Em maio passado, a Assembleia
Legislativa de Goiás (ALEGO) adquiriu 41
caminhonetes 4x4 novas para os gabinetes dos deputados ao preço de R$ 227
mil cada, totalizando R$ 9,3 milhões.
Agora, com licitação prevista para
ocorrer nesses dias, a ALEGO pretende adquirir 60 carros sedãs novos ao preço de R$ 110,18 mil cada, totalizando
R$ 6,61 milhões.
No Edital, a ALEGO afirma que os
veículos atenderão “demandas da Casa no
Estado e no apoio das atividades parlamentares constitucionais inerentes ao
mandato e à representação do Poder Legislativo Goiano, bem como no apoio das atividades administrativas, essenciais ao
funcionamento desta Casa de Leis” (O Popular, 01/08/23, p. 6).
Pergunto:
- Os deputados/as estaduais de Goiás - com o subsídio mensal que recebem (cerca de R$ 31 mil) - não podem adquirir um carro popular para os seus gabinetes?
- Somente uma caminhonete não é suficiente para atender todas as necessidades administrativas da ALEGO?
- Como podemos acreditar que deputados/as estaduais, apoiadores/as de tamanha maracutáia (uma verdadeira farra com o dinheiro público) estejam preocupados/as em servir o Povo (os Pobres)?
- Embora estejamos ainda muito longe disso, o ideal não seria que a militância político-partidária fosse uma prática de voluntariado como a militaância sindical e popular? Se assim fosse, a qualidade dos candidatos/as não seria outra?
Tem mais: “A ALEGO bate recorde de
comissionados” (manchete). “A quantidade de funcionários comissionados na
Assembleia Legislativa de Goiás tem aumentado ao longo dos anos, com um salto
significativo no primeiro semestre de 2023. O ano começou com 3.711
comissionados e chegou ao recorde de 4.572 em junho. Os dados são do Portal da
Transparência da Casa” (O Popular, 03/08/23, p.4).
Essa mordomia política, acintosa e despudorada - além de ser um pontapé na cara dos Pobres - é uma grande irresponsabilidade e uma total falta de ética. Ela reflete e
reproduz na ALEGO a realidade de desigualdade e injustiça do mundo, do Brasil, de
Goiás e de Goiânia.
No mundo (segundo a OXFAM), 1% da população detém a mesma quantidade de bens dos
99% restantes. As 62 pessoas mais ricas do mundo têm tantos bens quanto a metade
(mais de 4 bilhões de pessoas) da população global (cf. https://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/).
No Brasil, a metade da população mais pobre possui menos de 1% dos bens do pais. Os
50% mais pobres, ganham 20 vezes menos do que os 10% mais ricos e esses ganham
quase 59% da renda nacional total (cf. https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2021/12/).
Goiânia “é a cidade mais desigual. Estudo da ONU aponta a capital como a cidade
da América Latina com a maior concentraão de renda” (https://secom.ufg.br/n/38771-goiania-a-cidade-mais-desigual).
Por fim, um questionamento: por que a maioria (graças a Deus, não são
todos/as) dos deputados/as da ALEGO não
pensa nessa realidade tão desigual, injusta, desumana e antiética do mundo, do
Brasil, de Goiás e de Goiânia? É a expressão palpitante do pecado social ou estrutural, hipocritamente legalizado e institucionalizado.
Meditemos!
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 11 de agosto de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário