A decisão
da Prefeitura de Goiânia de retirar das ruas todos os carrinhos de 2.500
trabalhadores do material reciclável (e não dos "catadores de lixo",
como se costuma dizer) é uma grande injustiça. Os trabalhadores do material
reciclável - como todos os trabalhadores - devem ser respeitados e valorizados.
O poder público não pode tomar decisões que comprometem a vida dos
trabalhadores (e suas famílias) sem conversar, dialogar e construir, junto com
eles - através de suas lideranças - a melhor solução possível. Os trabalhadores
precisam se sentir felizes em poder participar ativamente de tudo o que diz
respeito a sua própria vida.
No
Brasil - como afirma o jornalista Washington Novais - os trabalhadores do
material reciclável (papel, papelão, plásticos, vidros, latas de alumínio)
"são uma verdadeira legião de heróis. Algumas centenas de milhares - há
quem fale em um milhão - trabalham todos os dias nas ruas das cidades, de sol a
sol, expostos a intempéries, sem garantia de rendimentos, férias, 13° salário, planos
de saúde" (O Popular, 3 de dezembro, p. 7)..
O poder
público, com a assessoria de técnicos - que não sejam meros burocratas, mas
pessoas de profunda sensibilidade humana e amor ao povo - deve criar novas possibilidades
para os trabalhadores do material reciclável, que é um serviço tão importante
para a vida do nosso planeta. Deve ainda prever os recursos necessários para
melhorar as condições de trabalho das cooperativas já existentes e colaborar
com o surgimento de novas cooperativas, que sejam verdadeiras empresas
comunitárias, gestidas pelos próprios trabalhadores e onde os trabalhadores se
sintam bem e realizem o seu trabalho com prazer.
A prática
política não pode ser uma prática populista e paternalista, mas uma prática
libertadora, que leve o ser humano a ser sujeito de suas opções, atitudes e
atos. Todo ser humano tem o mesmo valor e a mesma dignidade. Não é o trabalho
que dá valor e dignidade ao ser humano, mas é o ser humano que dá valor e
dignidade ao trabalho.
Precisamos
urgentemente de políticas públicas para as crianças, os adolescentes e os
trabalhadores, sobretudo jovens. Para citar um caso concreto da situação
desumana na qual nós vivemos, somente nos bairros São Domingos e Boa Vista, na
Região Noroeste de Goiânia, foram assassinados, de janeiro a novembro deste
ano, 25 adolescentes e jovens envolvidos com o mundo das drogas. Ninguém de nós
pode ficar insensível ou indiferente diante desta realidade tão cruel e
dramática. Os nossos políticos e governantes devem lembrar que foram eleitos
para servir ao povo, principalmente aos empobrecidos e excluídos.
Como nos
lembra o Documento de Aparecida da V Conferência Geral do Episcopado da América
Latina e do Caribe "uma globalização sem solidariedade afeta negativamente
os setores mais pobres. Já não se trata simplesmente do fenômeno da exploração
e opressão, mas de algo novo: a exclusão social. Com ela a pertença à sociedade
na qual se vive fica afetada na raiz, pois já não está abaixo, na periferia ou
sem poder, mas está fora. Os excluídos não são somente 'explorados', mas
'supérfluos' e 'descartáveis" ( DA, 65).
A respeito
dos trabalhadores do material reciclável, em Goiânia - como nos lembra mais uma
vez o jornalista Washington Novais - "ainda há tempo de corrigir rumos. O
que não faz sentido é proibir sua atividade argumentando também que seus
carrinhos atrapalham o trânsito de automóveis, quando estes é que inviabilizam
o trânsito - mais um privilégio para o trasporte individual, desconsiderando os
direitos e necessidades de um setor de extrema utilidade social" (O
Popular, 3 de dezembro, p. 7).
Enfim,
todos e todas precisamos ser solidários e unidos na defesa dos direitos dos
trabalhadores do material reciclável. Eles precisam do nosso apoio de irmãos e
irmãs.
Fr. Marcos Sassatelli,
Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da
UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos
Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do
Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do
Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador
Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 05 de
dezembro de 2009
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