No dia 2 de maio faz um
ano que o nosso irmão Dom Tomás Balduino ““completou a sua Páscoa”, passando para “a
vida além da morte” e mergulhando para toda a eternidade no mistério da
Santíssima Trindade, que é o mistério do amor infinito de Deus para conosco.
Como escrevi à época (cf. na internet o artigo
“Dom Tomás vive entre nós!”), as Celebrações de corpo presente, em Goiânia e na
Cidade de Goiás, foram Celebrações de ação de graças pela vida do nosso irmão Tomás,
profundamente encarnadas na realidade do povo, sobretudo dos trabalhadores do
campo e dos indígenas.
Nessas Celebrações, o
grito que mais se ouvia era: Tomás vive entre nós! A mensagem da CNBB dizia: “Dom
Tomás frequentou a escola dos indígenas, dos posseiros, dos ribeirinhos, dos
quilombolas, dos agricultores, dos sem-terra e soube aprender com eles a
gramática do Evangelho e da simplicidade. Como um verdadeiro discípulo, se fez
missionário de Jesus Cristo e o testemunhou junto ao mundo dos pobres, como o
Divino Mestre da justiça e da paz”.
No final de 2012, por ocasião dos seus 90 anos de idade,
num breve escrito, eu destacava quatro qualidades de Tomás: sua profunda
sensibilidade humana; sua extraordinária perspicácia na escuta dos sinais dos
tempos; sua prática radicalmente profética; e sua fé inabalável na utopia do
Reino de Deus, que é a Boa-Notícia de Jesus de Nazaré. Essas qualidades
marcaram a história de vida do nosso irmão.
Tomás, sua memória
(que para nós é presença), sua profecia e sua esperança continuam hoje na vida
e na luta de tantos irmãos e irmãs nossos do campo e da cidade.
Mesmo não tendo
participado do Concílio Ecumênico Vaticano II, Tomás foi pioneiro na aplicação
e na vivência de seus ensinamentos, que desencadearam, no mundo inteiro, um
movimento de volta às fontes e de profunda renovação da Igreja.
A Igreja, pela qual Tomás doou a sua vida, é a
Igreja do Concílio e de Medellín (que encarna o Concílio na América Latina e
Caribe, e é o documento fundante da Igreja latino-americana e caribenha
enquanto tal): uma Igreja igualitária, de irmãos e irmãs, comunitária
(Igreja-comunidade, Igreja-comunhão); uma Igreja Povo de Deus e toda
ministerial; uma Igreja que busca sempre o consenso, reconhecendo e valorizando
o “senso da fé” do povo cristão; uma Igreja que, a todo momento, perscruta os
sinais dos tempos, interpretando-os à luz do Evangelho; uma Igreja pobre, que
faz a Opção pelos Pobres (a “Igreja dos Pobres”); uma Igreja que reconhece e
valoriza o diferente (uma Igreja ecumênica e macroecumênica); enfim, uma Igreja
que se alia aos Movimentos Populares, a outras Organizações Sociais (na vida d
e
dom Tomás destacamos o Movimento Indígena e o Movimento dos Sem-Terra) e a
todos aqueles e aquelas que lutam por um Mundo Novo de justiça e paz, onde
todos os Direitos Humanos são respeitados e valorizados.
É o mundo e a sociedade do “bem-viver”, ou - à
luz da Fé - a utopia do Reino de Deus, acontecendo na história humana e cósmica
(cf. na internet o artigo “Dom Tomás, um pastor-profeta do nosso tempo”). A
vida de Dom Tomás foi realmente “uma vida a serviço da humanidade” e do mundo.
A voz do nosso irmão Tomás foi:
“uma voz que nunca quis ser sozinha,
sabia, desde os anos de chumbo:
uma voz solitária não suspende a manhã.
Quis ser uma voz entre vozes,
ergueu sua voz dentro do vasto coro dos
oprimidos:
os índios, os posseiros, os lavradores,
os retirantes da seca e da cerca
e os que se levantam contra elas,
as mulheres, os negros, os migrantes, os
peregrinos
para forçar claridades, para ensinar
amanhecer”
(Pedro Tierra. Do poema “Dom Tomás Balduino”,
03/05/14).
Tomás - fortalecidos e fortalecidas pelo testemunho
de vida que você nos deixou - suas causas (as causas dos pobres, dos indígenas,
dos camponeses, dos sem-terra, dos quilombolas, dos ribeirinhos, da “mãe terra”)
e seus sonhos, são também nossas causas e nossos sonhos.
Irmão Tomás, roga por nós!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia,
29 de abril de 2015
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