domingo, 30 de agosto de 2015

Discurso de Francisco aos participantes do 2º EMMP - Vocês são semeadores de mudança -


            Neste 3º artigo sobre o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares destaco o segundo ponto marcante do Discurso do Papa Francisco: vocês são semeadores de mudança.
            Com simplicidade e ternura de irmão, Francisco diz: “aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: ‘processo de mudança’. A mudança concebida não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social. Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir”.
Por isso - continua o Papa - “gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verão florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirmação, por um destino, por viver com dignidade, por ‘viver bem’”. É a sociedade do bem viver e do bem conviver.
Confiando nos Movimentos Populares, Francisco declara: “vocês, a partir dos Movimentos Populares, assumiram as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, que se rebela contra a injustiça social. Quando olhamos o rosto dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do indígena oprimido, da família sem teto, do imigrante perseguido, do jovem desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes ‘rostos e nomes’, estremecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos…”.
Com sentimentos de compaixão, ou seja, de partilha da dor dos irmãos e irmãs, o Papa lembra as razões dessa comoção e afirma: “porque ‘vimos e ouvimos’ não a fria estatística, mas as feridas da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da teorização abstrata ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e procuramos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita ação comunitária é incompreensível apenas com a razão: tem um algo mais de sentido que só os povos entendem e que confere a sua mística particular aos verdadeiros Movimentos Populares”.
Como irmão e companheiro de caminhada, Francisco reconhece: “vocês vivem, cada dia, imersos na crueza da tormenta humana. Falaram-me das suas causas, partilharam comigo as suas lutas. E agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes trabalharam no insignificante, no que aparece ao seu alcance, na realidade injusta que vos foi imposta e a que não vos resignais, opondo uma resistência ativa ao sistema idólatra que exclui, degrada e mata”. Reparem as palavras do Papa: “sistema idólatra que exclui, degrada e mata”. Meditemos!
Com muito realismo, o Papa diz: “vi vocês trabalharem incansavelmente pela terra e a agricultura camponesa, pelos vossos territórios e comunidades, pela dignificação da economia popular, pela integração urbana das vossas favelas e agrupamentos, pela autoconstrução de moradias e o desenvolvimento das infraestruturas do bairro e em muitas atividades comunitárias que tendem à reafirmação de algo tão elementar e inegavelmente necessário como o direito aos ‘3 T’: terra, teto e trabalho”.
E acrescenta: “este apego ao bairro, à terra, ao território, à profissão, à corporação, este reconhecer-se no rosto do outro, esta proximidade no dia-a-dia, com as suas misérias e os seus heroísmos quotidianos, é o que permite realizar o mandamento do amor, não a partir de ideias ou conceitos, mas a partir do genuíno encontro entre pessoas, porque não se amam os conceitos nem as ideias; amam-se as pessoas. A entrega, a verdadeira entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades... Rostos e nomes que enchem o coração”.   Diz ainda Francisco: “a partir destas sementes de esperança, semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo”.
E constata: “vejo, com alegria, que vocês trabalham no que aparece ao vosso alcance, cuidando dos rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva mais ampla, protegendo o arvoredo. Trabalham numa perspectiva que não só aborda a realidade setorial, que cada um de vocês representa e na qual felizmente está enraizado, mas procuram também resolver, na sua raiz, os problemas gerais de pobreza, desigualdade e exclusão”.
Parabeniza, pois, os participantes dos Movimentos Populares, mostrando a confiança que tem em suas lutas: “felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização da exclusão”. Com profunda convicção, ele reconhece: “vocês são semeadores de mudança”.
Por fim, o Papa faz uma oração: “que Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e paixão para continuarem a semear. Podem ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos ver os frutos”. Dirigindo-se, pois, às lideranças, ele pede: “sejam criativos e nunca percam o apego às coisas próximas, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adotar posições ideológicas, mas se vocês construírem sobre bases sólidas, sobre as necessidades reais e a experiência viva dos seus irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e famílias marginalizadas, com certeza não se equivocarão”.
Francisco conclui dizendo: “a Igreja não pode nem deve ser alheia a este processo no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais realizam uma tarefa imensa acompanhando e promovendo os excluídos em todo o mundo, ao lado de cooperativas, dando impulso a empreendimentos, construindo casas, trabalhando abnegadamente nas áreas da saúde, esporte e educação. Estou convencido de que a cooperação amistosa com os Movimentos Populares pode robustecer estes esforços e fortalecer os processos de mudança”. Será que nós, cristãos e cristãs, estamos convencidos e convencidas disso?

E faz mais um pedido: “no coração, tenhamos sempre a Virgem Maria, uma jovem humilde duma pequena aldeia perdida na periferia dum grande império, uma mãe sem teto, que soube transformar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que brote a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padroeira da Bolívia, para fazer com que este nosso Encontro (reparem: este “nosso” Encontro) seja fermento de mudança”. É o que todos e todas nós desejamos!


Fr Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 19 de agosto de 2015 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Discurso de Francisco aos participantes do 2º EMMP - Precisamos e queremos uma mudança de estruturas -


            Neste 2º artigo sobre o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares destaco o primeiro ponto marcante do Discurso do Papa Francisco: precisamos e queremos uma mudança de estruturas.
            Com firmeza, Francisco declara: “começamos por reconhecer que precisamos duma mudança”. Para que não haja mal-entendidos, ele esclarece: “falo dos problemas comuns de todos os latino-americanos e, em geral, de toda a humanidade. Problemas que têm uma matriz global e que atualmente nenhum Estado pode resolver por si mesmo”. Depois deste esclarecimento, o Papa propõe que nos coloquemos três perguntas.
Primeira: “reconhecemos que as coisas não andam bem num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade?”
Segunda: “reconhecemos que as coisas não andam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera até dos nossos bairros?”
Terceira: “reconhecemos que as coisas não andam bem, quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante?”
Afirma, pois, com objetividade: “então digamo-lo sem medo: precisamos e queremos uma mudança”.
Fraternal e carinhosamente, o Papa lembra: “nas cartas de vocês e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injustiças que sofrem em cada trabalho, em cada bairro, em cada território. São tantas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar. Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas”.
Com realismo, Francisco diz ainda: “pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos.... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”.
O Papa continua insistindo: “queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que atinja também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”. Pela coragem de dizer a verdade e pela clareza de suas palavras, Francisco é realmente um grande profeta do nosso tempo!
Como um irmão e companheiro de caminhada, o Papa afirma: “hoje quero refletir com vocês sobre a mudança que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança - poderíamos dizer - redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que vocês buscam uma mudança e não apenas vocês: nos diferentes encontros, nas várias viagens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da minoria cada vez mais reduzida que pensa sair beneficiada deste sistema, reina a insatisfação e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza individualista que escraviza”.
Francisco - sempre com clareza - continua dizendo: “o tempo, irmãos e irmãs, parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a ter o assanhamento de lutar contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo que os pobres já há muito denunciam: produzem-se danos talvez irreversíveis no ecossistema. Castiga-se a terra, os povos e as pessoas de forma violenta”.
 E ainda: “por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava ‘o esterco do diabo’: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o ser humano, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum”.
Em tom coloquial, o Papa continua dizendo: “não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vocês os conhecem! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo ilusório ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crônica dos crimes de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer, além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos”.
Identificando-se com os trabalhadores e trabalhadoras explorados e oprimidos, ele declara: “que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos trabalhistas? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador, que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, do meu povoado, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas?”
Francisco - que confia plenamente nos trabalhadores e trabalhadoras -  responde: “Muito! Podem fazer muito”. Vocês, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podem e fazem muito”.
Em sua opção pelos pobres, que, na realidade, é uma entranhável solidariedade para com eles, o Papa conclui: “atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas mãos de vocês, na capacidade de vocês se organizarem e promoverem alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (trabalho, teto, terra), e também na participação de vocês como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!”.
Como já disse, estamos diante de uma revolução evangélica. Na qualidade de “profetas e profetisas da vida”, participemos dessa revolução!
(Leia também: “2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares: seu significado”, em:




Fr Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 12 de agosto de 2015 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares: seu significado

            
Entre os dias 7 e 9 de julho último aconteceu o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (2º EMMP), em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), que reuniu cerca de 1.500 militantes de 40 países. A delegação brasileira contou com 200 representações de diversos Movimentos Populares do país.
No primeiro dia do Encontro, após a mística de abertura, aconteceu o painel “Mãe Terra”, que trouxe importantes dados a respeito do controle que as multinacionais têm sobre a alimentação da humanidade. No debate, dezenas de líderes camponeses relataram a luta em seus países pela soberania alimentar e por um planeta sustentável. O destaque foi a importante participação das mulheres camponesas e indígenas, que com muita garra defendem suas terras e seu povo da gana imperialista, que expulsa os povos originários de suas terras e impõe cruéis e injustas leis de mercado.
Em seguida, os participantes do Encontro receberam a visita do presidente indígena da Bolívia, Evo Morales, que deu as boas vindas a todos e a todas, ressaltando a importância dos Movimentos Populares na luta contra o imperialismo.
No dia seguinte, de manhã, foi a vez do painel “Trabalho”, que reuniu lideranças sindicais de vários países para contar suas experiências de trabalhadores e trabalhadoras na luta contra a exploração e por direitos.
À tarde do mesmo dia, o tema principal foi “A luta pelo teto”. Teve depoimentos de Movimentos Populares do Brasil, Índia, África, Bolívia e Peru sobre suas experiências de luta, cooperativismo e autoconstrução.
No dia 9 aconteceu o Encontro com o Papa Francisco e o presidente Evo Morales, que - depois do Discurso do Papa - encerraram o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (cf. http://averdade.org.br/2015/07/encontro-mundial-dos-movimentos-populares-acontece-na-bolivia/).
Antes de tudo, quero reafirmar o que escrevi no artigo “O significado do 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares”, que representa uma verdadeira revolução na Igreja, uma “revolução evangélica” radical (em: http://www.dm.com.br/texto/198692-o-significado-do-encontro-mundial-de-movimentos-populares ou http://freimarcos.blogspot.com.br/search?updated-max=2014-12-03T14:30:00-08:00&max-results=7&start=28&by-date=false e outros sites).
            Neste artigo (o primeiro de uma série) faço algumas considerações e reflexões sobre o significado do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Em outros artigos - não necessariamente na sequência cronológica - destacarei os pontos mais marcantes do Discurso do Papa aos participantes do 2º Encontro e da declaração final do mesmo, a “Carta de Santa Cruz”, que (como já disse a respeito do 1º Encontro) são luzes para a nossa militância nas Pastorais Sociais e Ambientais, e nos Movimentos Populares.
Qual é, pois, o significado do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares? O que ele representa? Em primeiro lugar, o 2º Encontro tem o objetivo de dar continuidade ao 1º, realizado no Vaticano (Roma - Itália), de 27 a 29 de outubro de 2014. Em segundo lugar, tem também o objetivo de retomar, ampliar e aprofundar os temas refletidos e debatidos no 1º Encontro. O fato que o 2º Encontro tenha sido realizado pouco tempo depois do 1º (ninguém imaginava isso) é um sinal de que a revolução na Igreja (da qual falei no 1º Encontro) - uma “revolução evangélica” radical - está dando os primeiros passos com muita rapidez. É certamente o Espírito Santo (o Amor de Deus) que está presente e age na história do ser humano e do mundo.
             O Papa Francisco, em seu Discurso aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, coloca-se no meio deles e delas - num plano de igualdade - como um irmão, que está em plena sintonia com os anseios e as aspirações dos Movimentos Populares. Dirige-se aos irmãos e irmãs desses Movimentos com toda simplicidade, ternura e confiança.
            Depois de saudar a todos e a todas com uma “Boa tarde!” muito carinhosa, Francisco faz uma saudosa memória do 1º Encontro. “Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro Encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-los de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado, senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro”. E, do mais profundo do seu coração, continua dizendo: “então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado!”.
Reparem agora o que Francisco diz aos cristãos e cristãs para incentivá-los a participarem ativamente dos Movimentos Populares. “Pelo Pontifício Conselho ‘Justiça e Paz’, presidido pelo Cardeal Turkson, soube também que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro”.
Quanta clareza e quanta paixão nas palavras de Francisco! Ah, se as nossas Igrejas (Comunidades, Paróquias, Dioceses) entendessem e vivessem isso! Infelizmente, existem ainda muita indiferença e omissão por parte da Igreja em relação aos Movimentos Populares! Ah, se as nossas Igrejas ouvissem o apelo do Papa Francisco! Meditemos, irmãos e irmãs! As palavras de Francisco nos questionam, nos incomodam e nos levam a mudar de vida, buscando viver cada vez mais a radicalidade evangélica na sociedade e no mundo de hoje.
Sempre de coração aberto e com muita ternura, Francisco diz ainda: “Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra”.





                                                                                                                                          Fr Marcos Sassatelli,Frade dominicano
                                                                                                     Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
                                                                                                                                    Professor aposentado de Filosofia da UFG
                                                                                                                                                     E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
                                                                                                                                                        Goiânia, 05 de agosto de 2015


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Frei Humberto: um homem de Deus a serviço do Povo

     
      No  dia  24  último,  à  noite,  faleceu  em  Goiânia  (GO)  o  nosso  querido  irmão Frei Humberto Pereira de Almeida, aos 91 anos de idade e 63 de padre (Ordenação Presbiteral). Ele tinha sido hospitalizado no dia 22 de manhã, data do seu aniversário. O corpo foi velado - com grande participação do povo consternado e emocionado - na Igreja S. Judas Tadeu, Setor Coimbra. Às 9h de domingo foi concelebrada a Missa de corpo presente - presidida por Frei Edivaldo (Frei Bruno), provincial dos Dominicanos - com a participação de Frades dominicanos  de  Goiânia  e  Cidade  de  Goiás,  de  Dom  Antônio, arcebispo  emérito  da Arquidiocese  de  Goiânia  e  Dom  Eugênio,  bispo  da    Diocese de Goiás.  Após  a  Missa, seguiu-se o cortejo fúnebre até o Cemitério das Palmeiras, onde o corpo de Frei Humberto foi sepultado. A Missa de 7º Dia está marcada para o dia 30 (quinta-feira), às 19h, na Igreja S. Judas Tadeu. 
       Frei Humberto nasceu em 22 de julho de 1924, em Santa Cruz do Rio Pardo - SP. Jovem ainda entrou na Vida Religiosa. Depois do ano de Noviciado, fez a Primeira Profissão na  Ordem  dos  Frades  Pregadores  (Dominicanos)  em  11  de  fevereiro  de 1947.  Estudou filosofia e teologia em Bolonha, Itália. Ordenou-se padre na mesma cidade, em 6 de julho de 1952. Frei Humberto era irmão de Dom Frei Celso Pereira de Almeida, falecido em maio do ano passado. 
      No  dia  6  de  julho  de  2012,  Frei  Humberto  completou  60  anos  de  padre, sempre 
servindo ao Povo com dedicação e amor. Comemorou suas Bodas de Diamante Sacerdotais com  uma  Solene  Celebração  Eucarística,  na  Comunidade  Paroquial  São Judas  Tadeu, Setor Coimbra, onde foi Pároco por diversos anos e onde fundou - com um Grupo de Casais - o ENCASA (Encontro de Casais), adquirindo uma vasta experiência na Pastoral Familiar.  
      Após  a  Celebração,  em  frente  ao  Salão  São  Domingos,  foi  descerrada  uma placa comemorativa  que  diz:  “Ao  Frei  Humberto  Pereira  de  Almeida.  O  ENCASA  ao ensejo  da comemoração  dos  seus  60  anos  de  intensa  atividade  sacerdotal,  manifesta o  seu  mais profundo  reconhecimento  pela  sua  fecunda  mensagem  espiritual, tornando-se  um verdadeiro  arauto  da  evangelização  da  família,  notadamente  na consolidação  do ENCONTRO DE CASAIS da Paróquia São Judas Tadeu. Goiânia, 06 de julho de 2012”. 
      À  época,  no  artigo  “Frei  Humberto:  60  anos  a  serviço  do  Povo  de Deus” (acessível  em:  http://www.dmdigital.com.br/novo/#!/view?e=20120712&p=23  ou em: http://freimarcos.blogspot.com.br/2012/08/frei-humberto-60-anos-servico-do-povo.html), lembrava  que  Frei  Humberto  -  sempre  muito  estimado  entre  seus  Irmãos Dominicanos  - desempenhou, durante sua longa caminhada na Ordem, diversas funções de coordenação. Dizia  também  que  ele  viveu  intensamente  o  carisma  da  Ordem  dos Pregadores  (Ordem Dominicana) e dedicou toda sua vida a serviço da Igreja, na Pastoral.  
      Frei Humberto foi também presidente da CRB - Regional de Goiânia, por 5 anos e sub-
secretário da CNBB - Regional Centro Oeste, por 11 anos. 
      Frei  Humberto  -  um  homem  de  Deus  a  serviço  do  Povo  -  a  partir  de  sua  rica 
experiência  de  vida  como  religioso  dominicano  e  como  padre  na  Pastoral,  escreveu os livros: A Igreja em construção (Max Gráfica e Editora Ltda.), em 2001; O Sacerdócio e sua história  (Editora  Ave  Maria),  em  2007;  A  família  no  mundo  em  transformação (Editora Paulus), em 2010. No mesmo ano, escreveu também o livro: Rezar o Rosário. Rezando a vida e a história (Gráfica e Editora América Ltda.).  
      Frei  Humberto,  no  livro  Rezar  o  Rosário,  nos  provoca  e  nos  apresenta  “o sentido profundo do Rosário, fazendo uma proposta á Família Dominicana e a todos os religiosos, religiosas, leigos e leigas, que conosco trabalham, caminham e refletem na construção da Igreja viva que somos”. Continua, pois, dizendo: “a minha proposta é a seguinte: estamos completando 500 anos da Ordem Dominicana na América, que teve início com a presença e atuação profética da primeira Comunidade de Frades em Santo Domingo e com a adesão, pouco  mais  tarde,  de  Frei  Bartolomeu  de  Las  Casas. Ordem  não  só  de  homens,  mas também  de  mulheres  pregadoras  -  uma  Família Dominicana”.  Conclui  Frei  Humberto: “convidamos os nossos irmãos e irmãs para refletir os ‘mistérios’ do Rosário na caminhada dos 500 anos na construção da nossa história” (p. 11-12). 
      Retomando  o que  escrevi  no  artigo  citado,  entre  as  muitas qualidades  (virtudes) do Frei Humberto, destaco três: a simplicidade evangélica, a fé profunda e a sabedoria de vida. A primeira é a simplicidade evangélica, da qual emergem outras qualidades. Frei Humberto foi  um  homem  simples,  humilde,  generoso,  sensível,  emotivo,  alegre  (mas também  sério, quando  precisava),  fraterno  e  acolhedor.  Ele  mostrava-se  sempre interessado  na  vida  e missão  de  seus  Irmãos  Dominicanos,  ficando  feliz  com  o trabalho  deles.  Em  sua  missão pastoral, estava sempre  atento - com muito respeito  - às diferentes situações de vida em que  se  encontram  as  famílias  do  nosso  povo.  Frei Humberto  era  um  pai,  um  irmão,  que sofria com quem sofria, se alegrava com quem se alegrava e sabia sempre dizer a palavra certa no momento certo.  
      A segunda qualidade é a fé profunda. Frei Humberto foi um homem de uma fé-vida; 
um homem que realmente acreditava no Projeto de Jesus, que é o Reino de Deus, e deu a 
vida por Ele. 
      A  terceira qualidade  é  a  sabedoria  de  vida.  Frei  Humberto foi  um  homem  sábio, de uma sabedoria que vem de Deus, de sua vida de fé. Ele era muito procurado e estimado como conselheiro e orientador espiritual. 
      Frei  Humberto,  você  deixou  um  grande  vazio  na  Igreja  e,  sobretudo,  em  nossa 
Comunidade Religiosa. Sentiremos a falta de sua presença física, mas temos certeza na Fé que você “completou a sua Páscoa”, mergulhou no mistério do Amor infinito de Deus para conosco e continua vivo entre nós, nos animando na caminhada. Cremos na comunhão dos santos e santas!  
      Frei Humberto, roga por nós! 






Fr Marcos Sassatelli, Frade dominicano 
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), 
Professor aposentado de Filosofia da UFG 
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br 
Goiânia, 27 de julho de 2015 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Mais uma imoralidade pública legalizada


“Serviço público. Benefícios legais (reparem: legais!) elevam ganhos no MP e no TJ” (O Popular, 5 de julho de 2015. Manchete da 1ª página). No resumo da matéria (sempre na 1ª página), o jornal relata: “a folha de maio indica que magistrados, procuradores e promotores obtiveram ganhos que extrapolam o teto de R$ 33.763,00 imposto pela Constituição. Os valores contemplam salários - abaixo do limite legal estabelecido - acrescidos de benefícios extras. No MP, onde há casos de recebimento até cinco vezes superiores ao teto, a direção disse haver ‘diferença entre verba remuneratória e indenizatória’. Mesmo argumento defende a Associação dos Magistrados”.
Lendo (na página 12, inteiramente dedicada ao assunto) a íntegra da reportagem, fiquei tomado de indignação. O título é: “Justiça. Benefícios fazem ganhos no TJ e no MP ultrapassarem o teto”. O subtítulo: “Dois terços dos magistrados goianos recebem legalmente mais do que o limite da Constituição, em maio”.
Segundo o Jornal, “somando auxílios, gratificações, indenizações, remunerações extras, verbas retroativas, abono de permanência e outros benefícios, os pagamentos a magistrados, procuradores e promotores do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) e do Ministério Público Estadual (MP-GO) extrapolam até cinco vezes o teto imposto pela Constituição - de R$ 33.763,00, pago aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). As folhas dos dois órgãos, divulgadas no Portal da Transparência, mostram que, em maio, mais da metade dos magistrados, procuradores e promotores de Justiça receberam além disto”.
Relata, ainda, O Popular: “os salários em si não ultrapassam o limite - variam de R$ 26,1 mil a R$ 30,4 mil. No entanto, os adicionais e pagamentos retroativos garantidos pelos próprios órgãos nos últimos anos e autorizados pela Lei Orgânica da Magistratura (Loman) - com equivalência no caso do MP - permitem remunerações totais de até R$ 152 mil, conforme registros do mês de maio. Pelo menos 11 tipos de pagamentos extras compõem os contracheques”.
Para ter a ideia exata do tamanho da falcatrua, legal mas imoral, bastam dois exemplos, citados pelo Jornal. Em maio último, o maior salário do TJ-GO (cargo desembargador) foi a soma de: remuneração básica (R$ 30.471,78); vantagens eventuais (R$ 40.629,04); indenizações (R$ 13.722,08); decisões judiciais (R$ 24.746,30); vantagens pessoais (R$ 8.075,02). Total bruto de rendimentos: R$ 117.694,22. Rendimento líquido total (com descontos legais): R$ 91.982,74.
No mesmo mês, o maior salário do MP-GO (promotor de justiça, entrância final, em Goiânia) foi a soma de: remuneração básica (R$ 28.947,55); indenizações (R$ 116.463,42); outras remunerações (R$ 14.929,24); abono de permanência (R$ 3.835,55). Total bruto dos rendimentos: R$ 164.175,76. Rendimento líquido total (com descontos legais): R$ 152.107,05.
“Os levantamentos - diz O Popular - não incluem pagamentos de diárias e de auxílio-livro, não regulamentado no MP e não informado no TJ”.
Trata-se de um verdadeiro assalto aos cofres públicos. Não dá para entender como, em pleno século XXI, possa existir no serviço público uma prática tão descaradamente imoral e - o que é pior - legalizada. Como confiar nessa Justiça? Ela não tem nenhuma moral para julgar os outros!
Valem as palavras de Jesus: “ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23, 27-28).
Uma outra Justiça é possível e necessária! Lutemos por ela!

Em tempo: acabei de ler (em: http://digital.dm.com.br/#!/view?e=20150721&p=21) o artigo “Frei Marcos Sassatelli, além de vinho tome também juízo”, de um tal de Cleverlan Antônio do Vale, debochando do meu último artigo “Chega de enganação do povo! Mais um cara de pau de primeiro escalão!” (em: http://digital.dm.com.br/#!/view?e=20150717&p=23).
            O artigo é de um nível tão baixo que não merece ser tomado em consideração. Condena-se por si mesmo. Permito-me somente fazer algumas observações críticas. O título do artigo, além de ridículo, é uma insinuação desrespeitosa não só à minha pessoa (que pouco importa), mas sobretudo à Celebração da Eucaristia, que é fonte e cume da vida dos cristãos e cristãs. O conteúdo do artigo é simplesmente repugnante e dá nojo. Revela um ser humano mesquinho e desprezível.
O autor, referindo-se à minha pessoa, diz: “já posso até imaginar a sua resposta”. Senhor Cleverlan não precisa se dar ao trabalho de imaginar a minha resposta, porque não vai haver nenhuma. É o seu próprio artigo que - pelo nível de baixaria que o caracteriza - suscita no leitor a resposta e, indiretamente, se torna a melhor propaganda do meu artigo. Muitos, que ainda não o leram, terão a curiosidade de lê-lo e poderão assim constatar pessoalmente que o artigo apresenta, com a devida documentação, não só o pensamento do autor (o que é secundário), mas sobretudo o pensamento dos educadores e dos servidores da saúde.
A palavra está com o leitor, que - tenho certeza - sabe muito bem distinguir, na mídia, entre aquilo que é lixo e aquilo que realmente tem valor.

Jesus, anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus, sem nenhum medo, enfrentou Herodes e o chamou de “raposa”. “Vão dizer a essa raposa...” (Lc 13,32). Companheiros e companheiras, irmãos e irmãs, cuidado com as raposas de hoje! Elas se vestem com pele de cordeiro! Fiquemos sempre de olhos abertos!




Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
                                                                              Goiânia, 22 de julho de 2015

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Chega de enganação do povo!

Mais um cara de pau de primeiro escalão!

            Na edição do Diário da Manhã de sábado, dia 11 deste mês, Antônio Faleiros, com o artigo “A revolução das Organizações Sociais”, sentiu-se no dever de criticar, com certa ironia, o meu artigo “Não à ‘terceirização’ e à ‘militarização’ da Educação Pública”, publicado no dia anterior no mesmo jornal, esclarecendo - segundo ele - “afirmações que não condizem com a realidade da saúde pública e da educação em Goiás” e dizendo que o autor do artigo (Frei Marcos Sassatelli) está “amparado no desconhecimento sobre as Organizações Sociais (OSs)”.
            O artigo de Antônio Faleiros (que - tudo indica - foi escrito a mando do governador Marconi Perillo, em defesa das Secretarias Estaduais da Saúde e da Educação) é uma sequência de mentiras deslavadas do começo até o fim, a começar pelo título. É muita cara de pau! O articulista deve estar usando a palavra “revolução” com o mesmo sentido que tinha à época da ditadura civil e militar. Os “ditadorzinhos” de plantão - que não conhecem nada da vida do povo, não escutam a sua voz e agem sempre com autoritarismo - existem hoje também.  Aliás - só para citar um exemplo - quem foi capaz de praticar a barbárie do Parque Oeste Industrial (um verdadeiro massacre, que até hoje continua impune) é capaz de tudo. Só não vai ser capaz de impedir a justiça de Deus! Aguardem!
            Não vou gastar o meu tempo para responder a essa sequência de mentiras deslavadas de Antônio Faleiros. Além de tudo, seria dar valor demais. Talvez, a função do secretário extraordinário do governo seja justamente essa: inventar mentiras para defender o governo e enganar os trabalhadores/as. O povo, Antônio Faleiros, não é bobo e sabe muito bem distinguir entre quem está do seu lado, sendo solidário na defesa de seus direitos, e quem defende um sistema econômico, que - como diz o papa Francisco - mata, exclui e descarta os pobres, usando disfarçada e hipocritamente dinheiro público para enriquecer empresas particulares e acabar com os direitos que os trabalhadores/as conquistaram com muita luta.
            Faço agora dois pedidos a Antônio Faleiros. Primeiro: trate de sua saúde e de seus familiares somente nos “postinhos” (assim chamados pelo povo) e nos Cais da periferia de Goiânia. Segundo: matricule seus filhos e/ou netos nas escolas públicas de Goiânia. Quem sabe, o senhor vai mudar de ideias! Não serão certamente a “terceirização” da saúde pública e a “terceirização” ou “militarização” da educação pública que irão resolver o problema. Ele só começará a ser resolvido quando o governo assumir suas responsabilidades, colocando a saúde e a educação como prioridades absolutas.
            A respeito da saúde pública - para que o senhor saiba que não estou “amparado no desconhecimento sobre as OSs” - convido o senhor, Antônio Faleiros, a ler e meditar alguns documentos:
1.    “Contra fatos não há argumentos que sustentem as Organizações Sociais no Brasil”, de maio de 2010: um “Relatório Analítico de Prejuízos à Sociedade, aos Trabalhadores e ao Erário por parte das Organizações Sociais (OSs) e das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs)”, elaborado pela Frente Nacional contra a Privatização da Saúde, formada por Fóruns de Saúde de diversos estados, movimentos sociais, centrais sindicais, sindicatos, projetos universitários e várias entidades de âmbito nacional (disponível em: http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-4/artigo/policia-federal-faz-operacao-contra-desvio-de-dinheiro-publico/).
2.    “Nota da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde à 15ª Conferência Nacional de Saúde”, de junho de 2015 (disponível em: http://www.contraprivatizacao.com.br/2015/06/0998.html).
3.    “I Seminário da Frente Goiana contra a privatização da saúde” (Tema - Direito à saúde: democracia e participação ou mercantilização? Etapa Temática da 9ª Conferência Municipal de Saúde de Goiânia). “Carta da Frente Goiana contra a privatização da saúde”, de junho de 2015 (disponível em: http://www.sindsaude.com.br/arquivos/produto/Carta_da_Frente_Goiana_jun2015_Final.pdf).
4.    “Controle social na saúde pública: sinal de esperança” (disponível em: http://arquidiocesedegoiania.org.br/images/jornal/edicao55/edicao_55.pdf).
Entre os dias 25 e 27 de junho último aconteceu a 9ª Conferência Municipal de Saúde de Goiânia, que recebeu o nome de Conferência Gilson Carvalho, em homenagem a um dos idealizadores do SUS, falecido em 2014. Participei da Conferência - como visitante - na manhã do dia 26 e percebi claramente que todos os delegados/as das diferentes entidades da sociedade civil presentes eram contra à “terceirização” (leia: “privatização”) da Saúde Pública.
Antônio Faleiros, será que todas essas entidades e pessoas estão “amparadas no desconhecimento sobre as OSs”? Infelizmente - temos que afirmá-lo alto e bom som - quem está por fora da realidade é o senhor, Antônio Faleiros, e os “ditadorzinhos” de plantão - dos quais o senhor é um fiel porta-voz - que agem sempre de forma personalista, autoritária, ditatorial e não escutam o clamor do povo.
A respeito da Educação Pública, reafirmo tudo o que eu disse no meu artigo “Não à `terceirização’ ou à ‘militarização’ da Educação Pública”, do dia 10 do mês corrente (acessível em diversos sites na internet).
Enfim, para entender de educação pública, Antônio Faleiros, não basta ter feito um cursinho de direito de fim de semana só para poder dizer que tem curso superior, como um certo governador do qual o senhor é pau-mandado. É preciso ter a experiência de educador e - não tendo (nem todos precisam ter) - a humildade de se fazer assessorar por quem tem, ouvindo a voz dos educadores. Os “ditadorzinhos” de plantão e seus capachos não costumam fazer isso. Garanto ao senhor que todo verdadeiro educador é contra à “terceirização” (leia: “privatização”) ou à “militarização” da Educação Pública. Aliás, que a educação não é função dos militares até uma criança de cinco anos já sabe!
Para reforçar o que eu disse no meu artigo, poderia citar muitos autores, mas limito-me a dois: um educador e um jornalista com seu grupo de pesquisa.
1.    “Educação em Goiás ou o que não se deve fazer com a Educação Pública” (artigo de Josué Vidal Pereira, professor do Instituto Federal de Goiás - IFG, mestre em Educação pela UnB, doutorando em Educação pela UFG).  
“Não é necessário ser - diz ele - um arguto observador para perceber que o Estado de Goiás vem se tornando laboratório de políticas educacionais, que a despeito do discurso em contrário vem promovendo o aumento da precarização da educação pública, via de regra destinada aos filhos dos trabalhadores” (Leia a íntegra do artigo em: http://www.dm.com.br/opiniao/2015/04/educacao-em-goias-ou-o-que-nao-se-deve-fazer-com-a-educacao-publica.html).
2.    “Educação sitiada: Escolas a serviço da militarização das cidades” (pesquisa do jornalista Drão Ribeiro e seus companheiros de trabalho, do Portal Aprendiz, que trata sobre o avanço das escolas militares no Brasil, a partir de Goiás).
Entre outras coisas, os pesquisadores afirmam: “um aspecto que chama a atenção é a aplicação do modelo militar estar voltado aos jovens pobres que frequentam a rede pública de ensino, já que são eles as principais vítimas da militarização que acontece fora dela. O coordenador de Educação da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), André Lázaro, vê no sistema público das escolas de Goiás mais uma forma de “criminalizar” a juventude pobre” (Leia a íntegra da pesquisa em: http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/02/27/educacao-sitiada-escolas-a-servico-da-militarizacao-das-cidades/).
Saúde Pública de qualidade já! Educação Pública de qualidade já!

Chega de enganação do povo! Agentes de saúde e educadores/as, unidos e organizados, venceremos! A esperança nunca morre!





Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
                                                                                                                                                                 Goiânia, 15 de julho de 2015

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos