Na Igreja, a Vida
Religiosa (Vida Consagrada, Vida Religiosa Consagrada, Vida de especial
Consagração) - na diversidade de suas formas e de seus carismas - nasce, pela
ação do Espírito Santo, da Consagração Batismal - que é a primeira e
fundamental Consagração - como projeto de vida cristã radical, em resposta aos
desafios que o mundo apresenta.
Todos os cristãos e cristãs, seguidores e seguidoras,
discípulos missionários e discípulas missionárias de Jesus de Nazaré são
chamados a ser profetas e profetisas da vida, buscando a radicalidade
evangélica, que é radicalidade profética.
Os religiosos e religiosas assumem esse projeto de vida cristã
radical por um chamado especial de Deus e - como setas que indicam o caminho - se
comprometem a apontá-lo, pelo testemunho e pela palavra, a todos e todas aqueles
e aquelas que desejam segui-lo.
“Como
profetas da vida, queremos insistir que, nas intervenções sobre os recursos
naturais, não predominem os interesses de grupos econômicos que arrasam
irracionalmente as fontes da vida, em prejuízo de nações inteiras e da própria
humanidade”.
Queremos
também “procurar um modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário,
baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autêntica ecologia
natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e
do destino universal dos bens, e que supere a lógica utilitarista e
individualista, que não submete os poderes econômicos e tecnológicos a
critérios éticos” (Documento de Aparecida - DA, 471.473, c).
Hoje,
na América Latina e no Caribe, “a Vida Consagrada é chamada a ser uma vida discipular,
apaixonada por Jesus-caminho ao Pai misericordioso, e por isso, de caráter
profundamente místico e comunitário. É chamada a ser uma vida missionária,
apaixonada pelo anúncio de Jesus-verdade do Pai, por isso mesmo radicalmente
profética, capaz de mostrar à luz de Cristo as sombras do mundo atual e os caminhos
de uma vida nova, para o que se requer um profetismo que aspire até à entrega
da vida em continuidade com a tradição de santidade e martírio de tantas e
tantos consagrados ao longo da história do Continente. E, a serviço do mundo,
uma vida apaixonada por Jesus-vida do Pai, que se faz presente nos mais
pequeninos e nos últimos, a quem serve a partir do próprio carisma e
espiritualidade” (DA, 220).
Dentro
das possibilidades humanas, a entrega dos religiosos e religiosas a serviço da
vida - fazendo acontecer o Reino de Deus - deve ser total e exclusiva, tendo
sempre como referencial a vida de Jesus de Nazaré. Essa entrega acontece (se
torna história) nas situações concretas da realidade humana e cósmica, a partir
dos empobrecidos, oprimidos e excluídos da sociedade (Opção pelos Pobres). “Não
existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13). “Tendo amado os
seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
No
Diálogo sobre a Vida Religiosa “Despertem o mundo” (06 de janeiro de 2014) - dirigindo-se
aos religiosos e religiosas e falando de coração aberto - o nosso irmão papa
Francisco diz: “deverão ser testemunhas reais de um modo diferente de ser e
agir. Mas, na vida, é difícil as coisas sempre serem claras; precisas, bem
delineadas. A vida é complicada, consistindo de graça e pecado. Aquele que não
peca não é humano. Todos cometemos erros e precisamos reconhecer nossas
fraquezas. Um religioso que se reconhece como fraco e pecador não nega o
testemunho ao qual é chamado a dar; pelo contrário, ele o reforça, e isso é bom
para todos. O que espero de vocês é, pois, dar testemunho. Quero este
testemunho especial por parte dos religiosos”.
Num tom coloquial, Francisco - dizendo que “a
Igreja deve ser atraente” - continua, fazendo um caloroso apelo aos religiosos
e religiosas: “despertem o mundo! Sejam testemunhos de uma forma diferente de
fazer as coisas, de agir, de viver! É possível viver neste mundo de forma
diferente. Estamos falando de uma perspectiva escatológica, dos valores do
Reino aqui encarnados sobre esta terra. Trata-se de deixar todas as coisas para
seguir ao Senhor. Não, não quero dizer ‘radical’. A radicalidade evangélica não
é apenas para os religiosos: ela é exigida de todos. Porém, os religiosos
seguem ao Senhor de forma especial, seguem-no profeticamente. É este testemunho
que espero de vocês. Os religiosos e as religiosas deveriam ser pessoas capazes
de despertar o mundo”.
Com objetividade
e clareza, Francisco fala de como podemos entender a realidade: “estou
convencido de uma coisa: as grandes mudanças na história ocorreram quando a
realidade não era vista a partir do centro, mas sim da periferia. Trata-se de
uma questão hermenêutica: entende-se a realidade apenas se ela for olhada da
periferia, e não quando nosso ponto de vista está equidistante de tudo
(diríamos nós: em cima do muro). Para verdadeiramente entendermos a realidade,
precisamos nos distanciar da posição central de calmaria e de paz, e nos
dirigirmos às áreas periféricas”.
Qual
é, então, a prioridade da Vida Consagrada? O papa responde: “a profecia do
Reino, que não é negociável. A ênfase deverá cair sobre os profetas, e não em
brincar de sê-los. Naturalmente, o demônio nos apresenta suas tentações, e uma
delas é: apenas parecer sermos profetas. Porém, não se pode jogar com estas
coisas. Eu mesmo tenho visto coisas tristes a esse respeito. Não, os religiosos
e as religiosas são homens e mulheres que iluminam o futuro” (http://www.ihu.unisinos.br/noticias/526970-qdespertem-o-mundoq-integra-do-dialogo-do-papa-francisco-sobre-a-vida-religiosa).
Que
assim seja! Religiosos e religiosas, meditemos! Precisamos voltar às fontes,
mas sempre atentos aos sinais dos tempos! Sejamos - cada vez mais - verdadeiros
profetas e profetisas na Igreja e no mundo de hoje!
16 de agosto: Dia da Vida Religiosa! Participemos
com alegria da Celebração da CRB Regional!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 14
de agosto de 2014
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