Na madrugada do dia 12 de janeiro último, faleceu (“completou sua Páscoa”) aos 80 anos o professor emérito da UFG Geraldo Faria Campos (Geraldo “Alemão”), que - depois de velado pelos familiares e por muitas outras pessoas que tinham por ele uma grande admiração - foi sepultado às 19 horas no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia.
Por diversas razões, nestes últimos anos tive poucas oportunidades de encontrar o professor Geraldo e - devido a uma falta de atenção minha involuntária - não estive presente no dia de sua partida para a casa do Pai. Sinto muito! Geraldo, me perdoe! Certamente, o dia do seu velório foi de muita dor, mas também de muita esperança para os familiares, os amigos e amigas e todos aqueles e aquelas que tiveram a graça de conhecer e conviver com você.
Manifesto agora publicamente (logo que for possível, o farei também pessoalmente) a minha mais profunda e sincera solidariedade de irmão e amigo à esposa Aparecida Curado Faria Campos (também professora), aos três filhos e aos cinco netos. Peço a Deus que todos e todas vocês - mesmo sofrendo (o que humano) - experimentem muita paz e serenidade, acreditando na vida. “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá (Jo 11, 25-26).
Geraldo - sempre sorridente, brincalhão e otimista - era um homem de fé autêntica, um educador cristão (que respeitava e valorizava o diferente), um agente de pastoral, um verdadeiro seguidor de Jesus de Nazaré. Com as palavras do Papa Francisco, podemos dizer que Geraldo era “a alegria do Evangelho” em pessoa e - não tenho dúvidas - um esposo e pai de família santo (a santidade é a perfeição humana dentro do Plano de Deus).
Como afirma a poetiza Cora Coralina, “ninguém pode acrescentar dias a sua vida, mas pode acrescentar vida aos seus dias”. Foi isso o que Geraldo fez: acrescentou vida e sempre mais vida aos seus dias. O testemunho de Geraldo nos edificou - e continua nos edificando - a todos e a todas.
A UFG - em Nota na qual decretou luto oficial pelo falecimento do professor Geraldo - recorda-nos: “Professor de diversas gerações, Geraldo Faria é reconhecido como um verdadeiro mestre focado não só nos progressos acadêmicos, mas na formação integral dos seus alunos, oportunizando e buscando desenvolver neles habilidades como o gosto literário, o estilo de escrita e, sobretudo, a análise, o espírito crítico, a capacidade de reformular o pensamento e de criar novas ideias. A dedicação incansável aos educandos - sempre muito exigidos na produção de textos e leituras - acabava por extrair-lhes o melhor”. E continua: “Dono de uma trajetória marcante, tanto para os ex-alunos quanto para os colegas e todos que com ele conviveram, impulsionado por um tipo de inquietude, sobretudo para despertar a conscientização sobre as injustiças sociais, o lugar em que estamos inseridos nesse contexto e sobre as possibilidades de fazer diferente. Tudo isso, muito conectado à realidade do aluno”.
Geraldo foi educador e filósofo da educação não só no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae) da UFG (antigo Colégio de Aplicação), como professor de língua portuguesa por 30 anos, mas em todas as situações históricas concretas de sua vida.
No dia 15 de março de 2013, na solenidade de entrega do título de Professor Emérito, o seu colega aposentado, professor Paulo Marcelino, expôs os motivos pelos quais Geraldo Faria foi homenageado. “Mesmo sem títulos de pós-graduação, tão importantes para a academia, mostrou a diversos professores e estudantes uma nova forma de ensinar a língua portuguesa. Ele mostrou que a educação acontece quando atua o educador e não a instrução” (https://www.jornalufgonline.ufg.br/n/45430-professor-emerito-ao-mestre-geraldo-faria).
Para o jornalista Elder Dias, Geraldo era “o professor que fazia o mundo da leitura virar leitura de mundo. ‘Pensar dói’, costumava dizer. Sua forma de ensinar português e sua atitude humanizadora na relação com seus alunos o fizeram mestre inesquecível de gerações”.
Para a jornalista Ana Cláudia Rocha (ex-aluna), “há 80 anos, Deus enviou um anjo para tentar melhorar a Terra. Geraldo Faria Campos foi muito mais do que professor de português, foi um mestre de vida, um ser iluminado que transformou a vida de todos com quem conviveu”.
Para o assessor jurídico (MP-GO) Carlos Stuart Palma (ex-aluno), “Geraldo foi o mestre despretensioso que, mais do que ensinar, plantava em nós o germe da rebeldia, do questionamento. (…) Foi ele quem nos infectou com a incurável doença de amor aos livros e, sobretudo, nos transformou em contempladores de ideias” (https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/o-professor-que-fazia-o-mundo-da-leitura-virar-leitura-de-mundo-114705/). Poderíamos continuar citando inúmeros testemunhos de ex-alunos e ex-alunas, mas o nosso espaço não permite.
Termino com um depoimento pessoal. Além de termos sido colegas na UFG em áreas de ensino diferentes, mas complementares (ele, em educação e eu, em filosofia), de 1970 - quando nos conhecemos e nos tornamos amigos - até 1985 (ano da morte do arcebispo de Goiânia Dom Fernando Gomes dos Santos) trabalhamos juntos na pastoral da Arquidiocese de Goiânia (que - à época - era considerada por muitos e muitas uma referência em todo o Brasil na caminhada de renovação pós-conciliar) com o nosso amigo comum Dom Fernando, pastor e profeta, “pai da Pátria Grande”.
Quantas vezes participamos de reuniões e encontros pastorais juntos! No meu serviço de coordenador da pastoral, quantas vezes convidei o Gerando para dar palestras e conversar com o povo nas comunidades e, sobretudo, nos encontros da pastoral da juventude, da pastoral familiar e das pastorais sociais. Pela autenticidade de via, sua palavra e testemunho edificavam a todos e todas, deixando marcas profundas na vida das pessoas.
Geraldo está presente! Ele vive entre nós! “Creio na comunhão dos santos e santas”! Geraldo, ore por nós!
Fr.
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
08 de fevereiro de 2018
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