Jesus de Nazaré quis e
quer uma Comunidade de seguidores e
seguidoras que seja uma Comunidade
de irmãos e irmãs em comunhão.
Para se referir a essa
Comunidade - o Povo de Deus da Nova Aliança - os autores do Novo Testamento
adotaram o termo Igreja (em grego:
Ekklesia), que quer dizer Assembleia: Comunidade reunida. Neste sentido, Jesus
- dirigindo-se a Pedro - diz: "Você é Pedro e sobre esta pedra construirei
a minha Igreja" (Mt 16,18). (Observamos que - com o passar do tempo - o
termo Igreja adquiriu também o significado de ‘templo’: lugar de oração e de culto).
Portanto, desde a época
em que foi escrito o Novo Testamento, a Comunidade dos seguidores e seguidoras
de Jesus de Nazaré começou a ser chamada Igreja.
Trata-se, porém, de uma Igreja de irmãos
e irmãs em comunhão e não de uma Igreja
de classes (clero, religiosos/as, leigos/as). Por ‘comunhão’ entende-se,
pois, ‘comunhão eclesial’ e não ‘comunhão
hierárquica’ (que não é verdadeira comunhão).
Essa Igreja de irmãos e
irmãs em comunhão reconhece - na prática e não só na teoria - que todos os seres
humanos - homens, mulheres e pessoas de outras orientações sexuais (integrantes
da Comunidade LGBTQIA+) - são iguais em dignidade e valor. "Deve-se reconhecer cada vez mais a
igualdade fundamental entre todos os seres humanos" (Concílio Vaticano
II. A Igreja no mundo de hoje - GS 29), criados à imagem e semelhança de Deus (Cf.
Gn 1,26-27). “Reina verdadeira igualdade quanto à dignidade e
ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo"
(Concílio Vaticano II. A Igreja - LG 32). "A razão principal da dignidade
humana consiste na vocação do ser humano para a comunhão com Deus" (GS
19). “É comum a dignidade dos filhos e
filhas de Deus batizados e batizadas, no seguimento de Jesus, na comunhão
recíproca e no mandamento
missionário” (Exortação Apostólica Pós-sinodal “Ecclesia in America - EA
44). “Todos e todas são chamados à santidade (perfeição humana, felicidade) e
receberam a mesma fé pela justiça de Deus” (LG 32). "O mistério do ser
humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado. (…)
Cristo manifesta plenamente o ser humano ao próprio ser humano e lhe descobre a
sua altíssima vocação" (GS 22).
Nessa Igreja de Jesus de
Nazaré, todas as relações são de comunhão entre irmãos e irmãs. Nelas,
não há espaço para relações de
dependência, submissão, subordinação, subserviência, dominação, inferioridade
ou superioridade.
Nas relações de comunhão entre
irmãos e irmãs, todos e todas - na
diversidade dos carismas (dons) e dos ministérios (serviços) - são sujeitos
conscientes e responsáveis de suas opções, atitudes e atos. “A cada um e a
cada uma é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor. 12,7).
Sabemos, porém, que a
Igreja (pessoas e Instituição) - que é no mundo com o mundo, que é mundo - é
uma Igreja divina e humana, santa e pecadora, ao mesmo tempo. No decurso da
história, a Igreja se deixou influenciar pela sociedade imperial, feudal e
capitalista, e incorporou - em sua própria estrutura social - elementos (pompa,
luxo, poder, triunfalismo e outros) que não têm nada a ver com o Evangelho: a
Boa Notícia de Jesus de Nazaré. Para tomar consciência disso, basta fazer a
memória de como Jesus viveu e de como as primeiras Comunidades cristãs viveram.
Por causa desses desvios
- farisaicamente legitimados e sacralizados -
“desenvolvendo perspectivas já presentes no Concílio, mas ainda não
explicitadas, vários teólogos - a começar por Congar - têm proposto pensar a estrutura social da Igreja em termos
de 'comunidade - carismas e ministérios'
(e não em termos de ‘hierarquia - laicato’). O primeiro termo, 'comunidade' (ou o teologicamente mais
denso 'comunhão'), inclui tudo o que
há de comum a todos os membros da Igreja; e a dupla 'carismas e ministérios' inclui tudo o que positivamente os
distingue. É esta, aliás, a perspectiva
do Novo Testamento, onde nunca aparece o termo 'leigo' ou ‘leiga’ (e -
podemos acrescentar - nem o termo ‘clero’), mas sublinham-se os elementos comuns a todos os cristãos e cristãs e,
ao mesmo tempo, valorizam-se as
diferenças carismáticas, ministeriais e de serviço. Neste sentido, os
termos que designam os membros do Povo de Deus acentuam a condição comum a
todos os renascidos pela água e pelo Espírito: 'santos/as', 'eleitos/as', 'discípulos/as', 'irmãos/ãs'” (CNBB.
Missão e Ministérios dos Cristãos Leigos e Leigas - 62, 1999, nº 105).
Por fim, é só o amor que
- pelo seu grau de profundidade - pode dar um sentido maior ou menor (não, mais
importante ou menos importante) à vida humana e à vida da Irmã Mãe Terra, Nossa
Casa Comum.
Essa é a Igreja que as CEBs querem ser! Essa é
a nossa Igreja!
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
25 de julho de 2021
O artigo foi publicado originalmente em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário