67):
O segundo texto afirma: “É necessário superar a mentalidade machista, que ignora a novidade do cristianismo acerca da ‘igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem’. Urge que as mulheres possam participar plenamente da vida familiar, eclesial, cultural, social, política e econômica, criando espaços e estruturas que favoreçam sua inclusão. Entre as ações pastorais cabe:
a) Impulsionar uma organização pastoral que promova ainda mais o protagonismo das mulheres;
b) Garantir a efetiva presença da mulher nos ministérios que a Igreja confia aos leigos, assim como nas esferas de planejamento e decisão;
c) Acompanhar as associações que lutam para superar situações difíceis pelas quais as mulheres passam no seu dia-a-dia;
d) Apoiar programas, leis e políticas públicas que permitam harmonizar a vida de trabalho da mulher com seus deveres de mãe de família, com atenção especial às empregadas domésticas, às operárias e similares” (CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) 2008 - 2010, N. 126).
            O DNJ é uma realização das Pastorais da Juventude do Brasil e da Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude, com a aprovação e o apoio da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB.
            O Assessor da Comissão acima citada, Pe. Antônio Ramos do Prado, SDB - considerando a importância que o DNJ tem na busca de respostas aos desafios que o Brasil apresenta aos jovens de hoje - faz um apelo, dizendo: “Pedimos a todas as Pastorais da Juventude, Movimentos, Novas Comunidades e Congregações que, junto com seus pastores, façam acontecer o DNJ em cada Diocese” (Subsídio: DNJ 2011. Apresentação, p. 6).

            O Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia realiza o DNJ no dia 30 deste mês de outubro, às 9h, na Praça do CIOPS do Jardim Curitiba II. Convidamos todos os jovens e todas as jovens (e também os jovens e as jovens há mais tempo). Venham participar! Será um encontro muito fraterno, muito alegre e muito desafiador. Vale a pena!
                          Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 28/10/11, p. 2

Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os “donos” do mundo

No dia 30 de setembro passado - numa operação previamente estudada e cuidadosamente planejada pela Cia e pelos militares, como se fosse uma caçada a um animal feroz - os EUA mataram, no Iêmen, Anwar al Awlaki, 40, nascido nos EUA, Estado do Novo México, filho de iemenitas e de dupla cidadania iemenita-americana. Ele foi apontado como um dos líderes da Al Qaeda na Península Arábica e uma inspiração para muitos terroristas. “Era considerado um dos mais perigosos propagandistas da franquia iemenita da rede Al Qaeda. Seus sermões na internet, que o tornaram uma espécie de celebridade entre terroristas, são alvo de diversas investigações internacionais” (Folha de S. Paulo. 01/10/11, p. A16).
Tido como mentor de atentados recentes aos EUA, incluindo o ataque á base militar de Fort Hood, no Texas, em 2009, Anwar al Awlaki - que havia escapado de um ataque semelhante em maio passado - foi morto por um avião não tripulado americano (os chamados “drones”). No ataque morreu também o americano Samir Khan, editor de uma revista on-line, ligada à Al Qaeda. A notícia, amplamente divulgada pela imprensa nacional e internacional, correu o mundo inteiro.
O presidente dos EUA, Barack Obama, querendo justificar o assassinato de Anwar al Awlaki, afirmou que ele “convocava indivíduos nos EUA e ao redor do globo a matar homens, mulheres e crianças inocentes”.
            A American Civil Liberties Union (união de liberdades civis) criticou o assassinato e, em comunicado oficial, afirmou que a ação “viola tanto as leis americanas quanto as internacionais”, ao assassinar cidadãos “sem processo judicial”. “A autoridade do governo - continua a entidade - de usar força letal contra seus próprios cidadãos deveria ser limitada a circunstâncias em que a ameaça à vida é concreta, específica e imediata”.
            A execução sumária, sem investigação ou julgamento, de Anwar al Awlaki “reacende o debate sobre liberdades civis e terrorismo” (Ib,). Para os defensores das liberdades civis, o governo dos EUA (como qualquer outro governo) não tem o direito de tirar a vida de um cidadão, americano ou não.
No caso do assassinato de Anwar al Awlaki - e também em outros casos - os EUA agiram como se fossem os donos do mundo, com poderes absolutos sobre a vida e a morte de cidadãos de seu próprio país e de outros países.
Por que - diante dessa arrogância e autossuficiência - os países, que se dizem democráticos, não manifestam publica e veementemente o seu repúdio para com a prática terrorista e ditatorial dos EUA? Por que a ONU não intervém, condenando a forma como os EUA atacam e assassinam?
“A ‘Guerra contra o Terrorismo’ vem utilizando-se amplamente do terrorismo como arma”. “Terrorismo gera terrorismo. Eis o principal motivo a nos levar a desconfiar - e desconfiar muito! - de uma guerra liderada pela maior e mais poderosa nação terrorista do mundo contra o terrorismo” (Lázaro Curvêlo Chaves. O Terrorismo dos EUA. Em: www.culturalbrasil.org - 11/09/03). Muitas vezes o lobo se apresenta em pele de cordeiro. Quem acredita que com Barack Obama os EUA se transformaram está equivocado. Os EUA continuam combatendo o terrorismo com terrorismo.
“Nós, o resto do mundo, recebemos uma representação bastante distorcida dos EUA. De um lado, eles são os (muito questionável) salvadores e samaritanos, eles nos protegeram e salvaram dos nazistas, do comunismo (que era – a meu ver - um capitalismo de Estado) e de muitos ditadores. Por outro lado, eles instauraram um regime absolutista, apóiam publicamente corruptos, Estados totalitários e levam em consideração tantos regimes hostis ao ser humano, caso estes atendam seus interesses. Eles compram Governos e Estados, tornando-os dependentes, sugam-nos sem consideração à população. Os EUA são aquilo que se combate oficialmente, eles são os terroristas que, com seu violento arsenal e maior exército do mundo, querem impor a este sua vontade. Sem se preocupar com perdas, sem consideração à população. Tudo em prol de um Governo inescrupuloso e absolutista, que é controlado por conglomerados e bancos!” (Johannes. EUA são o terrorista mais perigoso do mundo. Em: www.inacreditavel.com.br – 08/06/10).
Podemos concluir afirmando que o terrorismo não se combate com terrorismo. É preciso mudar as relações internacionais, ou seja, as relações entre os povos. Estas relações devem ser baseadas na igualdade (nenhum país é superior ao outro), no respeito mútuo, no diálogo sincero, no reconhecimento das diferentes culturas e religiões, na busca de valores comuns, na promoção dos direitos humanos, na colaboração recíproca e no empenho de todos com a construção de “um outro mundo possível”, um mundo de paz, de harmonia, de solidariedade, de justiça social e, sobretudo, de amor, que dá sentido à vida e faz a todos/as ser felizes.

Para que isso aconteça, precisa, antes de tudo, que os governantes de todos os países tenham vontade política. Precisa também que a ONU seja reestruturada e fortalecida, como organismo internacional, para que - quando se fizer necessário - tenha a “autoridade” de intervir, na solução de conflitos entre países, no mundo inteiro.
           Diário da Manhã,  Opinião Pública,  Goiânia, 19/10/11, p. 3



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O mês de setembro de 2011: o mais violento da história de Goiânia


            O mês de setembro/11 foi o mais violento da história de Goiânia com 56 homicídios. Destes homicídios, 71,42% (a média nacional é de 51,41%) com idade de até 30 anos: 5 (8,92%) com menos de 18 anos e 35 (62,5%) entre 18 e 30 anos. Adriana Ribeiro, titular da Delegacia de Homicídios, diz que não é possível apontar um motivo específico para esse aumento de homicídios em setembro. No entanto, ela cita como motivos - entre outros - as dívidas de drogas e as brigas por ponto de tráfico (Cf. O Popular, 01/10/11, p. 3).
            Que tragédia! Por que tanta violência e tanto desrespeito para com a vida humana? Por que os jovens são as maiores vítimas dessa violência e desse desrespeito? Por que eles se envolvem com o mundo das drogas e, sobretudo, do crack? Quais as causas?
            É verdade que o ser humano - por ser histórico (situado e datado) – é fruto do meio ambiente, mas é verdade também que ele faz o meio ambiente. Por isso, não quero negar a responsabilidade pessoal de quem comete atos de violência ou assassinatos (a não ser em casos patológicos), mas, a meu ver, as causas principais destes atos são de caráter estrutural e conjuntural.
O sistema capitalista neoliberal, no qual nós vivemos, é estrutural e conjunturalmente violento. A violência sistêmica é uma violência legalizada e institucionalizada. As pessoas que defendem e sustentam esta violência são consideradas, muitas vezes, pessoas “de bem” e até pessoas “religiosas”, que praticam “a caridade”. São os fariseus de hoje, que cumprem formalmente todas as leis, mas não praticam a justiça. Certamente Jesus de Nazaré diria a estas pessoas: “Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar? Façam coisas que provem que vocês se converteram”. “Se vocês são maus, como podem dizer coisas boas? Pois a boca fala aquilo de que o coração está cheio” (Mt 3, 7-8 e 12, 34).
Em outras palavras, o sistema capitalista neoliberal é um “sistema econômico iníquo” (Documento de Aparecida - DA, 385), um “sistema nefasto”, porque considera “o lucro como o motivo essencial do progresso econômico, a concorrência como lei suprema da economia, a propriedade privada dos bens de produção como um direito absoluto, sem limites nem obrigações correspondentes” (Paulo VI, Populorum Progressio - PP, 26).
Podemos dizer que o sistema capitalista neoliberal é "o mal maior, o pecado acumulado, a raiz estragada, a árvore que produz esses frutos que nós conhecemos: a pobreza, a fome, a doença, a morte da grande maioria" (Bispos do Centro-Oeste. Marginalização de um Povo, 1973). Baseado na desigualdade social, ele oprime, marginaliza, exclui e assassina os pobres como material descartável. O importante não é a vida do povo, mas o deus-mercado e os interesses dos seus servidores e adoradores.
“Os elementos da violência estrutural são a ausência de infra-estrutura e planejamento urbano dos bairros periféricos, onde às vezes o Estado só se faz presente nas ações policiais; péssimas escolas com baixa qualidade de ensino, o que por si só impede a mobilidade social; hospitais e postos de saúde sem médicos, leitos e remédios, o que veda o acesso à saúde; oferecimento insuficiente de defensoria pública para quem não pode pagar um advogado, o que veda o acesso à Justiça, etc. Quem vive e cresce dentro desse sistema de precariedade e exclusão, acaba tendo a percepção de que a sua vida vale menos. É essa precariedade das condições de vida que leva ao aumento de outro tipo de violência, a criminal”.
A relação entre o crime e a exclusão social (que na realidade, por ser permanente e estrutural, é um crime muito maior), ou seja, a relação entre a violência estrutural e a violência dita criminal, “constitui uma ameaça para as pretensões hegemônicas das elites econômicas que historicamente impedem a participação das outras parcelas da população na estrutura governamental e concentra a administração do Estado dentro do seu grupo social. Assim, conseguem tirar dele ainda mais benefícios, vetando ao restante da população os privilégios que ela recebe do Estado e fragilizando a estrutura social daqueles que realmente dependem desses benefícios. O resultado é a precariedade dos serviços públicos destinados a população de baixa renda, que não pode pagar por eles. Para evitar a associação da criminalidade com a violência estrutural, as elites usam como instrumento, através da mídia, que lhes pertence, a construção de um senso comum, uma visão de mundo onde a criminalidade é a violência em si e não uma consequência de outro tipo de violência”.
Esse senso comum não considera a violência estrutural como causa da violência dita criminal, mas como simples incompetência dos governos responsáveis e, por conseguinte, como uma fatalidade.
- "Morreu na fila do Pronto Socorro? Chegou a hora dele, fazer o quê?".
- "O filho deixou a escola? É que ele não tinha inclinação para os estudos”.
- "Está desempregado? É acomodado, preguiçoso, não se especializa”.
- “Sofreu constrangimento ou abuso da autoridade policial? Ficou dando "sopa"  
   na rua até tarde da noite”.
Ao mesmo tempo, a mídia cobra com urgência ações mais “efetivas” contra a violência criminal e legitima o aumento da repressão policial contra aqueles que o Estado já havia excluído. “Os violentados se tornam os violentos”.
“A violência delinquencial não é um fenômeno uniforme, monolítico, que se abate sobre a sociedade como algo que lhe é exterior. Pelo contrário: Ela é polifórmica, multifacetada, encontrando-se diluída na sociedade sob as mais diversas manifestações, que se interligam, interagem, (re)alimentam-se e se fortalecem”.
            Até hoje, nenhum governo “teve como prioridade à educação e o bem estar de todos os brasileiros porque nenhum deles foi eleito para isso. Suas prioridades são outras e as do grupo que o elegeu também. Quase todo candidato a cargos eletivos tem nos discursos sobre a segurança pública o seu ponto forte, porque sabe que rende muitos votos, mas seu compromisso é com a segurança do seu grupo e com a manutenção dos seus privilégios. As áreas sociais e educacionais não estão entre eles” (Eduardo E. S. Prado. Violência Estrutural e Violência Criminal. Em: www.ideiaseensaios.com.br. Citando: Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. A concretização de políticas em direção à prevenção da violência estrutural, 2007).
            Em nossa sociedade moderna, é urgente: denunciar, alto e bom som,  as "situações de pecado" (DA, 95), as "estruturas de pecado" (DA, 92, 532) e as "estruturas de morte" (DA, 112); colaborar "com outros organismos ou instituições para organizar estruturas mais justas nos âmbitos nacionais e internacionais; criar novas estruturas que consolidem uma ordem social, econômica e política, na qual não haja iniquidade e onde haja possibilidades para todos. Igualmente, requerem-se novas estruturas que promovam uma autêntica convivência humana (…)" (DA, 384).
            Adriana Ribeiro, titular da Delegacia de Homicídios, reconhece que a nossa sociedade não tem uma estrutura apropriada para enfrentar o aumento de homicídios e afirma: “Tem de se tentar tirar os jovens das drogas, o que se dá através de políticas públicas” (O Popular, Ib.). Infelizmente, o que temos hoje de políticas públicas é um paliativo, é um faz-de-conta.
Quando será que o Poder Público - Municipal, Estadual e Federal - cumprirá a Constituição Federal? Ela nos lembra que os direitos das crianças e dos adolescentes devem ser assegurados "com absoluta prioridade" e que as crianças e os adolescentes devem ser colocados a salvo "de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão" (Art. 227).
A Constituição Federal afirma que os Estados e os Municípios devem aplicar anualmente “vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” (Art. 212). Reparem: a Constituição Federal reza: “no mínimo”. Isso quer dizer que, se houver necessidade, o Estado pode e deve aplicar mais.
            A Constituição Federal afirma também que o direito à educação, entre outros direitos, deve ser assegurado à criança e ao adolescente, “com absoluta prioridade” (Art. 227. Ora, se o direito à educação deve ser assegurado “com absoluta prioridade”, mesmo que faltem verbas para outras obras, nunca deveriam faltar para a educação. Em caso contrário, não se trataria de “absoluta prioridade”.
Sempre a respeito da educação, a Constituição Federal diz ainda: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Art. 205).
Precisamos retomar a “Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens”, lançada pelas Pastorais da Juventude da CNBB em 2009, e unidos gritar: “Chega de Violência e Extermínio de Jovens”.
Enfim, precisamos, com muita fé e esperança, abrir caminhos novos que

façam acontecer um projeto alternativo (popular) de sociedade e um outro mundo possível.
                       Diário da Manhã,  Opinião Pública,  Goiânia, 11/10/11, p. 6


Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
Goiânia, 10 de outubro de 2011 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Bem Viver - Bem conviver

A Agenda Latino-americana Mundial, com a edição de 2012, faz 21 anos. Desde seu primeiro número, “esta obra tem assumido o desafio de contribuir, modestamente, mas com muita paixão, na análise e no compromisso das grandes causas de nossa América. Mas, alargando horizontes veio a assumir uma perspectiva latino-americana mundial. As grandes causas são inevitavelmente mundiais, sobretudo agora em tempos de globalização. E são causas grandes porque abraçam nossas vidas, a Sociedade, o Planeta, o Universo... As nossas causas ‘valem’ mais que a nossa vida, porque são elas as que à vida dão sentido. Somos o que amamos, o que fazemos, o que sonhamos” (Pedro Casaldáliga. Latino-americana 2012, p. 10).
A “Agenda Latino-americana Mundial” foi e continua sendo: “Sinal de comunhão continental e mundial entre as pessoas e as comunidades que vibram e se comprometem com as grandes causas da Pátria Grande, como resposta aos desafios da Pátria Maior. Um anuário da esperança dos pobres do mundo a partir da perspectiva latino-americana. Um manual companheiro para ir criando a ‘outra mundialidade’. Uma síntese da memória histórica da militância e do martírio da Nossa América. Uma antologia de solidariedade e criatividade. Uma ferramenta pedagógica para a educação, a comunicação, a ação social ou a pastoral popular” (Latino-americana 2012, 1ª página).
A “Latino-americana 2012” dedica suas páginas à utopia indígena do Bem´Viver (em quéchua: Sumak Kawsay). “Não se trata de um tema realmente novo, mas sim de uma riqueza de sabedoria que só nos últimos anos os povos indígenas estão trazendo à luz e oferecendo-a ao mundo como sua contribuição à aventura humana. Ouvir esta proposta, acolhê-la, levá-la a conhecer no nosso Continente e fora dele, meditá-la, é o que queremos fazer nesta Agenda, somando-nos na reflexão coletiva que está se realizando dentro e fora do Continente sobre este Bem Viver” (José Maria Vigil. Ib., p. 8).
A palavra libertadora, o Bem Viver, “nos sai ao encontro como um evangelho de vida possível, digna e para todas as pessoas e todos os povos. Boa nova do Bem Viver frente ao mau viver da imensa maioria e contra ‘a boa vida’, insultante, blasfema, de uma minoria que pretende ser e estar ela sozinha na casa comum da Humanidade” (Pedro Casaldáliga. Ib.).
O Bem Viver é, pois, o Bem Conviver e o Bem Conviver é o Bem viver. Não há uma boa vida humana que não seja uma boa convivência humana e vice-versa. “Somos relação, sociabilidade, comunhão, amor. Já se subentenderia que uma boa vida pessoal tem que ser também comunitária; mas é melhor destacar isso explicitamente para não cairmos em subentendidos que ignoram o que se deve entender e assumir, vitalmente, radicalmente. Eu sou eu e a Humanidade inteira. Dois são os problemas e duas as soluções: as demais pessoas e eu. Isto não se pode ‘subentender’ apenas; deve-se gritar” (Ib., p. 11).
            O Bem Viver - Bem Conviver é o “Sonho Real”, que era o nome da ex-Ocupação do Parque Oeste Industrial em Goiânia (cujos moradores foram barbaramente despejados por causa da ganância dos donos das imobiliárias e da conivência criminosa do Poder Público, Estadual e Municipal).
Jesus de Nazaré, profeta do maior Sonho Real ou “profeta da maior Utopia (‘que sejamos bons como Deus é bom, que nos amemos como Ele nos amou, que demos a vida pelas pessoas que amamos’) promulgou, com sua vida e sua morte e sua vitória sobre a morte, o Bem Viver do Reino de Deus. Ele é pessoalmente um paradigma, perene e universal, do Bem Viver, do Bem Conviver” (Ib., p. 11).

Nós da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil - empenhados em lançamentos da obra país afora - queremos espalhar a Agenda e sua causa. Como diz Pedro Casaldáliga, queremos aumentar a “Tribo dos lançadores da Agenda” (Cf. Ib., página inicial). Contamos com você. Venha participar do lançamento da “Agenda Latino-americana Mundial 2012”, no dia 28 de setembro de 2011, às 19:30h, no Centro Cultural Cara Video, rua 83, n. 361, Setor Sul, em Goiânia. Sua presença nos fará muito felizes!
        Diário da Manhã,  Opinião Pública,  Goiânia, 27/09/11, p. 6



Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
Goiânia 24 de setembro de 2011 
A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos