Além dos três Encontros Mundiais dos
Movimentos Populares (sobre os quais escrevi diversos artigos), entre
os dias 1º e 4 de junho de 2016 aconteceu em Mariana (MG) o
“Encontro Brasileiro de Movimentos Populares em Dialogo com o Papa
Francisco”, com quase 300 participantes.
O Encontro teve o apoio e a solidariedade
do cardeal Peter K.A. Turkson, Presidente do Pontifício Conselho
Justiça e Paz (que, em nome do Papa Francisco, enviou uma Carta
muito fraterna e carinhosa) e da Arquidiocese de Mariana.
A Carta final do Encontro (do dia 4 de
junho) é uma luz para os Movimentos Populares e as Pastorais Sociais
do Brasil. Começa dizendo: “Nós, Movimentos Populares e Pastorais
Sociais reunidos em Mariana, Minas Gerais, em resposta ao chamando do
Papa Francisco para o diálogo com os que lutam por ‘terra, teto e
trabalho’, aqui viemos nos solidarizar com as famílias atingidas
pelo maior crime socioambiental provocado em 2015 pela mineração no
Brasil e alimentar nossa esperança na construção de outro mundo
possível”.
Continua relatando: “Povos indígenas,
quilombolas, pescadores, comunidades tradicionais, trabalhadores e
trabalhadoras do campo e da cidade, agentes das pastorais sociais
compartilhamos nossas experiências de lutas, dificuldades numa
sociedade tão desigual. Debatemos a opressão das forças do
capital, a fragmentação e criminalização dos Movimentos Sociais
(Populares) e as violências contra os pobres, negros, mulheres,
jovens e LGBTs. Aprofundamos nossa reflexão e partilha das formas de
resistência e luta, para enfrentar esses desafios”.
Na Carta, os Movimentos Populares clamam e
denunciam: “Clamamos junto com a Mãe-Terra, que o uso intensivo de
agrotóxicos provoca a morte de nossos povos e rios. Denunciamos que
a concentração da propriedade e o estímulo ao agronegócio geram
conflitos e violências no campo e na cidade, por isso se tornam
urgentes e necessárias a Reforma Urbana e a Reforma Agrária”.
Com muita firmeza e garra, os Movimentos
Populares declaram: “Queremos o fim da especulação imobiliária.
Apesar dos avanços na política de moradia popular, a carência por
moradia cresce a cada ano. O avanço do capital nos territórios, com
estímulo ao extrativismo mineral, deixa um rastro de destruição
ambiental, do qual o crime na Bacia do Rio Doce, provocado pela Vale
e BHP Billiton, por meio da Samarco, com a conivência do
Estado, é um dos exemplos mais terríveis. Neste momento de trevas
no país, o Encontro Brasileiro surge como uma luz. Nos últimos
anos, o modelo de desenvolvimento adotado foi favorecido pelo
contexto internacional, possibilitou avanços e garantias de direitos
sociais, mas muito lucro para o capital. Com a crise do
capitalismo mundial iniciada em 2008, este modelo se esgotou. As
forças do capital querem garantir seus interesses, mas nosso povo
vem resistindo. Tomaram o Governo Federal por meio de um golpe, com
apoio do Congresso Nacional e do Judiciário brasileiro, impondo o
modelo neoliberal derrotado por quatro vezes nas urnas”.
Os Movimentos Populares continuam
denunciando: “Dizemos não às privatizações propostas pelo
Governo interino e golpista, não ao desemprego e à terceirização
que ameaçam diretos dos trabalhadores e trabalhadoras. No Brasil, a
democracia sempre foi resultado da organização e da luta do povo.
Uma vez mais é preciso fortalecer a aliança das classes populares
(reparem: a aliança das classes populares!). Mais do que isto,
estamos desafiados a construir um novo Projeto para o país. Projeto
que além de garantir terra, teto e trabalho para todos e todas, com
justiça social, esteja em sintonia com a Mãe-Terra”.
Quanta clareza e objetividade encontramos
nas palavras dos Movimentos Populares!
Em total sintonia com os Encontros
Mundiais dos Movimentos Populares, os participantes do Encontro
Brasileiro declaram: “Nós em diálogo com o Papa Francisco,
reafirmamos o que está na Encíclica Laudato
Si’: ‘Não há duas crises
separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa
crise socioambiental. A solução requer uma abordagem integral para
combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e,
simultaneamente, cuidar da natureza’”.
Ao final, com muito realismo, os Movimentos
Populares afirmam: “Quem não
luta, está morto! Quem luta, educa!.
Com nossa fé revolucionária (reparem mais uma vez: nossa fé
revolucionária!), fortalecemos nossa esperança na caminhada e a
certeza na chegada. É preciso lutar para derrotar o golpe no Brasil,
por isso nos comprometemos a ampliar as mobilizações, fortalecendo
e diversificando os trabalhos de base, o diálogo entre os Movimentos
e ocupando as ruas. A luta imediata deve ser fermento no processo de
construção de um Projeto Popular de país”.
Concluem dizendo: “Encerramos o Encontro
no subdistrito de Paracatu de Baixo, com nossos pés na terra
devastada pela ganância do capital, e em diálogo com os atingidos
reforçamos nossa solidariedade e compromisso com a luta pela
justiça, reparação e empoderamento do povo da Bacia do Rio Doce”.
Enfim - afirmam
os participantes do Encontro - queremos
“manter viva a memória e o compromisso de cuidar bem da nossa
Mãe-Terra como Casa Comum de todos”. E declaram solenemente: “ao
som dos sinos de Mariana, ecoando a dor dos Atingidos e Atingidas,
clamamos por Justiça!”.
A luta dos povos do campo, das águas e das
florestas continua! Sejamos solidários!
Fr.
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
02 de agosto de 2017
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