terça-feira, 19 de novembro de 2024

CEBs: rostos diferentes, mas a mesma identidade

 


Com todo respeito e estima que tenho pelos meus Irmãos Pe. Manoel Godoy que levantou o assunto e Pedro A. Ribeiro de Oliveira que o desenvolveu (cf. https://portaldascebs.org.br/um-novo-jeito-de-ser-ceb/ - 24/08/24), não há a necessidade - no meu entender - de encontrar “um novo jeito de ser Comunidade Eclesial de Base” (CEB). Esse “novo jeito” não existe. Explico.


·     As CEBs sempre tiveram, têm e terão rostos diferentes, conforme as realidades históricas nas quais elas estiveram, estão e estarão - consciente e criticamente - inseridas. É nessas realidades que as CEBs nasceram, nascem e nascerão; cresceram, crescem e crescerão, cumprindo sua missão libertadora, que é a continuação da missão de Jesus de Nazaré.


·   As CEBs - com rostos diferentes - sempre tiveram, têm e terão a mesma identidade: a identidade evangélica.

Por terem rostos diferentes, as CEBs foram, são e serão sempre um “novo jeito de ser Igreja”

Por terem identidade evangélica, as CEBs foram, são e serão sempre um “antigo jeito de ser Igreja”: o “jeito” de ser das Primeiras Comunidades Cristãs, o “jeito” de ser de Jesus de Nazaré.

Atualmente, as CEBs - mesmo quando são tratadas com indiferença e desinteresse pelo Poder Eclesiástico Clerical e, às vezes, obrigadas a viver nas Catacumbas - estão vivas e não morrem, porque o Espírito Santo está com elas. É por isso que as CEBs - como ideal e meta a ser perseguida - são também um “novo jeito de toda a Igreja ser”.

Pela minha experiência de mais de cinquenta anos de convivência com o Povo de Deus nas CEBs e com suas Pastorais Socioambientais, dou testemunho que nas CEBs temos muitos irmãos e irmãs, cristãos e cristãs que são verdadeiros santos e santas.

Infelizmente, a Igreja Católica como Instituição - no decurso de sua história - cedeu à tentação do Poder (ao contrário de Jesus que a venceu) e se tornou uma Igreja Estado de três classes: Leigos/as (a grande maioria), Religiosos/as e Clero (diáconos, presbíteros e bispos) com muitos paramentos imperiais e títulos honoríficos (Monsenhor, Excelência, Eminência e outros): uma Igreja piramidal, hierárquica e clerical, que nada tem a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré.

Atualmente, as CEBs estão sendo propositalmente esquecidas pelo Poder Eclesiástico, que quer um modelo de Paróquia e de Diocese piramidal e clerical, contrário ao ensinamento do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín. 

Diante dessa realidade, precisamos tomar posição, denunciando profeticamente esse comportamento farisaico da Igreja Instituição e defendendo o jeito de ser Igreja das CEBs, que é o jeito de ser Igreja conforme o Evangelho: nosso jeito de ser Igreja, com a certeza que o Espírito Santo está do nosso lado.

Há alguns anos que a Igreja no Brasil, diplomaticamente, não fala mais de CEBs, mas de Comunidades Eclesiais Missionárias. Ora, será que a Igreja não sabe ou - o que é pior - finge de não saber que as Comunidades Eclesiais, para serem Missionárias, têm que ser de Base?

(Veja: https://freimarcos.blogspot.com/search?q=Comunidades+Eclesiais+de+Base+mission%C3%A1rias            

ou: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/597412-comunidades-eclesiais-de-base-missionarias e outros sites)

Nos Documentos atuais da Igreja, os Documentos da Conferência de Medellín não são lembrados nem na Lista de Siglas. Ora, para a Igreja do Brasil e da América Latina, esquecer a Conferência de Medellín, significa esquecer o Concílio Vaticano II.

Apesar de tudo isso, “as CEBs continuam sendo um ‘sinal da vitalidade da Igreja’ (Redemptoris Missio - RM 51). Os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem na escuta e na partilha da Palavra de Deus. Buscam relações mais fraternas, igualitárias e inclusivas. Superam a cultura machista e o clericalismo. Celebram os mistérios cristãos e assumem o compromisso de transformação da sociedade e a defesa da criação, a Nossa Casa Comum” (Carta do 14º Intereclesial das CEBs).

Lembro mais uma vez: nos ensinamentos da Conferência de Medellín, a CEB (Comunidade de Fé, Esperança e Caridade) “é o primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pelo valor da fé e sua expansão, como também do culto, que é sua expressão. Ela é, pois, célula inicial da estrutura eclesial e foco de evangelização e, atualmente, fator primordial da promoção humana e do desenvolvimento”. A CEB é uma “Comunidade local ou ambiental, que corresponde à realidade de um grupo homogêneo e que tenha uma dimensão tal que permita o trato pessoal fraterno entre seus membros” (Medellín, XV, 10).

A Paróquia passa a ser “um conjunto pastoral unificador das Comunidades de Base” (Ib. 13). Reparem: Comunidades de Base! (Por estar falando da Igreja, a palavra “cristã” ou “eclesial” está subentendida).

Se a Igreja do Brasil - dando o mau exemplo - não se sente obrigada a aceitar os ensinamentos da Conferência de Medellín, nós também - como cristãos e cristãs - não nos sentimos obrigados a aceitar os ensinamentos da Igreja do Brasil.

Aqueles e aquelas que querem acabar com a Igreja Povo de Deus e, mais especificamente, com as CEBs, lembrem que estão lutando contra o Espírito Santo.

Como foi dito no 1º Intereclesial (6-8/01/75) - e continua válido - as CEBs são “uma Igreja que nasce do Povo pelo Espírito de Deus”. E, se nasce do Povo pelo Espírito de Deus, não morre nunca.

Por fim, as CEBs são uma Igreja Pobre, para os Pobres, com os Pobres e dos Pobres. Elas são a Igreja de Jesus de Nazaré. Todos e todas somos convidados e convidadas a entrar nessa Igreja, inclusive os ricos. 

O Evangelho registra dois casos de encontro de Jesus com ricos: Zaqueu e mais um do qual o Evangelho não diz o nome. Na presença de Jesus, eles sentem-se obrigados a tomar uma decisão (não ficam “em cima do muro”, como se costuma dizer).

Zaqueu, encontrando-se com Jesus, ficou de pé, e disse: “A metade dos meus bens, Senhor, eu dou aos Pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais” (Lc.19,8). O outro homem rico, dialogando com Jesus, disse-Lhe que observava os mandamentos desde jovem. Diante dessa afirmação, “Jesus olhou para ele com amor e disse: ‘Falta só uma coisa para você fazer: vá, venda tudo, dê o dinheiro aos Pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me’. Quando ouviu isso, o homem ficou abatido e foi embora cheio de tristeza (ao menos naquele momento), porque ele era muito rico” (Mc 10,21-22).

O caminho de Jesus - que as CEBs sempre seguiram, seguem e seguirão - está aberto a todos e todas.

O convite para entrar nesse caminho é de Jesus. A resposta é nossa e não tem meio-termo. Deve ser radical.


Marcos Sassatelli  Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 18 de novembro de 2024

                                                                                                                                                                      História das CEBs - Portal das CEBs

  


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