Neste
artigo - o primeiro de uma série - farei algumas considerações e reflexões sobre
o significado do Encontro Mundial de Movimentos Populares (EMMP), que foi
promovido - a pedido do Papa Francisco - pelo Pontifício Conselho Justiça e
Paz, em colaboração com a Pontifícia Academia das Ciências Sociais e que
aconteceu em Roma, entre os dias 27 e 29 de outubro passado. Em outros artigos
(não necessariamente na sequência cronológica), destacarei os pontos mais
marcantes do Discurso do Papa aos participantes do Encontro e da Carta Final do
Encontro, que são luzes para a nossa militância nas Pastorais Sociais e nos
Movimentos Populares.
Qual
é, pois, o significado desse Encontro? Com certeza, ele representa uma
verdadeira revolução na Igreja, uma “revolução evangélica” radical, uma clara
volta às fontes, ou seja, uma volta ao seguimento de Jesus de Nazaré, que -
ainda no seio de sua mãe Maria - foi “morador de rua” e que nasceu na
manjedoura de Belém como “sem-teto”. “Não havia lugar para eles dentro de casa”
(Lc 2,7).
Na história da Igreja, já houve Papas que promoveram Encontros
com cientistas, com acadêmicos, com industriais ou empresários ditos “católicos”
e outras categorias de pessoas, mas nunca um Papa que tenha promovido um
Encontro Mundial de Movimentos Populares (não de Movimentos Eclesiais). É de
ficar boquiaberto!
Acolhendo
os participantes do Encontro, o Papa Francisco, com toda fraternura, diz: “eu
estou contente por estar no meio de vocês. Aliás, vou lhes fazer uma
confidência: é a primeira vez que eu desço aqui (na Aula Velha do Sínodo),
nunca tinha vindo. Como lhes dizia, tenho muita alegria e lhes dou calorosas
boas-vindas. Obrigado, por terem aceitado este convite para debater tantos
graves problemas sociais que afligem o mundo hoje, vocês que sofrem em carne
própria a desigualdade e a exclusão”.
De
maneira clara, Francisco afirma: “este Encontro de Movimentos Populares é um
sinal, é um grande sinal: vocês vieram colocar na presença de Deus, da Igreja,
dos Povos, uma realidade muitas vezes silenciada. Os pobres não só padecem a
injustiça, mas também lutam contra ela!”.
Para
quem é Igreja e ama a Igreja, doe muito saber que existem dioceses ou arquidioceses
que não deram a mínima para esse Encontro e que não publicaram, em seus meios
de comunicação, uma palavra sequer sobre o acontecimento. Nestes dias,
conversando com um padre, percebi claramente que nem sabia que o Encontro tinha
acontecido. Não dá para entender! Essa não é a Igreja que Jesus quer! Essa não
é a minha Igreja!
O
Papa Francisco - como Jesus de Nazaré - tomou, com coragem profética e sem
nenhuma ambiguidade, o partido dos pobres, que lutam pela justiça, pelos
direitos humanos e pelos direitos da irmã mãe Terra. Ele fez a Opção pelos
Pobres, para - a partir deles e junto com eles - anunciar a todos e a todas a
Boa-Notícia de um mundo novo, que à luz da fé é o Reino de Deus. Tornou-se
próximo e solidário com todos os excluídos e excluídas e com todos os
descartados e descartadas da sociedade.
Ah,
se nós, que somos a Igreja (comunidades, paróquias, dioceses) entendêssemos o
recado que, com tanta fraternura, nos vem do nosso irmão Francisco! Como
seríamos diferentes! Teríamos outras preocupações! No lugar de nos preocupar
somente com a estrutura interna da Igreja, com uma Igreja de grandes eventos,
com uma Igreja de templos suntuosos, com uma Igreja triunfalista e clerical,
com uma Igreja que quer se impor pelo poder e pela ostentação, seríamos uma
Igreja simples, despojada, inserida no meio dos pobres - formando Comunidades
de Base - e aliada aos Movimentos Populares e a todos aqueles e aquelas -
entidades e pessoas - que lutam pela justiça e pelos direitos humanos e
ambientais (direitos da irmã mãe Terra)
O
nosso irmão Francisco nos ensina que - em nossas comunidades, paróquias e dioceses
- só podemos fazer pastoral social e promover as diversas pastorais sociais,
necessárias para responder cristãmente aos desafios do mundo de hoje (os apelos
de Deus para nós) na proximidade e solidariedade, ou seja, na entranhada
aliança com os Movimentos Populares, respeitando e valorizando sua identidade e
suas diferentes manifestações culturais e religiosas.
Precisamos
mergulhar, sem medo e com muito amor, no mundo dos pobres, dos excluídos e
excluídas, dos descartados e descartadas da sociedade, que são nossos irmãos e
irmãs, para - sempre a partir deles e junto com eles - abrirmos caminhos novos,
que levem a mudanças estruturais e a uma sociedade mais justa, mais fraterna e
mais de acordo com o projeto de Jesus de Nazaré, que é o Reino de Deus no
mundo.
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 26
de novembro de 2014
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