“Direitos Humanos não se pede de joelhos,
exige-se de pé” (Dom
Tomás Balduino)
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) tem
mostrado, sobretudo na capital paulista, um grande potencial de organização,
mobilização e pressão política. Trata-se de um Movimento Popular que tem como
bandeira central (além de outras) a luta pelo direito à moradia digna, que é um
dos direitos fundamentais de toda pessoa humana. O MTST merece todo nosso apoio
e solidariedade. Espero que ele adquira, sempre mais, uma dimensão nacional,
integrando as grandes e médias cidades, onde o problema da moradia é gritante.
Quando
li, na mídia, a notícia que a presidenta Dilma quer incluir o MTST em um dos
braços - chamado de “entidades” - do Programa “Minha Casa, Minha Vida”, fiquei
contente. É uma modalidade na qual o Executivo libera recursos, considerados
suficientes pelo Movimento, para atender seus integrantes no curto e médio
prazos. Nesse caso, a conquista é do Movimento e não somente de um sem-teto
que, individualmente, se candidata a uma casa do Programa (e ninguém sabe se e
quando vai sair). Isso mostra a força política de um Movimento Popular
organizado. Parabéns ao MTST.
Nem
tudo, porém, é louvável nessa história. Tomando conhecimento das razões que
levaram o Governo Federal a atender às reivindicações do Movimento, fiquei
profundamente indignado. Trata-se de um exemplo típico de oportunismo político
governamental desavergonhado. É de arrepiar! Precisamos manifestar, com
veemência, o nosso repúdio a esse tipo de prática política.
Como
foi amplamente divulgado na mídia nacional, a Dilma, com a maior cara-de-pau,
disse (reparem bem!) que tomou a providência de incluir o MTST no Programa
“Minha Casa, Minha Vida” para neutralizar protestos e os consequentes danos à
imagem do Governo Federal em meio à Copa do Mundo. Não é, portanto, o
reconhecimento do direito à moradia digna, como direito humano fundamental, que
levou a Dilma a tomar essa atitude, mas um motivo meramante oportunista e politicamente
interesseiro. Que vergonha Dona Dilma!
No
dia 4 do mês corrente, o líder do MTST, Guilherme Boulos, reuniu 12 mil pessoas
em ato público diante do Estádio Itaquerão, em São Paulo. Entre as exigências
do Movimento está a desapropriação de uma área ocupada por 4 mil famílias,
chamada de Copa do Povo, perto do Estádio, palco de abertura da Copa.
No
dia 11, o Movimento organizou - começando na Avenida Paulista e terminando na
frente da Prefeitura de São Paulo - um protesto, chamado “Marcha por Moradia
Digna e Contra os Despejos”, pedindo soluções habitacionais para os Governos
Municipal, Estadual e Federal. O protesto reuniu milhares de pessoas (10 mil,
segundo os organizadores), que vivem em 12 Ocupações. Um dos slogans do MTST é
“sem-teto de todo o mundo, uni-vos”.
O
Governo, sabendo que as manifestações e os protestos prejudicam - sobretudo em
meio à Copa - a sua imagem diante do mundo, estuda comprar o terreno da
Ocupação Copa do Povo, atendendo à reivindicação do MTST. Mais uma motivação oportunista!
Mesmo
com toda essa sem-vergonhice despudorada do Poder Público, o MTST mostra
claramente que o Governo tem medo de um Movimento Social Popular organizado e
atuante, porque atrapalha seu projeto político. Daí a necessidade de cooptar o
Movimento ou - não conseguindo - de criminalizá-lo.
Que
saudade (sem querer cair no saudosismo inoperante) do tempo em que o PT era
Partido dos Trabalhadores! Que saudade do tempo em que - para se filiar ao PT -
precisava participar ativamente de um núcleo de base! Era o próprio núcleo que
aprovava ou não a filiação de um novo membro. Não havia filiações conchavadas
na cúpula do partido, atendendo a interresses políticos e econômicos duvidosos.
Que saudade do tempo em que o PT só permitia alianças com forças políticas do
campo democrático popular! Que saudade do tempo em que o candidato a governador
de Goiâs pelo PT era um professor comprometido com a causa do povo e o
candidato a vice, um lavrador militante!.
Pessoalmente
- por ser religioso e achar que a minha missão é outra - nunca me filiei ao PT,
mas sempre acompanhei e dei total apoio ao novo jeito de fazer política do
partido, por achar que esse novo jeito abria caminhos para fazer acontecer um
projeto político alternativo, que é o Projeto Popular. Que decepção!
Hoje,
o PT não acredita mais em mudança de sistema ou em mudanças estruturais (como
exemplo, basta ver o tipo de alianças que o partido faz). O máximo que o PT no
governo realiza são pequenas reformas (como “prêmios de consolação” para os
trabalhadores) dentro do sistema vigente, que são ambíguas: de um lado, aliviam
situações de miséria (o que é positivo); de outro lado, servem para fortalecer
o sistema capitalista neoliberal (enganando o povo e mantendo-o submisso aos
interesses econômicos dos poderosos).
Essa
é a realidade, mas a esperança nunca morre. Novos sinais promissores
(mobilizações, protestos e outros) irrompem por todo lado. O MTST é um desses
sinais. Precisamos aproveitar melhor os tempos fortes de reflexão e luta, como
a Semana Social Brasileira, o Grito dos Excluídos/as, a Assembleia Popular, o
Plebiscito Popular e outros. Precisamos, também e sobretudo, rearticular os Movimentos
Sociais Populares (a exemplo do MTST) com a participação ativa de jovens
(“Juventude que ousa lutar, constrói o Projeto Popular”!), criar Sindicatos de
Trabalhadores autênticos e suscitar Partidos Políticos Populares.
São
eles e seus aliados que fazem acontecer o Projeto Popular. Esse projeto só se
torna realidade “com a luta pela construção de uma democracia plena e real, que
socialize com qualidade as terras, a água, a energia, os meios de comunicação,
o acesso à saúde, à educação, à moradia, ao transporte e a tantos outros
direitos. Isso, somado à luta pela soberania, onde os povos tomem o rumo do
país em suas mãos e onde o desenvolvimento seja ambientalmente sustentável e
voltado ao interesse do povo” (Jornal do Grito dos/as Excluídos/as, abril 2013,
p. 3).
Vamos
à luta! A união faz a força! “Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer!”
(Geraldo Vandré).
. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 12 de junho de 2014
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