No dia 11 de maio (9
dias depois de Dom Tomás Balduino) faz um ano que outro irmão nosso muito
querido, Dom Celso Pereira de Almeida “completou a sua Páscoa”, passando para
“a vida além da morte” e mergulhando - para toda a eternidade - no mistério da
Santíssima Trindade, que é o mistério do amor infinito de Deus para conosco.
À época, em maio de
2014, eu escrevia: “o nosso irmão Celso foi um homem autêntico, transparente,
alegre, de extraordinária sensibilidade humana e radicalmente evangélico. Seu
testemunho de humildade, simplicidade, proximidade e solidariedade para com os
pobres renovou e fortaleceu a nossa esperança. Sua vida foi uma advertência aos
poderosos e uma denúncia contra toda injustiça. Como profeta de Deus, Dom Celso
tornou-se - quando necessário - defensor e advogado dos pobres, mesmo com risco
de sua vida”.
Dizia
também: “o nosso irmão Celso se relacionava com os pobres, não como objetos de
assistência, ou mesmo de ação caritativa, mas como sujeitos e protagonistas de
sua própria história. Ele frequentou a escola dos pobres, aprendeu e assimilou
sua sabedoria, que é a sabedoria de Deus. Fez-se pobre com os pobres, como
Jesus de Nazaré”.
Destacava,
ainda, outras qualidades do nosso irmão Dom Celso. “Ele era uma pessoa sempre
bem humorada. Interessava-se por tudo aquilo que os irmãos e as irmãs faziam.
Elogiava e valorizava o seu trabalho, animando a todos e a todas. Ele se
identificou com os últimos, que são os preferidos de Deus. Nunca se colocou
numa posição de superioridade, nunca quis ser mais importante que os outros,
sempre foi um irmão de caminhada, andando na frente, do lado ou atrás do seu
povo, conforme a necessidade”.
E continuava afirmando: “o nosso irmão Celso
não era um homem legalista, formal e preocupado com as exterioridades. Nos
Encontros e nas Celebrações, ele sempre tinha um sincero e profundo respeito
por tudo o que as Comunidades e seus Animadores preparavam. Quando tinha algo a
sugerir, o fazia com amor e com carinho, sem humilhar ninguém. Ele encarnou e
viveu a teologia da Igreja Povo de Deus e toda ministerial. Despojou-se de toda
forma de autoritarismo clerical”.
A
vida de Dom Celso “foi, toda ela, um testemunho evangélico de amor aos pobres.
No seu ministério de padre e de bispo, ele foi um pastor irmão, amigo e
companheiro de caminhada dos pobres, dos excluídos e de todos aqueles que não
têm voz nem vez, que são os descartados da sociedade iníqua na qual vivemos”.
O povo (sobretudo
os pobres), que conheceu e conviveu com Dom Celso, tem uma verdadeira veneração
por ele. Basta lembrar o clima de comoção que estava estampado no rosto de
todos aqueles e aquelas que, com muito carinho e sincera gratidão, participaram
das Celebrações de corpo presente em Goiânia e, de modo especial, em Porto
Nacional (Leia na internet o artigo “Dom Celso, um pastor irmão dos pobres).
A Igreja, pela qual
o nosso irmão Celso doou sua vida, é uma Igreja “em saída”, uma Igreja “com as
portas abertas”, uma Igreja que sabe “olhar nos olhos e escutar”, uma Igreja
que sabe “renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do
caminho”.
“Prefiro - diz o papa Francisco - uma Igreja
acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja
enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças.
Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro, e que acaba presa num
emaranhado de obsessões e procedimentos” (A Alegria do Evangelho - EG, 46 e 49).
O nosso irmão Dom Celso viveu tudo isso em profundidade.
Fazer
a memória de Dom Celso significa fazer a experiência de sua presença hoje. Dom
Celso vive entre nós! Ele continua renovando e fortalecendo a nossa esperança e
a nossa fé; o nosso compromisso com a Igreja pobre, para os pobres, com os
pobres e dos pobres; e o nosso sonho (o mesmo de Jesus de Nazaré) de lutar pela
sociedade do “bem-viver”, que - à luz da fé - é o Reino de Deus acontecendo na
história do ser humano e do mundo. Irmão Celso, roga por nós!
Por
fim, quero dizer com muita satisfação que, em nossa Comunidade religiosa, temos
a alegria de morar e conviver com Frei Humberto, que é irmão de Dom Celso (alguns
anos mais idoso que ele) e um homem de muita experiência e sabedoria de vida.
Que Deus o conserve!
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP)
e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
Goiânia, 06 de maio de 2015
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